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+ Teatro
O amor segundo Shakespeare
Em Londres, interesse em alta por musicais da Broadway é ofuscado por montagens de clássicos do teatro de Shakespeare
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CHARLES ISHERWOOD
Ainda mais do que
costuma ser o caso,
os teatros de Londres estão repletos
de musicais norte-americanos. Temos "Violinista
no Telhado" e "A Noviça Rebelde", além de "Cabaré" e "Chicago", e os títulos atuais não estão
sendo negligenciados.
"Wicked" tem em Londres
sucesso semelhante ao conquistado em Nova York; "Avenue Q" não fica muito atrás;
"Hairspray" tem críticas excelentes. E os britânicos produziram uma popular versão do filme "Dirty Dancing".
No entanto as duas produções de maior sucesso na cidade são montagens de Shakespeare, o que serve como um testemunho bem-vindo quanto
ao público teatral da cidade.
Conseguir ingressos para o
"Otelo" no minúsculo Donmar
Warehouse, com Ewan McGregor como Iago e Chiwetel Ejiofor, o novo luminar dos palcos
da cidade, no papel-título, é
empreitada impossível.
E, no National Theatre, uma
montagem de "Muito Barulho
por Nada" traz Simon Russell
Beale como Benedick e Zoë
Wanamaker como Beatrice, os
dois incomumente maduros
para os papéis, em um palco
que combina luz e sombra.
Muitos livros foram escritos
sobre as percepções multifacetadas de Shakespeare quanto
aos turbulentos movimentos
de um coração apaixonado,
mas eu nunca havia justaposto
"Otelo" e "Muito Barulho por
Nada" em meus pensamentos.
Uivos e suspiros
Depois de assistir às duas peças em seqüência, elas pareceram representar um duplo estudo sobre a suscetibilidade do
amor à influência de terceiros,
tema recorrente nos demais
trabalhos do dramaturgo, mas
mais comovente nessas peças.
Elas nos falam sobre pessoas
honradas que se apaixonam ou
desapaixonam por falsos motivos, o que sublinha a estranha
fragilidade do sentimento, com
um suspiro de espanto em
"Muito Barulho por Nada" e
um uivo gutural em "Otelo".
Da mesma maneira que Otelo é convencido por Iago de que
Desdêmona lhe foi infiel, Cláudio é iludido pelo malévolo
dom João quanto aos sentimentos de sua noiva, Hero.
Em "Muito Barulho por Nada", a trama romântica mais
sombria é contrastada com a
mais leve, já que a união de Benedick e Beatrice é propiciada
por uma trapaça mais doce. O
traço que define a atuação de
Beale e Wanamaker é uma límpida verdade humana que, em
Shakespeare, requer imensa
técnica para ser adquirida.
Os olhos de McGregor brilham como jóias iluminadas
em meio às trevas de "Otelo".
Nesta versão, a confiança que
Otelo dedica a essa figura dúplice não parece uma falha de caráter gritante, mas sim o fruto
de uma afinidade natural.
À medida que a história se
aproximava de sua terrível conclusão, eu sentia intensamente
"a dor de tudo aquilo", nas palavras de Otelo: o desperdício da
bondade, a propensão do homem a semear trevas onde poderia haver luz. Mas havia glória em testemunhar os poderes de revelação de Shakespeare e a
capacidade dos grandes atores
para iluminá-los.
A íntegra deste texto foi publicada no "New
York Times". Tradução de Paulo Migliacci .
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