São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009 |
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Nós não vamos pagar nada?
SÉRGIO DÁVILA DE WASHINGTON Chris Anderson, editor da revista de tecnologia e novas tendências "Wired" e um dos pensadores da internet, é o promotor de dois conceitos muito caros a esse meio. O primeiro é a "teoria da cauda longa", estratégia de negócio segundo a qual a meta é vender poucas unidades de muitos e variados itens, o que substituiria o popular modelo dos "best-sellers". O segundo é o que ele chama de "freeconomics" ou a economia das coisas de graça, alicerçada no fato de que o custo de armazenamento e transmissão de conteúdo digital baixa cada vez mais. De onde vem o dinheiro? Do conceito "freemium", junção das palavras "free" e "premium": a maioria consome de graça ("free"), bancada por uma minoria que paga por uma versão de mais qualidade ("premium"). Ambos os conceitos foram desenvolvidos em artigos, viraram palestras e livros. O segundo surgiu recentemente em livro nos EUA e chegou neste mês ao Brasil. É "Free - O Futuro dos Preços" (Free - The Future of a Radical Price, no original). Nele, e na entrevista que deu à Folha por telefone, Anderson defende que, sim, diferentemente do que popularizou o economista Milton Friedman (1912-2006), existe almoço de graça -desde que a sobremesa seja bem paga por alguém. Nos EUA, a versão eletrônica do livro ficou disponível gratuitamente por alguns dias. Agora é vendida por US$ 26,99 [R$ 50], em papel, e US$ 9,99, versão eletrônica -o "audiobook" em inglês continua de graça e pode ser baixado do site do autor, www.thelongtail.com. No Brasil, só papel e só a dinheiro: R$ 59,90 por 88 páginas. A editora Elsevier já vendeu a primeira tiragem, de 10 mil cópias, prepara a segunda e colocou os três primeiros capítulos de graça em www.elsevier.com.br. FOLHA - Se a informação quer ser
livre/de graça, por que tenho de pagar R$ 59,90 para ler seu livro? FOLHA - Sim, mas quem quer ler
em português, caso da maioria dos
leitores brasileiros, tem de desembolsar. FOLHA - Por que um editor pagaria
milhares de dólares pelos direitos de
seu livro, outro tanto para traduzir,
mais ainda para imprimir e distribuir
e finalmente daria de graça aos leitores brasileiros? Faz sentido economicamente? FOLHA - Em seu livro, o sr. defende
que sim, há almoço de graça, no sentido de que há toda uma economia
florescendo baseada em dar os produtos, e não vender. Como isso funciona no caso específico da indústria
de conteúdo? FOLHA - O sr. cita Brasil e China como a nova fronteira da "freeconomics" e a forte presença de pirataria
nos dois países como algo positivo.
Como a pirataria pode ser benéfica
para uma economia? FOLHA - O sr. diz ter problemas
com as palavras "mídia", "jornalismo" e "noticiário". Por quê? FOLHA - Ao mesmo tempo uma
breve visita a sua conta no Twitter
revela que o sr. segue o "New York
Times", a revista "New Yorker" e várias outras contas da chamada mídia tradicional. Além disso, seu trabalho principal vem de editar uma
revista de papel, a "Wired". Como o
sr. concilia isso? FOLHA - Mas o sr. é o evangelista
desse novo mundo e edita uma revista do velho mundo. Como concilia os dois? FOLHA - Se o sr. me dá o conteúdo
de graça on-line, por que eu pagarei
por ele na revista? |
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