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VIDAS SECAS
Fernando Donasci/Folha Imagem
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Pescador nas margens do rio São Francisco, perto de Juazeiro (BA) |
O PROFESSOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO DE JANEIRO JOSÉ AUGUSTO PÁDUA DIZ
QUE O CONSUMO DESENFREADO ESTÁ AGRAVANDO
OS PROBLEMAS AMBIENTAIS, AFIRMA QUE O AGRONEGÓCIO FORJOU UMA IMAGEM FALSA
DE MODERNIDADE NO BRASIL E NÃO DESCARTA INTERVENÇÃO INTERNACIONAL NA AMAZÔNIA
DANIEL BUARQUE
DA REDAÇÃO
A Amazônia vive uma de suas
piores secas dos últimos 50
anos, com as águas do rio
Solimões chegando a descer
à cota mínima de 36 cm. Focos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e
suspeita de gado contaminado no
Paraná apontam para perdas econômicas de quase US$ 2 bilhões. No
Nordeste, as obras da transposição
do rio São Francisco não alcançam
consenso e causam protestos.
O caos ambiental que tem assolado o Brasil também se estende à Europa e Ásia, onde a gripe aviária
ameaça se tornar uma epidemia.
A ONU estima que, só na última
década, 25 milhões de pessoas se tornaram "refugiadas ambientais". Milhares de pessoas morreram desde o
final do ano passado vitimadas pela
dinâmica de uma natureza que sempre foi vista como um palco estático
das relações humanas.
"Vivemos uma explosão da natureza", alerta o professor do departamento de história da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Augusto Pádua, 47, em entrevista
à Folha.
Especialista na história das relações entre natureza e sociedade no
Brasil, ele defende que todas essas
tragédias fazem parte de um processo natural que o homem pode agravar ou minimizar, mas que, em larga
medida, independe de sua ação.
Pádua também vê uma relação entre o aquecimento global e a intensificação do que chama de "movimentos naturais da vida", como uma
"reação" à atuação do homem.
Autor de "Sopro de Destruição
-Pensamento Político e Crítica Ambiental no Brasil Escravista (1786
-1888)" (Jorge Zahar) -em que
analisa a forma como o ambiente era
visto pela sociedade do período-,
Pádua também critica o pouco caso
com a questão ambiental no Brasil,
"desarticulada" de outras políticas a
que deveria estar ligada.
E alerta que fenômenos naturais
devastadores, como o furacão Katrina, em Nova Orleans, o tsunami na
Ásia no fim de 2004, a atual seca na
Amazônia ou ainda enchentes e
doenças, devem tornar o ambiente
um tema tão importante para o século 21 como foi a questão social nos
200 anos anteriores.
Folha - Qual o diferencial deste momento histórico atual da relação entre a sociedade e a natureza?
José Augusto Pádua - Um dos fenômenos interessantes deste momento
global é que essas "questões da vida", que costumo ver como uma
"explosão da natureza", estão estourando também na política.
Os sistemas e atores políticos não
podem mais ignorar essas questões,
mas, no entanto, não estão preparados para enfrentá-las. Há uma tradição de ver a política como uma relação, uma disputa, um jogo exclusivo
do mundo dos seres humanos. Uma
visão que considero "antropoexclusivista", como se a política tratasse
apenas da distribuição dos recursos
econômicos e do poder.
Mas a intesecção entre os movimentos da natureza e os políticos,
que podem agravar esses movimentos, tem uma grande repercussão
política, como o impacto do furacão
Katrina para o governo de George
W. Bush.
Isso também acontece no Brasil. O
governo não considera essas questões ambientais como centrais. Mas
elas acabam estourando na política.
Podemos mencionar a seca na Amazônia, a questão da transposição do
rio São Francisco, a febre aftosa, tudo isso pode trazer uma série de reflexões que precisam ser feitas.
Folha - Por que no Brasil a questão
ambiental tem menor repercussão?
Pádua - Acho difícil avaliarmos o
quanto esse tipo de problema mina
o governo. No Brasil essas questões
acabam perdendo visibilidade política por problemas de corrupção.
