São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006 |
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+ cinema Dois novos livros buscam explicar o relacionamento entre grandes estúdios e diretores independentes Mocinhos e bandidos em Hollywood
TOM DEWE MATHEWS
À parte a questão sobre se diretores como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola ou Robert Altman realmente chegaram a controlar Hollywood nos anos 70, a proposta bem-intencionada, embora não argumentada, de Mottram também se esvazia facilmente. Mas também deve haver uma razão pela qual os grandes estúdios compram produtoras independentes, como a Miramax, e criam suas próprias filiais independentes, como a Fine Line, da Warner Brothers, ou a Buena Vista, da Disney. Ben Dickenson, em contraste, abre mais seu "Hollywood's New Radicalism - War, Globalisation and the Movies from Reagan to George W. Bush" (O Novo Radicalismo de Hollywood - Guerra, Globalização e os Filmes de Reagan a George W. Bush, I.B. Tauris, 232 págs., US$ 26,95, R$ 57) e, como procura os motivos econômicos por trás da realização de bons filmes, é capaz de dar respostas a essas perguntas. Batman e o videotape Ele compara a relação custo-benefício de "Sexo, Mentiras e Videotape" com o maior sucesso de público de 1989, "Batman": o primeiro faturou US$ 21 para cada dólar gasto enquanto o super-herói teve um retorno de meros US$ 5. Seguindo a trilha do dinheiro, Dickenson revela uma estrutura de estúdios em que os "indies" são espremidos para fora do mercado. Os filmes em si não valem nada; é em sua distribuição que as produtoras ganham dinheiro. Como 90% das bilheterias dos cinemas retornam ao estúdio-produtora, não é de surpreender que as distribuidoras prefiram exibir filmes independentes de baixo orçamento. Se a distribuidora for tentada por esses filmes, porém, os estúdios não lhe dão os grandes sucessos mais populares e geradores de receita. Mas, felizmente, filmes politicamente engajados continuam sendo produzidos em Hollywood, e Dickenson é perspicaz sobre a rede de conglomerados em que os cineastas independentes têm de trabalhar. Os executivos dos estúdios, ele comenta, "nunca questionam a economia de mercado do sistema em que operam, mas em questões sociais eles estão muito à esquerda das corporações para as quais trabalham". Daí a aparente condenação das ligações industriais-militares nos EUA em filmes da corrente dominante, como "Blade Runner", "Robocop" ou "Alien", enquanto o capitalismo corporativo permanece intocado. Crucialmente, porém, Dickenson mostra a relutância dos cineastas americanos em acreditar na organização coletiva, mais que na resistência individual à injustiça social. Em conseqüência, a eficácia política de Hollywood foi prejudicada. Bem informado sobre um tema complexo, Dickenson faz um balanço preciso entre a política de Hollywood e os filmes políticos, mas no final do livro persegue sombras de celulóide ao tentar englobar filmes menos importantes em uma agenda polêmica. Reduzir expectativas Então já sabemos que a arte é incidental para um negócio voltado para os lucros, como os estúdios de Hollywood, e que não temos alternativa senão reduzir nossas expectativas, mas talvez ainda possamos acreditar no que diz o ator Bill Murray: "Os estúdios são muito sérios no que se refere a ganhar dinheiro, e isso não está errado. Mas não é preciso ganhar dinheiro da mesma maneira o tempo todo". Onde encomendar Livros em inglês podem ser encomendados, em SP, na livraria Cultura (tel. 0/xx/11/ 3170-4033) ou no site www.amazon.com Este texto foi publicado no "Independent". Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves. Texto Anterior: + sociedade: Três por quatro do Brasil Próximo Texto: Acadêmicos no camarim Índice |
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