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Correspondência com Goethe é marco da reflexão estética
MARCOS FLAMÍNIO PERES
EDITOR DO MAIS!
Obra monumental de reflexão estética, que atravessa os anos de 1794
e 1805, as cartas trocadas entre Schiller e Goethe são uma fonte quase
inesgotável sobre a natureza da arte,
poesia, literatura e, sobretudo, dramaturgia, interrompida apenas pela
morte do autor de "Maria Stuart".
Só seriam publicadas entre 1828 e
1829, por iniciativa de Goethe. Ao
longo desses 11 anos, foi tão grande a
interação entre ambos que o escritor
Milan Kundera (1929), muito bem-humorado, os fundiria em um certo
"Friedrich Wolfgang Schilloethe".
"Wallenstein", por exemplo, só tomou vulto na pena de Schiller a partir do estímulo do amigo, que chamou a trilogia de uma obra importante "tanto na prática quanto na
teoria". Já o "Fausto", por sua vez,
seria intensamente discutido a partir
de carta de 22/6/1797.
Mas nem sempre foi assim. Cerimoniosamente convidado por Schiller, em 13/6/1794, para colaborar na
revista "As Horas", Goethe mostrou-se reticente em princípio, embora fosse aceitar 11 dias depois:
"Tenho dúvida se poderemos nos
aproximar muito um do outro. Seu
mundo não é o meu", diria o autor
de "Werther" e "Wilhelm Meister".
Quando a correspondência tem
início, Schiller desenvolvia sua distinção, que se tornaria fundamental,
entre as poesias "ingênua" e "sentimental", fundadas não em codificações retóricas, mas em "modos de
sentir". A "ingênua" era a de Homero, poeta antigo que apresentava a
natureza como uma "perfeição finita". Já a poesia "sentimental" ou moderna, cujo ícone é Shakespeare,
apresenta o homem enquanto
"aperfeiçoamento infinito".
Tamanha densidade reflexiva, que
acabou por estabelecer um cânone
insuperável em relação ao gênero
epistolar, levou Walter Benjamin a
afirmar -em um momento de ascensão do nacional-socialismo-
que a troca de cartas entre Schiller e
Goethe "contribuiu para envenenar
o ar que, na Alemanha, sempre cercou os cumes".
Mas não só de altas literaturas viveu essa "Correspondência". Também se nutriu de cenouras -que o
autor do "Fausto" enviou ao amigo
para "compensar o vazio" de uma
carta- ou de preconceitos -Goethe jamais enviou recomendações à
companheira de Schiller, embora este sempre tenha enviado cumprimentos à mulher daquele.
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