São Paulo, domingo, 26 de novembro de 2006

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Adolf, o astro virtual

Animação com caricatura do ditador alemão é sucesso de público na web, mas é censurada nas TVs

DO "LE MONDE"

Visitado mais de cinco milhões de vezes na internet, seja na versão original em alemão, seja em forma de karaokê, o vídeo de animação do desenhista Walter Moers, "Adolf - Ich Hock" in meinem Bonker" (Adolf - Estou Sozinho no Bunker) obteve imenso sucesso e se celebrizou além das fronteiras alemãs.
A história desse curta-metragem de animação começa em 1945: "O mundo estava em chamas, a Alemanha em ruínas e, no Japão, as coisas não iam nada bem. Mas um homem não havia perdido a coragem...". O homem de bigodinho preto e sotaque austríaco se chama Adolf e vive sozinho em seu bunker, acompanhado pela cadela Blondi e por três patinhos de plástico. Protegido por três metros de concreto, vocifera, furioso, que jamais se renderá.
O que o vídeo tem de especial? Mostrar o Führer como jamais foi visto: nu no banheiro, entronado no vaso sanitário, conversando com o cachorro. Um Hitler humanizado. Não foi preciso nada mais para deflagrar séria polêmica na Alemanha. É possível rir de tudo, especialmente de Hitler?
Trata-se de um debate que ressurge regularmente na sociedade alemã, e a caricatura de Moers não escapa à regra. As TVs ProSieben, MTV e RTL 2 se recusaram a veicular publicidade de produtos derivados do desenho, logotipos animados ou ringtones para celulares com a voz do personagem.

Provocador convicto
Diante da pergunta "é possível zombar do nazismo?", Moers responde categoricamente que não, "não se pode zombar do nazismo". Porque, para ele, caricaturar não equivale a tornar simpático.
Não se trata da primeira experiência de Moers com o personagem. Adolf, o herói de seu vídeo, surgiu em 1997, no jornal satírico "Titanic". Um ano mais tarde, foi retomado em uma história em quadrinhos chamada "Adolf - Äch Bin schon Wieder da" [Adolf - Já Estou de Volta], em que o ditador ressurgia depois de passar 50 anos nos esgotos de Berlim.
A história trazia o nazista Hermann Göring como transexual e participação de Michael Jackson. Os três volumes das aventuras de Adolf se tornaram líderes de vendas no mercado de quadrinhos alemão.
Moers é visto como provocador e brinca com essa imagem. Em entrevista à TV ZDF, justificou com muita simplicidade a escolha de Adolf: "Nós só temos na Alemanha dois ícones pop utilizáveis em nível internacional: o papa e Adolf Hitler. No caso do papa, é preciso pagar licença à Igreja Católica; no caso de Hitler, o uso é gratuito".
Os sites de vídeo foram essenciais para dar visibilidade ao desenho animado e gerar polêmica. Essa exposição na web suscitou debates acirrados e comentários de toda natureza. Há aqueles que consideram irrealista demais a versão da história que o desenho oferece e outros que continuam a expressar idéias racistas e a comparar todos os alemães a Hitler.
Os fãs preferem esperar por uma continuação. E um internauta anônimo solicitou uma versão estrelada pelo presidente dos EUA, George W. Bush.


Tradução de Paulo Migliacci.

Acesse a animação original partir do site http://video.google.de


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