São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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CINCO RAZÕES POR QUE O BRASIL VAI PARA A FRENTE

1. A economia brasileira é internacionalizada

Indústria, comércio, finanças, serviços -não há setor da economia brasileira em que não haja presença importante de interesses estrangeiros.
Na prática, como se vê na crise atual, essa dependência é também uma interdependência, pois os capitais globais afinal não quiseram correr o risco de uma quebra completa da economia do país.
Ainda que de modo desigual e perverso, o Brasil é parte de um sistema único e internacionalizado.
2. Os mercados são grandes, diferenciados e sofisticados
A outra face da concentração de renda e da desigualdade regional, num país de grandes dimensões, foi o desenvolvimento de nichos diferenciados, alguns extremamente sofisticados. Ao contrário de países que seguiram destinos unifuncionais (monoculturas exportadoras, centros financeiros e comerciais, plataformas de indústrias montadoras), a estrutura econômica brasileira é um caleidoscópio com peças de todos os tamanhos, setores, focos mercadológicos e vocações empresariais. Essa diversidade é um traço altamente positivo e pode ser a base de novos investimentos.

3. Há uma elevada capacidade de absorção de novas tecnologias
Da televisão à Internet, passando pelos centros de excelência em medicina, bioengenharia, produção de software e pesquisa nuclear, o Brasil está entre os poucos países em desenvolvimento com capacidade para dar ou participar de saltos tecnológicos em várias áreas.
Ou seja, embora dependente, a economia brasileira não está condenada a importar tudo o tempo todo. O sistema educacional foi canibalizado e as universidades estão em crise, mas nos últimos anos foram implementados sistemas de avaliação que são o ponto de partida para a evolução do sistema de ensino e pesquisa.
4. O país tem uma riqueza cultural quase única
A diversidade e a ampliação de escalas da indústria cultural brasileira são reconhecidas mundialmente, ainda que as conquistas nessa área sejam esporádicas. Mas o Brasil marca a cultura mundial, serve como ponto de referência e fonte de renovação.
Num mundo saturado pela massificação, as novas tecnologias começam a abrir espaços para alternativas de produção e segmentação do gosto. Artistas e produtores brasileiros podem ocupar esses espaços.
5. O Estado ainda mantém traços desenvolvimentistas
Instituições públicas estratégicas, apesar dos pesares, não foram totalmente destruídas pelas crises econômicas e pelos surtos de liberalismo irresponsável das elites brasileiras. Estão aí, com enorme potencial de fomento ao desenvolvimento, um BNDES e um Banco do Brasil, por exemplo. A criação do Ministério do Desenvolvimento, visto por muitos como puro espetáculo político, é também um esforço de continuidade.
Entre os latinos, o Brasil é de longe o país que menos cedeu aos exageros da desestatização. Apesar dos riscos da burocratização, da corrupção e da proteção a interesses duvidosos, não existe registro de salto desenvolvimentista no século 20 sem o apoio decidido de organismos estatais de desenvolvimento. E a diplomacia econômica brasileira ainda resiste bravamente às pressões por uma nova rodada de liberalização comercial.
(GILSON SCHWARTZ)



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