São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Ensaio pop dá mais espaço a Cronenberg do que a Schopenhauer

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

C om menos de 200 páginas, este ensaio sobre a "Filosofia do Tédio" tem o mérito de não aborrecer seus leitores. Professor de filosofia em Bergen, Noruega, Lars Svendsen deve ser uma daquelas figuras capazes de cativar os alunos com facilidade, misturando citações eruditas e referências a filmes da moda, em meio a vastas generalizações sobre o "espírito da época". A platéia, para quem um esforço conceitual mais rigoroso seria entediante, sai satisfeita e pouco esclarecida.
Na dosagem das citações, ganha o pop. Leopardi e Schopenhauer são despachados em dois parágrafos, enquanto 12 páginas são dedicadas à análise do filme "Crash" (1996), de David Cronenberg. Kierkegaard e Iggy Pop se alternam rapidamente, já que o conceito de tédio utilizado por Svendsen é amplo o bastante para permitir qualquer associação de idéias.
No começo do livro, o autor tenta definir o tédio como um fenômeno moderno, isto é, romântico, isto é, contemporâneo, mas as possíveis diferenças entre o tédio, a melancolia renascentista, a acédia medieval ou o niilismo se mostram flutuantes ao longo de todo o ensaio.
Generalizações inconseqüentes são colocadas estrategicamente no texto, para maior impacto "crítico". "Uma sociedade que funcione bem", diz o autor, "promove a capacidade do homem de encontrar significado no mundo; uma que funcione mal não o faz". Levada ao pé da letra, a idéia tornaria a Alemanha de Adolf Hitler preferível à Noruega contemporânea. Logo em seguida, uma saraivada de citações de Adorno, Rilke e Goethe nos faz esquecer a objeção.

Loquacidade frenética
O livro ganha interesse e densidade no seu terceiro capítulo, dedicado a uma análise crítica das concepções de Martin Heidegger sobre o tédio. No último capítulo, "A ética do tédio", Michel Foucault, Milan Kundera e Arnold Gehlen fornecem novos ingredientes à salada, que termina numa conclusão sensata: "não há solução para o tédio", e talvez um dos problemas de nossa época seja nossa incapacidade de suportá-lo, de conviver com ele e com nossa própria solidão.
A loquacidade frenética do livro sugere que Svendsen não tem forças para seguir esse conselho.


FILOSOFIA DO TÉDIO
Autor:
Lars Svendsen
Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges
Editora: Jorge Zahar (tel. 0/ xx/21/ 2240-0226)
Quanto: R$ 29 (192 págs.)



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