São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Os bons companheiros

VINDOS DE VÁRIAS PARTES DO PAÍS, TODOS LUTAM POR UMA META COMUM NO MÉDIO XINGU

Luiz Carlos Nunes Castelo, grande pecuarista (São José do Xingu)

Luiz Castelo nasceu no Espírito Santo, é empresário da construção civil em São Paulo e mora em Santa Catarina. Uma ou duas vezes por mês, voa para São José do Xingu, para tomar pé dos 13.400 hectares e 10 mil bois da fazenda Bang Bang, "um lugar de paz". Castelo é também o maior plantador de florestas da Amazônia.
Em 2004, assinou um termo de ajuste de conduta (TAC) para recuperar 342 hectares de matas ciliares em dez anos.
Já começou em 206 hectares, mas demorou para acertar o modelo.
Antes, chegou a plantar 92 mil mudas de dez espécies, que não deram certo. Hoje planta sementes com lançadeira puxada por trator. Até março passado, seu investimento em recuperação já havia ultrapassado R$°371 mil.
Não vai desistir, mas se queixa da falta de apoio: "Precisamos de tempo, tecnologia e financiamento".

Armando Menin, catarinense, assentado (Querência)

De 1975 a 1987, Armando Menin plantava soja com a família em Xanxerê (SC). Em 1988, mudou-se para Querência em busca de terra própria, na qual plantou soja e depois arroz. Perdeu tudo em 1993: "Quebrei para salvar um filho", conta, sem dar mais detalhes.
Recomeçou a vida no Projeto de Assentamento Brasil Novo, a 130 km da cidade. O lote número 130, com 75 hectares, participa do reflorestamento de matas ciliares da Y Ikatu Xingu.
Dois hectares e meio de mata ciliar em recuperação foram até "alugados" para compensar (neutralizar) emissões de carbono do Rock in Rio Lisboa.
Com outros assentados, Menin produz por ano 8.500 litros de cachaça e 1.560 kg de açúcar mascavo, além de 800 kg mensais de farinha de mandioca e 5.000 kg de polpa de abacaxi, que vendem para a merenda escolar da Prefeitura de Querência.

Ayré Ikpeng, coletora de sementes (Parque Indígena do Xingu)

Uma palavra usada com frequência para qualificar a icpengue Ayré é "guerreira". Sua liderança entre as mulheres da aldeia Moigu é visível na reunião de apresentação dos repórteres da Folha na "casa dos homens ", modesto telheiro diante da casa cerimonial habitada pelo chefe Aracá. É a que mais fala, depois de Maiuá, professor, secretário da associação indígena e organizador do encontro.
Nessa mesma "casa dos homens", realizara-se dias antes a assembleia em que se decidiu, contra a inclinação inicial dos chefes masculinos, que seria importante mostrar o trabalho das mulheres à imprensa.
As palavras de Ayré foram decisivas, nos contam. Também foi da guerreira a ideia de chamar o grupo coletor de sementes de "yarang", formigas. Como as mulheres, elas recolhem muitas coisas pequenas do chão, que depois carregam na cabeça.

Arão Pinheiro, paranaense, coletor de sementes (Canarana)

Ex-policial, Arão Pinheiro chegou a Canarana vindo de Curitiba há 17 anos, com a intenção de criar os filhos "longe do vuco-vuco da cidade grande". Hoje afirma: "Vim pelo caminho certo".
Quando criança, Pinheiro trabalhou na lavoura de café. Queria envelhecer como agricultor. Aos 52 anos, considera-se um coletor profissional de sementes.
Associou-se com os cunhados Ivo Cesário da Silva e Sílvio Santos da Silva, ex-trabalhadores rurais no Paraguai e exímios no manejo do podão, para alcançar e derrubar os galhos mais altos.
A família toda se envolve com as sementes, seja com a coleta na mata vizinha à cidade, seja na limpeza -como os sogros Rosalinda dos Santos Silva e Darci Batista de Oliveira, de tesoura em punho na varanda da casinha cor de laranja.


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