São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007 |
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Unidos para todo o sempre
Para a psicóloga Cornelia Brentano, idade, dinheiro e educação explicam por que os EUA têm hoje a taxa mais baixa de separação desde 1970
SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON
Nos últimos dias, nos EUA, uma notícia surpreendeu os conservadores e deixou os liberais indignados. Veio de levantamento feito pelo Censo, em parceria com o equivalente local ao Ministério da Saúde norte-americano: o número anual de divórcios mais recente é o mais baixo desde a década de 1970. FOLHA - Dois livros e vários estudos depois, como a sra. responde à pergunta "Por que as pessoas se divorciam"? CORNELIA BRENTANO - Se você interpretar os números, um dos principais motivos apontados pelas pessoas que se divorciam é a idade com a qual se casaram. Quanto mais novo você se casa, pelo menos nos EUA, mais probabilidade há em terminar divorciado. Creio que é porque você sabe menos da vida, menos sobre o que é importante para você, quais são seus valores, como você será em dez anos. As pessoas mudam e, muitas vezes, em direções diferentes. Outro motivo é a origem. Não estou julgando, mas falando aqui de tendências de grandes grupos. Quem se casa com pessoas da mesma origem social, religiosa, étnica e de educação tem índice maior de sucesso. Geralmente, quanto maiores as diferenças, menores as chances de os casamentos durarem. Outro grande fator: valores diferentes. A frase popular de que opostos se atraem pode ser verdade no início, mas as diferenças que a princípio pareciam interessantes se tornam ameaçadoras quando você tem de viver com elas o tempo todo. Outro ainda é econômico. Quanto menos dinheiro tem o casal, maior o índice de estresse, de brigas, portanto de instabilidade. É o fim de outro mito, "nós não precisamos de nada, só de um ao outro". Isso é apenas um ditado popular. Ser pobre é geralmente estressante e não é bom para o casamento. Por fim, as escolhas. Muitas pessoas parecem se deixar levar ao casamento sem pensar muito. Pensam mais antes de comprar um carro ou eletrodoméstico do que antes de casar. Parece que "escorregam" para o casamento. Se as pessoas tomassem decisões mais conscientes antes de casar, prezariam mais o casamento e encarariam o divórcio como a última opção. É o que vi em anos de pesquisa. FOLHA - Quais os motivos principais para o declínio no número de divórcios nos EUA? BRENTANO - As pessoas não se casam tanto quanto nos anos 80, o casamento é menos popular do que costumava ser. Se menos pessoas se casam, menos se separam. Outro fator é que os casados estão mais satisfeitos do que há 40, 50 anos, e os que não estão se mostram mais dispostos a fazer com que o casamento funcione. FOLHA - E qual é a conseqüência? BRENTANO - Se essa tendência continuar, como parece que vai, vamos ver um declínio ainda maior nas taxas de divórcio nos próximos anos. As pessoas estão se casando mais velhas, portanto provavelmente mais educadas, portanto provavelmente mais conscientes. Além disso, muitos dos chamados "filhos do divórcio" cresceram, estão se casando eles próprios e querem ter um compromisso maior com o seu casamento do que julgam que seus pais tiveram, não querem que seus filhos tenham a mesma experiência que eles. Ou seja, não é só um fato, mas uma combinação de fatos. FOLHA - Ao mesmo tempo, de acordo com o mesmo estudo, o número de filhos de mães solteiras está atingindo números recordes. Há alguma relação entre essas duas tendências? BRENTANO - É difícil dizer. Mas pode ser porque há mais pessoas do que nunca coabitando, em vez de se casando. Nos EUA, de dez crianças que nascerem hoje, quatro serão filhas de pais não-casados. Há lugares em que essa proporção é de oito para dez. Há também a questão social. Uma mulher solteira ter filhos hoje é muito mais aceito socialmente do que antes, não só nos EUA mas também no Brasil. Outro motivo é que o casamento não é mais visto como algo que deve ser feito, não é mais encarado como um dos fatos da vida, como nascer, crescer, morrer. Há ainda muita gente que valoriza o casamento, como falamos, mas é muito mais uma opção de vida, digamos, do que uma obrigação social. Nos EUA, ter filhos fora do casamento era altamente estigmatizante, mas não é mais, pelo menos de modo geral. A religião também não é mais tão importante como já foi, então as restrições são menos importantes. As mulheres sentem menos necessidade de ser casadas com o pai de seus filhos apenas para que ele provenha uma renda, por exemplo. Antigamente, isso não seria uma opção, pois as mulheres eram dependentes economicamente dos homens. Texto Anterior: Divórcio aos 30: Ruptura sem culpa Próximo Texto: Massachusetts é Estado com a taxa mais baixa Índice |
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