São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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LUÍS AUGUSTO FISCHER

O autor
O maior entre os dois é Machado de Assis, considerando duas variáveis associadamente.
Uma: obra de primeiro plano em matéria de invenção, num manejo extraordinário do repertório do gênero (no caso dele, dois gêneros, romance e conto, senão três, o ensaio de tipo inglês, ou a crônica, numa denominação brasileira, menos forte), o que o torna um artista-crítico, com hífen, isto é, um artista moderno.
E duas: obra com capacidade de representar e pensar a experiência de seu tempo (o século 19) e seu lugar (o Brasil, a periferia americana do Ocidente) com grande profundidade e extensão.
Guimarães Rosa, com sua maravilhosa criação, também inventiva e representativa de seu lugar, representa pouco de seu tempo -em sua obra, o que está em causa é o que restou depois do furacão da modernização industrial.

A obra
Isoladamente, as "Memórias Póstumas de Brás Cubas", porque são um marco da virada em direção à maturidade do autor, abrindo caminho para outras grandes realizações e superando por dentro os limites anteriores.
Porque mantêm sua vivacidade, sua capacidade de provocação ao leitor para muito além de seu tempo, permanecendo como texto forte.
E porque são fruto de uma negociação complexa entre a experiência imediata, da vida do autor e da vida brasileira em sentido amplo, e a tradição do gênero romance, num procedimento que emancipa o debate local e liberta o autor (e o leitor) das constrições nacionalistas sem perder de vista a tarefa ontológica do romance enquanto tal -isto é, enquanto forma de relato da experiência da vida moderna ali onde ela acontece, neste caso o Rio de Janeiro.


LUÍS AUGUSTO FISCHER é professor de literatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autor de "Literatura Brasileira - Modos de Usar" (L&PM).


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