São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A MÁQUINA UNIVERSAL

ALGORITMO SECRETO É PRINCIPAL TRUNFO DO GOOGLE PARA CONQUISTAR O MUNDO

STÉPHANE FOUCART

Seis letras em cores simples, uma página despojada, quase branca, um formulário de pesquisa. Para a maioria dos internautas, essa simplicidade não engana. Sugere que o Google pouco evoluiu desde 1998, quando foi criada por Sergey Brin e Larry Page, dois matemáticos da Universidade Stanford (EUA).
Por trás do aparente despojamento escondem-se um poder de cálculo fenomenal, uma capacidade de inovar e uma criatividade que preocupam todos os setores econômicos que têm uma parte de sua atividade desmaterializada. A ambição do Google, que acaba de entrar no capital da AOL Time Warner com 5%, é "simplesmente" tornar-se uma máquina universal.
Seu principal segredo é seu algoritmo, PageRank, que classifica os 8 bilhões ou 9 bilhões de páginas da web indexadas por sua máquina em razão de diversos parâmetros -freqüência de atualização, popularidade etc. Se os detalhes dessa fórmula matemática permanecem ocultos, suas linhas maiores e seus princípios são conhecidos de longa data. Desde 2003, quando houve um crescimento extraordinário da potência da máquina, o verdadeiro segredo do Google é outro: não se trata mais tanto da eficácia desse ou daquele algoritmo quanto de seu prodigioso poder de cálculo, de processamento e armazenamento da informação.
Para não assustar divulgando cifras colossais, o Google não comunica sua capacidade de cálculo. Os últimos números publicados datam de aproximadamente dois anos e mencionam a existência de mais de 10 mil servidores. Ou seja... Não muitos; mas a verdadeira capacidade da empresa alimenta todas as especulações. Em janeiro, o analista Charles Ferguson, da "Technology Review", sugeriu o número de 250 mil servidores utilizados no mundo inteiro.
Stephen Arnold, consultor independente e autor de "The Google Legacy" (O Legado do Google, ed. Infonortics), estima que a empresa "dispõe de 30 centros de processamento de dados no mundo, cuja localização é mantida em segredo por motivos de segurança, e cada um deles é constituído por cerca de 10 mil servidores".
Isso não é tudo. "Uma das principais atividades do Google hoje é comprar fibra ótica no mundo inteiro, para interconectar seus "data centers'", acrescenta Howard Rheingold, autor de "Smart Mobs" (Multidões Inteligentes). Arnold confirma essa vontade de interligar a rede de "data centers" e explica que hoje só uma parte ínfima dessa banda de transmissão disponível é utilizada.
Por que tanto esforço? Porque o Google deixou, "sem dúvida no final de 2003", segundo Arnold, de ser uma máquina de buscas. Faltam palavras para definir sua verdadeira natureza. "O Google tornou-se uma plataforma de aplicativos."
Pura ficção? Em San Francisco, o Google já está na frente do Wi-Fi gratuito (acesso sem fio à internet), oficialmente em caráter experimental. Quanto à transmissão de voz pela internet, o negócio está em andamento com o Google Talk. Isso tudo no lado tecnológico.
A arma econômica, por sua vez, é conhecida: trata-se da gratuidade, financiada pela publicidade dirigida.
Os estrategistas de Mountain View pensam com dez passos de antecipação. Mas o futuro da companhia não está decidido. As evoluções do Google são criadas em razão do comportamento dos internautas.
Mas o Google não está livre de um grande bug. No tempo que seria necessário para consertá-lo, o Yahoo!, o MSN ou outros poderiam assumir a liderança.


Este texto foi publicado no "Le Monde".
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.


Texto Anterior: A regra do jogo
Próximo Texto: + cinema: Caubóis pós-modernos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.