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+ teatro
Me dá um dinheiro aí
Nova peça de David Mamet, "Novembro" sugere a atual campanha eleitoral nos EUA ao pôr em cena um presidente corrupto
CARYN JAMES
O blog de David Mamet para promover sua comédia
"November"(novembertheplay.com), em cartaz na
Broadway, é uma experiência
intrigante, embora um pouco
desanimada. Escrita na voz do
personagem principal, um presidente gago que tenta fazer
chantagem e comprar sua reeleição, o blog às vezes ecoa a peça off-Broadway de Mamet de
2005 "Romance", um ataque
tardio à correção política.
"Novembro" é um Mamet
atípico: extremamente engraçada, mas relativamente sem
acidez.
Mas não vamos perder tempo indagando onde foi parar a
ambição artística de Mamet. O
mais intrigante é a maneira como sua abordagem cambiante
da política evoluiu na última
década, de uma maneira que
reflete os pressupostos cada
vez mais sombrios dos EUA.
Em 1997 a peça de Mamet
"Mera Coincidência" ["Wag
the Dog"] retirou o véu de um
processo político moldado pela
manipulação; hoje, "Novembro" se constrói sobre a premissa de que o público já tem a
visão desobstruída.
A peça pode parecer um pouco ligada à atual campanha política, com sua retórica geral de
mudança e esperança, mas as
duas não são contraditórias. A
campanha da vida real é um
modo de abordar o ceticismo
sobre a política entranhado no
público; "Novembro" é outra.
Extorsão
Mamet sabe criar frases cômicas, mas as piadas são engraçadas por um motivo mais
substancial: quando foi a última vez que alguém entrou em
pânico devido a um alerta laranja, ou duvidou que houvesse
conveniência política por trás
da criação de alarmes de terrorismo codificados em cores?
"Novembro" nos dá um presidente sem ideologia, que se
comporta do modo como o público suspeita que os políticos
façam a portas fechadas: mendiga dinheiro de doadores, tenta extorquir o lobby dos criadores de perus. A comédia só funciona porque Mamet joga com
os pressupostos do público sobre essa venalidade.
Mamet tem estado em evidência recentemente, demonstrando fortes instintos pop. Ele
criou e às vezes redige o programa da CBS "The Unit", uma série de ação surpreendentemente genérica sobre um esquadrão militar em missões secretas; ele fez comerciais para a
Ford. Mais tipicamente, escreveu e dirigiu o filme "Faixa Vermelha" ["Redbelt"], um drama
sobre um mestre de jiu-jítsu
enganado por produtores de cinema, que será lançado em
abril nos EUA.
E por que não deveria ganhar
algum dinheiro, sobretudo
quando "Romance", sua última
peça realmente artística, parecia tão desligada de seu momento? Uma comédia de tribunal com um advogado judeu, um promotor gay e vários desajustados sociais foi um lapso às
vezes inteligente que se esforçava para causar indignação.
Cinismo do público
Em 2005 os EUA não estavam mais sob as garras da correção política, e os dias em que
Mamet podia facilmente atirar
uma granada no debate público
-como fez, em 1992, com
"Oleanna", sobre assédio sexual- tinham sido substituídos
pela cultura do qualquer-coisa-serve da internet.
Um vestígio de nostalgia dos
dias dos temas fáceis e incendiários permanece em "Novembro", quando a redatora de
discursos lésbica, Bernstein,
tenta fazer o presidente realizar uma cerimônia de casamento para ela e sua parceira.
Mas a trama do casamento gay
parece um tema frágil perto do
interesse tópico de "Oleanna".
O chefe de gabinete, que
compartilha o cinismo do público, é o personagem mais vital
em cena. Ele incentiva o presidente a trair Bernstein, dizendo: "Parte do peso de comandar
está no fato de que você tem de
vender o outro cara". Mamet
nos lembra que na vida tudo
tem a ver com comprar e vender. Aqui podemos vê-lo em
seu momento mais brilhante e
também mais comercial.
"Novembro", embora superficial, expõe as crenças e os temores do país e ajuda a explicar
por que este momento político
é tão marcado por gritos de esperança e mudança.
A íntegra deste texto saiu no "New York Times".
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .
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