Ainda é cedo para avaliar o quanto a
seca na Amazônia pode afetar a política nacional. Temos que ver a continuidade do fenômeno natural.
Folha - Quais são os efeitos dessa
"explosão da natureza" no Brasil?
Pádua - O principal problema é a
destruição dos biomas que formam
o território brasileiro.
As vicissitudes da história realmente nos legaram um território
impressionante. Temos uma visão
muito banal disso. É um território-chave em relação às tendências do
futuro. Temos exatamente todos os
elementos estratégicos do próximo
milênio: água doce, biomassa, biodiversidade, energia solar etc. É um
território que possui, apesar de 500
anos de devastação, um ativo de elementos-chave para a economia,
ciência, tecnologia, espantoso.
Há uma enorme demagogia
do governo quanto
à transposição
do rio São Francisco
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O que assusta é que a sobrevivência disso tudo é questionável. Precisamos de uma política de território,
que possa trabalhar as várias tendências de ocupação do território de
maneira integrada. É importante
manter a floresta, o cerrado, o sistema como um todo.
Preocupa-me, como historiador, a
repetição de padrões já observados
no caso da mata atlântica, cuja cobertura florestal está destruída em
mais de 93%. A tendência que produziu esse desmatamento está se repetindo nas fronteiras do cerrado e
da Amazônia e, pior, está intensificada pela tecnologia industrial.
Por volta de 1860, por exemplo, o
Rio de Janeiro ficava afundado em
fumaça de queimadas da mata
atlântica no vale do Paraíba de forma muito semelhante ao que se pode observar atualmente, nesse modelo de abrir fronteiras na floresta e
deixar a degradação para trás, como
em Rondônia ou Mato Grosso.
Folha- Por que isso acontece?
Pádua - Acho que está ligado a duas
questões importantes a serem enfrentadas: o mito da natureza inesgotável, de que o território é tão impressionantemente rico que, por
mais que se destrua, sempre existirão recursos -o que já está se provando errado; e o desprezo pelos
biomas nativos, como se eles causassem estranhamento à sociedade. É a
idéia do bioma nativo como obstáculo que atrapalha o desenvolvimento econômico dos seres humanos.
Precisamos mudar essa forma de
ver a natureza.
Folha - A ação do homem é realmente a principal culpada pela situação
ambiental que o Brasil vive hoje?
Pádua - Essa visão é arrogante,
mesmo no caso do Brasil. É uma
conjugação dos movimentos da natureza com a ação humana, que provoca impactos no movimento da natureza e "reações" desse mundo natural. A falta de cuidado dos setores
pecuaristas em Mato Grosso do Sul,
por exemplo, pode ter facilitado,
mas não foi a ação humana que
criou a febre aftosa. A ação humana
agravou a situação e permitiu a reemergência dessa doença no rebanho
brasileiro.
No caso da seca na Amazônia,
também existe um movimento climático natural. Aparentemente, o
aquecimento global está contribuindo para a formação de uma barreira
de calor que dificulta a formação de
nuvens que trazem a chuva .
É importante perceber como são
poderosos, mas superfrágeis, os arranjos dos sistemas da natureza em
vigor no planeta atualmente. Com o
agravamento dessa conspiração de
fatores naturais e humanos que geram o aquecimento global, um sistema tão precioso e geopoliticamente
importante como a bacia amazônica, pode ser desorganizado com
uma rapidez impressionante.
A seca na Amazônia deveria servir para abrir o olho em relação ao território brasileiro, já que mostra que
todo o sistema pode se desfazer com
uma enorme velocidade.
Folha - Como essas questões ambientais influem na política nacional?
Pádua -Temos que esperar o desenrolar dos acontecimentos no futuro próximo para entender. O atual
governo, com sua visão muito tradicional da política, tem sido muito
impermeável a esse tipo de discussão, o que é espantoso. Não há um
conjunto coerente de políticas, que
são altamente desarticuladas no enfrentamento de problemas relacionados ao ambiente. Estão sendo feitas ações pontuais, que não se conjugam, não se coordenam.
