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O G20 em 10 questões
APENAS BARACK OBAMA DEVE DAR PRIORIDADE À QUESTÃO AMBIENTAL; CHINA E RÚSSIA QUEREM MAIS PESO POLÍTICO, E BRASIL DEVE RETOMAR DOHA
ANGELO SEGRILLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
1. Ação coordenada
A crise econômica é o tema que
vai dominar. O G20 não é um grupo de países, é uma reunião de
ministros das Finanças e de presidentes de Bancos Centrais.
Mesmo se não fosse essa sua
vocação, o tema central seria
mesmo a crise, atraindo líderes
de Estado -o que dá dimensão
política ao evento.
A possibilidade de uma ação
coordenada entre os países para
combater a crise será a questão
central. Até agora cada país seguiu uma receita diferente. Há
várias resistências a essa coordenação, inclusive dos EUA, um
dos países mais isolacionistas.
2. A diferença entre EUA e Europa
Os EUA estão sendo keynesianos, preferindo o estímulo fiscal.
Os europeus consideram que o
problema nos EUA era a falta de
regulação, e estão dando ênfase
à "rerregulação" do mercado financeiro. O difícil não é regular
apenas cada país por si, e sim em
nível mundial.
Essas duas abordagens devem
entrar em embate -se bem que
o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner,
propõe uma forma de regulação.
3. Fundo Monetário Internacional
O FMI sempre foi um "clube dos
países ricos". No G20, que inclui
emergentes, deve-se discutir como mudar o FMI para abordar
não só os desenvolvidos. O órgão
já vem dando sinais de mudança,
como não exigir a ortodoxia fiscal de antes.
4. China
Uma grande discussão será como integrar a China, principalmente, à questão da governança
financeira global. No FMI, os
EUA têm um peso desproporcional, por exemplo. Há que discutir
como fazer o FMI refletir o peso
crescente da economia chinesa.
5. Moeda internacional
A ideia, sugerida pelo presidente
do Banco Central chinês, de criar
uma moeda internacional para
trocas em lugar do dólar, é importantíssima: atualmente os
EUA têm o poder de emitir a
moeda internacional, o que dá
uma vantagem tremenda.
Na prática, os EUA não vão aceitar, a China não deve levar a
questão adiante nesta reunião,
mas a ideia deve ficar para outras discussões.
6. Mercado financeiro internacional
Se nos EUA os fundos de hedge
não eram regulados nacionalmente, mais difícil seria regulá-los internacionalmente. Deve-se
discutir se é possível uma regulação financeira internacional.
Não se deve chegar a esse extremo, mas pode-se discutir a criação de um mecanismo supervisor internacional.
Agora haveria muita resistência,
mas a ideia pode ser lançada para implementação futura.
7. Protecionismo
É uma tendência natural: para
criar empregos em seu país,
quanto menos importar, melhor.
Um problema da crise de 1929 foi
o protecionismo. Nesse caso, pode melhorar para uns e piorar para os outros. Sem protecionismo, de maneira geral acaba sendo melhor para todos, mas a reação irracional à crise pode levar a
medidas protecionistas.
8. Temas de Doha
Países como o Brasil podem querer retormar questões levantadas na Rodada Doha (não a Rodada Doha em si, pois se dá no
âmbito da Organização Mundial
do Comércio): abrir os mercados
industriais do Terceiro Mundo e
os agrícolas do Primeiro Mundo.
9. Obama e Medvedev
O encontro dos presidentes dos
EUA e da Rússia será muito importante. Obama está propondo
uma mudança nas relações com
a Rússia, o "Reset" (Reiniciar), e
eles devem aproveitar para ir
além das questões econômicas,
discutindo o escudo de mísseis
na Europa e a relação entre Rússia e Geórgia, por exemplo.
10. Distúrbios sociais
Um tema fundamental será como evitar distúrbios sociais em
regiões mais empobrecidas, que
não avançam em desenvolvimento. A elevação dos preços
dos alimentos está criando uma
tensão grande e, com a crise e o
desemprego, a situação pode se
tornar explosiva.
Discutem-se os chamados "Estados falidos", em que praticamente não há mais Estado. Um
exemplo é a Somália, cujos piratas ameaçam cargueiros do
mundo inteiro. Nos EUA há o medo de o México se tornar um Estado falido, por conta da violência na região da fronteira.
11. E um tema esquecido
A questão ambiental vai ser
mencionada, mas não ficará no
primeiro plano -espero estar errado. Apenas Obama está aproveitando a oportunidade na crise: ele poderia se preocupar só
com reativar a economia, mas,
em vez disso, está propondo
uma mudança de paradigma.
Quer incentivar uma indústria
alternativa, carros ecológicos...
Ao emprestar dinheiro, os governos têm nas mãos o poder de cobrar algum avanço.
ANGELO SEGRILLO é professor de história contemporânea na USP. Atualmente é "visiting
scholar" na American University (Washington).
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