São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2001

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O historiador João Paulo Coelho de Souza Rodrigues analisa, no recém-lançado "A Dança das Cadeiras" (ed. Unicamp), os nexos entre cultura e política nas origens da Academia Brasileira de Letras.

A ABL é uma instituição política?
É preciso frisar que a Academia inclui cientistas sociais, diplomatas etc., não sendo estritamente literária. Feita essa ressalva, pode-se dizer que ela é uma instituição política, mas não no sentido da política partidária. Além das eleições e outros ritos, a ABL defende a posse de uma memória supostamente nacional que lhe daria um mandato para falar dos interesses da sociedade junto ao Estado e a organizações brasileiras e estrangeiras. Isso sem contar que ela reiteradamente corteja figuras benquistas pelos governantes, raramente aceitando "malditos" ou "alternativos".
Como a filiação à ABL influi na concepção de literatura dos escritores?
Creio que não influi. Talvez o engajamento ajude a consolidá-las, mas eles já possuem suas convicções bem formadas antes de entrar para a ABL.
Qual é a importância da ABL hoje?
Sobretudo na riqueza de seu arquivo e biblioteca. Fora isso, é difícil avaliar, pois ela parece passar por uma transição, depois da longa, austera e retraída gestão de Austregésilo de Athayde. Ultimamente, suas eleições, as recentes reformas de sua sede e várias atividades culturais aparecem mais na mídia, em roupagem mais "moderna". O resultado disso só se sentirá no futuro. Mas, apesar da incógnita, a ABL se mantém como uma instituição que foge da atividade crítica e participativa no debate de idéias, e aí reside sua principal fraqueza.



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