No que se refere ao ambiente, é injusto jogar toda a responsabilidade
sobre o Ministério do Meio Ambiente. O território é onde se manifestam
todas as políticas do governo. O Ministério da Agricultura é fundamental para a discussão ambiental, assim
como o da Integração, o da Fazenda.
O do Meio Ambiente leva as lambadas do que acontece nas políticas
fragmentadas do governo, ficando
sem nenhuma força política. Precisávamos de uma política muito mais
ampla, de ordenamento dos sistemas, conjugação dos programas.
A história do planeta tem
seu próprio movimento e não nos pede licença para se manifestar; ela não existe em razão dos seres humanos
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As políticas desse governo retomaram a idéia de projetos pontuais, que
tentam conquistar a opinião pública
por impacto, em vez de trabalhar
com a sociedade o tipo de modelo
social em que nos encontramos. Esses projetos acabam sendo apresentados de maneira irresponsável e populista, como quando se fala no número de beneficiados com a transposição do rio São Francisco. Fala-se
em 12 milhões de famílias, mas esse
número é equivalente a quase toda a
população da região, o que demonstra uma enorme demagogia.
Folha - Há risco de intervenção internacional na Amazônia?
Pádua - Mantido o atual sistema internacional e a vigência das leis internacionais, a hipótese da intervenção está descartada. Do ponto de vista da história, entretanto, muitos
movimentos rompem as leis internacionais, como podemos ver na invasão do Iraque. Depois dessa invasão, acho que o potencial de uma intervenção futura na Amazônia passou a ser muito maior.
Folha - E seria uma intervenção
preocupada com o ambiente e com a
qualidade de vida mundial ou apenas
uma preocupação com o controle das
fontes de água doce?
Pádua - Os dois. Não acho que isso
esteja no horizonte. É uma possibilidade num futuro mais distante, dependendo do agravamento da crise
ecológica global, e está dentro de um
contexto de desagregação da ordem
internacional. Politicamente, a resposta mais correta e saudável que o
Brasil poderia dar a essa "ameaça"
seria o cuidado com a floresta.
Uma mudança no modelo de ocupação dela, evitar a continuidade da
devastação e estabelecer o império
da lei e da ordem na Amazônia. Mas
acho que, analisando friamente, não
se pode considerar a intervenção
uma carta fora do baralho.
Folha - De que forma o país tem se
preparado para prevenir ou remediar
questões ambientais como as que
afloram atualmente?
Pádua - A sociedade até tem se mexido para tentar lidar com essas
questões ambientais. No Nordeste,
por exemplo, há cooperativas que
trabalham a questão do armazenamento de água. A ação política, entretanto, tem agido de forma muito
míope. Com o caso da aftosa, por
exemplo, há uma enorme correria
para "apagar o incêndio", mas menos por uma preocupação com a
saúde do território e com o ambiente e mais em relação a quanto se está
perdendo na balança comercial, nas
exportações. Em elementos que deveriam ser prioritários nessas questões, como o saneamento básico, há
cortes no orçamento e ações estatais
lentas e ineficazes.
Folha - O que pode ser feito para que
a sociedade aprenda a lidar com o ambiente e prevenir desastres?
Pádua - Algumas medidas têm que
ser decididas por ações políticas e estatais mesmo. Mas claro que isso
também requer um grande debate
social de alto a baixo para enfrentar
os problemas. O importante é a mudança conceitual. Precisamos pensar o território brasileiro de forma
integrada, e não como uma coisa
distante. Pesquisas mostram que
80% da população brasileira não vê
"favela" e "cidade" como partes do
ambiente, quando, na verdade, são
partes fundamentais dele.
O debate precisa ser reforçado,
mudando conceitos e se integrando
no debate econômico e social, sem
ser tratado como um problema separado e específico.
Folha - A mudança de comportamento das pessoas de fato pode diminuir os problemas da humanidade
com a natureza?
