São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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+(s)ociedade

À sombra

da torre

A Folha visita o edifício criado pelo badalado Jean Nouvel em Nova York, com apartamento custando até US$ 22 milhões

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

A crise financeira ainda não passou, mas Nova York já inaugura mais um marco arquitetônico milionário, assinado por Jean Nouvel, 64, vencedor do Prêmio Pritzker em 2008 e idealizador de projetos como o da Fundação Cartier, em Paris.
Desta vez, o arquiteto francês desenhou um prédio residencial de 23 andares, com 55 apartamentos, cujos preços variam entre US$ 2 milhões e US$ 22 milhões.
Erguida em Chelsea, bairro frequentado por artistas e simpatizantes, a construção dialoga com o imóvel comercial ao lado, projetado por Frank Gehry e finalizado em 2007.

Banheiros high-tech
Os espelhos retangulares e simétricos de Gehry, suavemente grudados uns nos outros do outro lado da rua 19, refletem o quebra-cabeça de vidros chineses de Nouvel, encaixados de maneira aparentemente aleatória, com a intenção de mudar a aparência da torre de acordo com a luz do sol.
Para intensificar esse efeito, nos seis primeiros andares o arquiteto desenhou uma estrutura externa, também composta por vidros desiguais, emoldurados por barras de aço e que envolvem o edifício como uma saia amassada.
A descrição acima, porém, só vale para a estrutura que se vê a partir do píer do rio Hudson.
Do outro lado, caminhando da 10ª avenida em direção à 11ª, seu endereço oficial, o prédio oferece uma visão completamente diferente, com tijolos escuros entrecortados por pequenas janelas irregulares, para dar a cada morador um enquadramento da cidade.
Lá dentro, a sensação de que Nouvel se preocupou com cada metro quadrado aumenta: os apartamentos, que têm entre um e quatro quartos, oferecem peculiaridades que fazem flutuar o preço.
Mas todos oferecem ambientes iluminados por janelas do chão ao teto, invadidas pela imprevisível estrutura de aço que as percorre.
O chão é revestido de uma camada brilhante, para refletir a iluminação; os banheiros, equipados com acessórios high-tech desenhados pelo próprio arquiteto -só a torneira chega a custar US$ 2.000.

Ventania
Em uma das três coberturas, além dos quatro quartos e de uma espaçosa sala, o morador terá um pequeno ambiente externo, com quatro paredes de vidro e sem teto -para contemplar a vista do Hudson sem sentir a forte ventania que assombra a região.

Caixas de vidro
Nos andares mais baixos -e menos valorizados-, o francês criou varandas que pipocam para fora da estrutura principal do prédio. Elas fazem parte da "saia" externa.
Nessa mesma área, caixas de vidro sustentarão sete árvores suspensas em torno da torre.
As plantas ainda não foram colocadas porque, embora o condomínio já tenha moradores, faltam dois meses para que seja inteiramente finalizado.
Segundo David Comfort, gerente de projetos da Cape Advisors, uma das donas do imóvel, ele foi concebido em uma reunião com Nouvel regada a vinho, há pouco menos de cinco anos, e sobreviveu à crise por contar com depósitos de compradores interessados, feitos antes de a bolha estourar.
O investimento, segundo ele, foi de US$ 200 milhões (cerca de R$ 360 mi), pouco menos do que custou o recém-inaugurado estádio do New York Red Bulls, em Nova Jersey, para 25 mil torcedores.
Na visita que a Folha fez à obra, guiada por Comfort, compradores da alta sociedade esbarravam nos operários que finalizam a construção.
O investidor diz que 60% dos apartamentos já estão vendidos, principalmente para figuras "da moda e das artes" -das quais "25% são europeus".
O mais caro, de US$ 22 milhões, na verdade tem oito quartos: o proprietário quis dois andares inteiros para si.

Unidade customizada
Quem puder sonhar com tal vizinhança pode adquirir um apartamento customizado pelo francês, ainda à venda. Comfort conta que, há poucas semanas, a construtora convidou Nouvel a decorar o 8D.
De novo abastecido por garrafas de vinho, ele escolheu as persianas sobrepostas, as paredes pretas com detalhes brancos e mensagens escritas com giz, os móveis dos dois quartos e da sala, a TV de plasma no chão, os papéis espalhados como obra de arte e até o xampu, já dentro do box.
"Lembra o projeto inicial", diz Comfort, por representar com exatidão o que Nouvel planejou construir. Uma torre de luxo para um bairro das artes.


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