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+(s)ociedade
À sombra
da torre
A Folha visita o edifício criado
pelo badalado Jean Nouvel
em Nova York, com apartamento custando até US$ 22 milhões
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
A crise financeira ainda não
passou, mas Nova York já inaugura mais um marco arquitetônico milionário, assinado por
Jean Nouvel, 64, vencedor do
Prêmio Pritzker em 2008 e
idealizador de projetos como o
da Fundação Cartier, em Paris.
Desta vez, o arquiteto francês
desenhou um prédio residencial de 23 andares, com 55 apartamentos, cujos preços variam
entre US$ 2 milhões e US$ 22
milhões.
Erguida em Chelsea, bairro
frequentado por artistas e simpatizantes, a construção dialoga com o imóvel comercial ao
lado, projetado por Frank
Gehry e finalizado em 2007.
Banheiros high-tech
Os espelhos retangulares e
simétricos de Gehry, suavemente grudados uns nos outros
do outro lado da rua 19, refletem o quebra-cabeça de vidros
chineses de Nouvel, encaixados
de maneira aparentemente
aleatória, com a intenção de
mudar a aparência da torre de
acordo com a luz do sol.
Para intensificar esse efeito,
nos seis primeiros andares o arquiteto desenhou uma estrutura externa, também composta
por vidros desiguais, emoldurados por barras de aço e que envolvem o edifício como uma
saia amassada.
A descrição acima, porém, só
vale para a estrutura que se vê a
partir do píer do rio Hudson.
Do outro lado, caminhando
da 10ª avenida em direção à 11ª,
seu endereço oficial, o prédio
oferece uma visão completamente diferente, com tijolos
escuros entrecortados por pequenas janelas irregulares, para dar a cada morador um enquadramento da cidade.
Lá dentro, a sensação de que
Nouvel se preocupou com cada
metro quadrado aumenta: os
apartamentos, que têm entre
um e quatro quartos, oferecem
peculiaridades que fazem flutuar o preço.
Mas todos oferecem ambientes iluminados por janelas do
chão ao teto, invadidas pela imprevisível estrutura de aço que
as percorre.
O chão é revestido de uma camada brilhante, para refletir a
iluminação; os banheiros, equipados com acessórios high-tech desenhados pelo próprio
arquiteto -só a torneira chega
a custar US$ 2.000.
Ventania
Em uma das três coberturas,
além dos quatro quartos e de
uma espaçosa sala, o morador
terá um pequeno ambiente externo, com quatro paredes de
vidro e sem teto -para contemplar a vista do Hudson sem
sentir a forte ventania que assombra a região.
Caixas de vidro
Nos andares mais baixos -e
menos valorizados-, o francês
criou varandas que pipocam
para fora da estrutura principal
do prédio. Elas fazem parte da
"saia" externa.
Nessa mesma área, caixas de
vidro sustentarão sete árvores
suspensas em torno da torre.
As plantas ainda não foram
colocadas porque, embora o
condomínio já tenha moradores, faltam dois meses para que
seja inteiramente finalizado.
Segundo David Comfort, gerente de projetos da Cape Advisors, uma das donas do imóvel,
ele foi concebido em uma reunião com Nouvel regada a vinho, há pouco menos de cinco
anos, e sobreviveu à crise por
contar com depósitos de compradores interessados, feitos
antes de a bolha estourar.
O investimento, segundo ele,
foi de US$ 200 milhões (cerca
de R$ 360 mi), pouco menos do
que custou o recém-inaugurado estádio do New York Red
Bulls, em Nova Jersey, para 25
mil torcedores.
Na visita que a Folha fez à
obra, guiada por Comfort, compradores da alta sociedade esbarravam nos operários que finalizam a construção.
O investidor diz que 60% dos
apartamentos já estão vendidos, principalmente para figuras "da moda e das artes" -das
quais "25% são europeus".
O mais caro, de US$ 22 milhões, na verdade tem oito
quartos: o proprietário quis
dois andares inteiros para si.
Unidade customizada
Quem puder sonhar com tal
vizinhança pode adquirir um
apartamento customizado pelo
francês, ainda à venda. Comfort
conta que, há poucas semanas,
a construtora convidou Nouvel
a decorar o 8D.
De novo abastecido por garrafas de vinho, ele escolheu as
persianas sobrepostas, as paredes pretas com detalhes brancos e mensagens escritas com
giz, os móveis dos dois quartos
e da sala, a TV de plasma no
chão, os papéis espalhados como obra de arte e até o xampu,
já dentro do box.
"Lembra o projeto inicial",
diz Comfort, por representar
com exatidão o que Nouvel planejou construir. Uma torre de
luxo para um bairro das artes.
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