Pádua - É o caminho possível, pelo
menos. Precisamos apostar na política, na comunicação, na formação
de uma consciência pública que leve
a mudanças no enfrentamento das
questões da vida na política. Discute-se mundialmente a existência de
tempo histórico para realizar essas
mudanças. Saber se vai haver tempo
suficiente para que enfrentemos essa
imensa constelação de problemas
ambientais globais.
Como historiador, diria que é muito cedo para responder a essa pergunta. Podemos imaginar, entretanto, que essa manifestação dos problemas sem dúvida vai acelerar as
discussões públicas e a ação política.
Folha - De que forma a pobreza e a
desigualdade influenciam a relação
da sociedade com a natureza?
Pádua - Prefiro dizer que o sistema
socioeconômico e a distribuição de
renda têm um impacto ambiental
grande. No debate ambiental global,
chama-se a atenção para o vínculo
entre a pobreza e a degradação ambiental, mas isso obscurece a relação
entre a riqueza, o superconsumo,
padrões de consumo perdulários e
essa degradação.
A riqueza e a pobreza extremas são
dois pólos da realidade que têm impacto sobre o ambiente.
Claro que, do ponto de vista concreto e imediato, as populações pobres são muito vulneráveis às mudanças e à degradação ambiental. As
populações pobres são as que menos
participam do banquete do consumo global e as que mais sofrem e de
maneira mais imediata as conseqüências das mudanças climáticas,
por exemplo.
Acho que podemos vincular a pobreza às consequências da crise ambiental, mas não dá para associar a
causa da crise ambiental à pobreza.
Folha - A febre aftosa no Brasil e a
gripe aviária, na Ásia, se enquadram
nesse mesmo contexto ou formam um
problema à parte?
Pádua - Fazem parte do mesmo
contexto. Não podemos nos prender
a uma análise do planeta apenas do
ponto de vista físico, tratando das
enchentes e dos furacões. É importante ver também o cenário biológico, que também tem impacto na história humana.
Um dos elementos mais importantes da história é a circulação desses patógenos no planeta, trazendo
impactos sociais e econômicos muito grandes.
Com a globalização, o historiador
Le Roy Ladurie diz que aconteceu
uma "unificação microbiana do
mundo", e passamos a ter as mesmas doenças nas diferentes regiões
do planeta. No século 20, com a intensificação dos movimentos humanos, se tem a emergência de novas
doenças, como a gripe aviária.
No caso da aftosa, doença mais conhecida e tradicional que tentamos
erradicar há muito tempo, fica claro
o descompasso entre a imagem que
o agronegócio tenta divulgar de si
mesmo, de um setor altamente modernizado, e a realidade do setor, ligado ao contrabando com o Paraguai, à busca de gado mais barato
por canais extra-oficiais e fugindo
dos controles sanitários e o fetiche
da vacinação -que tem um certo
grau de eficácia, mas que não resolve
completamente o problema, já que
não leva em consideração o ambiente como um todo. A lei do menor esforço continua muito forte nesse setor agropecuário.
Além disso, o problema está ligado
ao crescimento descontrolado do rebanho, que passou de cerca de 135
milhões de cabeças em 1988 para
quase 200 milhões hoje em dia.
Folha - Como isso tudo funciona no
processo histórico?
Pádua - Estamos vivendo uma situação relativamente confortável da
vida humana no planeta, mas que
tem seu próprio movimento. É importante lembrar da visão aristotélica, segundo a qual a natureza existe
por si mesma e possui em si o princípio do seu movimento. Ela não existe em razão dos seres humanos. A
história do planeta tem seu próprio
movimento e não nos pede licença
pra se manifestar. A idéia que temos
de um planeta tranqüilo e mais ou
menos estático é falsa e perigosa.
O planeta está em movimento e se
movendo de formas que não nos pede licença. Quando as placas tectônicas se chocam, geram-se os tsunamis, sem considerar quem está em
cima, quantos milhares de pessoas
podem morrer, quais são as estruturas políticas e sociais que existem ali.
