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Ensaio pop dá mais espaço a Cronenberg do que a Schopenhauer
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
C
om menos de 200
páginas, este ensaio sobre a "Filosofia do Tédio"
tem o mérito de
não aborrecer seus leitores.
Professor de filosofia em
Bergen, Noruega, Lars
Svendsen deve ser uma daquelas figuras capazes de
cativar os alunos com facilidade, misturando citações
eruditas e referências a filmes da moda, em meio a
vastas generalizações sobre
o "espírito da época". A platéia, para quem um esforço
conceitual mais rigoroso
seria entediante, sai satisfeita e pouco esclarecida.
Na dosagem das citações,
ganha o pop. Leopardi e
Schopenhauer são despachados em dois parágrafos,
enquanto 12 páginas são dedicadas à análise do filme
"Crash" (1996), de David
Cronenberg.
Kierkegaard e Iggy Pop se
alternam rapidamente, já
que o conceito de tédio utilizado por Svendsen é amplo o bastante para permitir
qualquer associação de
idéias.
No começo do livro, o autor tenta definir o tédio como um fenômeno moderno, isto é, romântico, isto é,
contemporâneo, mas as
possíveis diferenças entre o
tédio, a melancolia renascentista, a acédia medieval
ou o niilismo se mostram
flutuantes ao longo de todo
o ensaio.
Generalizações inconseqüentes são colocadas estrategicamente no texto,
para maior impacto "crítico". "Uma sociedade que
funcione bem", diz o autor,
"promove a capacidade do
homem de encontrar significado no mundo; uma que
funcione mal não o faz".
Levada ao pé da letra, a
idéia tornaria a Alemanha
de Adolf Hitler preferível à
Noruega contemporânea.
Logo em seguida, uma saraivada de citações de
Adorno, Rilke e Goethe nos
faz esquecer a objeção.
Loquacidade frenética
O livro ganha interesse e
densidade no seu terceiro
capítulo, dedicado a uma
análise crítica das concepções de Martin Heidegger
sobre o tédio.
No último capítulo, "A
ética do tédio", Michel Foucault, Milan Kundera e Arnold Gehlen fornecem novos ingredientes à salada,
que termina numa conclusão sensata: "não há solução
para o tédio", e talvez um
dos problemas de nossa
época seja nossa incapacidade de suportá-lo, de conviver com ele e com nossa
própria solidão.
A loquacidade frenética
do livro sugere que Svendsen não tem forças para seguir esse conselho.
FILOSOFIA DO TÉDIO
Autor: Lars Svendsen
Tradução: Maria Luiza X. de A.
Borges
Editora: Jorge Zahar (tel. 0/
xx/21/ 2240-0226)
Quanto: R$ 29 (192 págs.)
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