|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
+Sociedade
Diplomacia do silêncio
Teste nuclear
da Coreia
do Norte
exige novo
tipo de atitude
da comunidade internacional
|
EDWARD LUTTWAK
ESPECIAL PARA A FOLHA
Nos últimos dias, a
Coreia do Norte
detonou uma
bomba nuclear e
violou proibições
do Conselho de Segurança da
ONU, lançando mísseis balísticos. Na quarta-feira, ameaçou
atacar a Coreia do Sul, repudiando formalmente o acordo
de armistício firmado em julho
de 1953 [que encerrou a Guerra
da Coreia], com isso de fato revertendo a um estado de guerra
com os EUA também.
Essas são provocações extremas -de fato, apenas um ataque concreto com disparos poderia superá-las-, mas a única
resposta possível terá que ser
diplomática.
Contudo, apenas um tipo
muito especial de diplomacia
tem alguma chance de render
resultados positivos: uma diplomacia do silêncio.
Sob ela, nenhuma comunicação de qualquer espécie seria
feita com o regime norte-coreano, não haveria diálogo com
qualquer diplomata norte-coreano em qualquer lugar e, sobretudo, nenhuma tentativa
seria feita para reatar negociações sob formato nenhum.
Obviamente, uma conduta
desse tipo contradiria todas as
doutrinas e preferências usuais
dos diplomatas.
O instinto deles é conversar
com todo adversário com
quem é possível conversar
-aqueles que têm inclinação
histórica podem até citar a frase do belicoso Churchill [primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra] segundo a qual é sempre melhor
"jaw-jaw than war-war" (conversar do que travar guerra).
Para falar com mais simplicidade, quando não há reconhecimento diplomático a ser trocado por concessões, os diplomatas operam com base na
premissa de que conversar é
sempre uma boa ideia porque
as palavras não custam nada,
mas podem produzir resultados palpáveis que valham alguma coisa, mesmo que seja pouco -e que talvez valham muito.
Mas não desta vez. Há anos
os EUA, a China, a Rússia, o Japão e a Coreia do Sul vêm negociando pacientemente com a
Coreia do Norte, oferecendo
ajuda econômica, garantias de
segurança e todos os benefícios
da "normalização", em troca de
a Coreia do Norte abandonar
seus programas e suas instalações de armas nucleares.
A Coreia do Sul forneceu
grandes pagamentos adiantados sob a forma de investimentos, assistência alimentar e
grandes presentes em espécie.
Assim, ao longo de anos, enquanto a ditadura militar do bizarro Kim Jong-il continuou a
fazer sua própria população
passar fome para poder acumular mais equipamentos militares -milhões de pessoas já
morreram de fome, literalmente- e continuou a vender tecnologia nuclear e de mísseis ao
Irã e à Síria, ela foi sendo ricamente recompensada diplomaticamente.
Os delegados de Kim Jong-il
se sentaram ao lado dos representantes de EUA, China, Rússia e Japão -uma concessão
importante que, por si mesma,
elevou o prestígio do regime.
Sem concessões
Mas, a cada vez que o país cometeu um novo ultraje, desde
lançar mísseis balísticos sobre
o Japão até vender armas a terroristas, a reação foi retomar as
conversações, sem nenhuma
redução nas concessões oferecidas e até mesmo com mais
presentes da Coreia do Sul.
Isso precisa parar -e agora.
O regime norte-coreano nunca
cedeu nada de importante nas
negociações passadas que não
atendesse aos interesses de
ninguém exceto ele.
Desta vez, é preciso que a
provocação não seja novamente recompensada. Evidentemente, o objetivo norte-coreano é atrair mais atenção, mais
ofertas de concessões, mais
presentes. A Coreia do Norte
não deve receber nada.
Como a conversa até agora
fracassou por completo, é possível que o silêncio ainda convença os norte-coreanos a melhorar seu comportamento.
EDWARD LUTTWAK é historiador e especialista em defesa do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos, em Washington (EUA).
Tradução de Clara Allain.
Texto Anterior: Filmoteca Básica: Cria Cuervos Próximo Texto: Brasil adia ida de embaixador Índice
|