Folha - Analisando a relação da sociedade global com o planeta, o que
vem mudando nos últimos anos?
Pádua - A idéia da natureza como
palco, cenário silencioso e estático
contra o dinamismo todo da ação
humana vem sendo cada vez mais
contestada pelos movimentos intensos e surpreendentes que podemos
observar nos últimos tempos. Esse
cenário tem vida própria.
Folha - Existe alguma relação entre
essas diferentes manifestações no
planeta nos últimos tempos?
Pádua - Creio que sim. O grande
foco dessa ligação é o clima. Precisamos ter uma visão mais sistêmica e
histórica de longo prazo da questão
do clima. O problema não é o impacto direto do clima; o problema é
o impacto sistêmico das mudanças
climáticas e do aquecimento global.
Aumentos modestos podem causar impactos enormes no arranjo
atual do planeta e em todos os problemas que estamos vivendo: intensificação dos furacões, secas, enchentes, em tudo isso há efeitos indiretos do aquecimento global.
Folha - Pode-se pensar num cenário
de destruição desse ambiente?
Pádua - Há dois graves equívocos
aqui: o primeiro é o de achar arrogantemente que todos esses fenômenos são causados apenas pela
ação humana. O segundo é achar
que a ação humana é capaz de provocar o fim da vida no planeta. No
artigo "A Regra de Ouro", Stephen
Jay Gould comenta que todo nosso
armamento nuclear atual corresponde a um décimo de milésimo do
impacto que a terra sofreu a 65 milhões de anos, quando um asteróide
se chocou contra ela, provocando a
extinção dos grandes dinossauros.
Foi um impacto de movimentos
da história cósmica, muito superior
àquele que a nossa tecnologia pode
produzir, e o enorme baque que o
planeta sofreu não foi suficiente para
extinguir a vida, que se recuperou e
criou uma biodiversidade até maior
do que a que havia antes. Estamos
ameaçando apenas a nós mesmos.
Estamos ameaçando esse arranjo
produzido pela história do mundo
nos últimos tempos e que foi favorável ao desenvolvimento da nossa vida. É um problema político como
discussão sobre a sobrevivência e
destino da comunidade humana.
Folha - Pode-se dizer que esses movimentos da natureza se intensificaram nos últimos anos?
Pádua - Esse movimento da natureza é intenso e antigo, observado há
muito tempo. Desde o ano passado
tivemos uma seqüência de acontecimentos, como o tsunami na Ásia, o
furacão em Nova Orleans, a seca na
Amazônia, as enchentes na China,
uma manifestação impressionante
da natureza.
Oswaldo Cruz usava a imagem do
duende na Amazônia, falando da
malária. Eu gosto de usar essa metáfora do duende do planeta, que está
rugindo, se mostrando presente.
Outra questão é analisar o quanto
as ações humanas, o crescimento
impressionante do fluxo de matéria
e energia no século 20, a criação de
estruturas industriais tão complexas
no planeta -toda essa ação humana- ajudam a provocar isso tudo,
intensificando o movimento dinâmico do planeta, que não segue necessariamente em nosso favor.
Isso ajuda a derrubar as teses do
ambientalismo superficial, que tenta
colocar a questão sempre em termos
de culpa da ação humana, o que gera
a arrogância de que a ação humana é
toda-poderosa, sendo capaz de provocar enchentes, secas etc.
Folha - Qual vai ser o lugar da discussão ambiental na sociedade nos
próximos anos?
Pádua - O problema central do
próximo milênio vai ser a gerência
dos nossos sistemas complexos, fluxos de matéria e energia, no contexto dos fluxos do planeta de forma a
não produzir caos, seja democrática
e construa a melhoria das condições
de vida. É provável que a questão
ambiental seja tão importante no século 21 como foi a social nos séculos
19 e 20, pelos desafios que ela coloca
à política, pelo menos no Ocidente.
Precisamos entender o lugar do ser
humano no sistema de vida do planeta e como a defesa de nossos interesses não pode se chocar com a manutenção desse sistema, que é a condição para a nossa vida.
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