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Análise No Brasil, o problema dos altos juros é o 'spread' bancário MARCELO L. MOURAESPECIAL PARA A FOLHA O Brasil é um país no mínimo curioso. Países como os EUA e a Alemanha entrariam em colapso se tivessem as taxas reais de juros brasileiras para crédito pessoal ou para capital de giro. No entanto, essa resiliência verde-amarela não deve ser motivo de orgulho, muito pelo contrário. Juros altos minam nossa capacidade de investir e de criar um mercado consumidor forte e pujante, resultando em taxas de crescimento relativamente baixas para um país emergente. A taxa básica de juros no Brasil, a Selic, não é a origem do problema, mas sim o que se cobra acima desta para emprestar, o "spread". A atuação do Banco Central nos últimos anos resolveu um problema crônico de inflação que durou várias décadas. Baixar a Selic artificialmente será ineficaz e irá trazer de volta um velho e perigoso inimigo, que é a inflação. Por que o "spread" é tão alto? Um estudo recente do Banco Central indicou que apenas dois fatores explicam 85% do "spread": margem de lucro dos bancos (55%) e inadimplência (30%). A inadimplência é alta por dois motivos. Primeiro, nossa legislação protege pouco aquele que empresta. Prova disso é que o crédito que mais cresce é o de financiamento de veículos e o consignado, que têm, respectivamente, o automóvel e o salário como colaterais. Segundo, seleção adversa: com taxas de juros tão altas, somente aqueles com recursos limitados e com poucas alternativas se dispõem a tomar empréstimo. Com relação à margem de lucro, primeiramente uma ressalva. Qualquer empresa em uma economia de mercado sempre tentará obter o máximo lucro. O que impede o abuso é a competição. O setor de telefonia no Brasil é exemplar. Se o consumidor tem a portabilidade da linha e a facilidade de trocar de empresa telefônica, os preços caem e a qualidade melhora. Ao contrário, notem a dificuldade que um cliente tem de trocar de banco. Resolver o problema passa por incentivo e punição aos bancos: proteger seus direitos de cobrar, mas punir suas ineficiências e sua relutância em competir no mercado. Para os clientes dos bancos, a regulação deve promover portabilidade da conta-corrente e facilidade em escolher outro banco melhor e mais barato. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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