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Consultorias tentam resgatar motivação no trabalho

Especialistas em recursos humanos dos EUA criticam excesso de tarefas que domina o mercado na era da superconectividade

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Trabalhar sem motivação, bem além das oito horas diárias, sem ver propósito. Só para pagar as contas. Sentir-se culpado porque essas horas nunca são suficientes. E não ganhar mais dinheiro nem reconhecimento para tanto, tendo de lidar, muitas vezes, com um chefe-feitor.

O que seria uma descrição das linhas de montagem do início do século 20, se não fosse pelo componente de ansiedade, é um retrato do ambiente de trabalho atual pintado com cada vez mais frequência por estudiosos de recursos humanos nos EUA.

Para revertê-lo, consultorias como o Energy Project, estão resgatando ideias tão óbvias quanto esquecidas na era da superconectividade: impor-se um limite de horas para trabalhar, dormir mais, comer bem, fazer uma coisa de cada vez, respeitar os subordinados e não perder de vista metas de longo prazo.

"Os princípios universais são questões de bom senso", diz Tony Schwartz, presidente do Energy Project.

"Mas não me surpreende que as pessoas não percebam, pois vivemos numa velocidade tão alta que nos tornamos muito reativos."

Schwartz, um ex-jornalista no "New York Times" e na "Newsweek" que escreveu livros como "Não trabalhe muito, trabalhe certo" (2011, editora Campus), criou o Energy Project em 2003.

A consultoria, que mira o Brasil, amealhou clientes que vão de empresas de tecnologia, como o Google e o Facebook, a grandes bancos.

Sua premissa é que, para manter os funcionários com energia, focados e produtivos, é preciso preservar quatro aspectos de sua vida: físico, mental, emocional/psicológico e espiritual/filosófico.

Schwartz mantém ainda um blog popular no site da "Harvard Business Review", no qual se propõe a derrubar mitos da cultura corporativa atual, como a ideia de que é uma qualidade realizar várias tarefas ao mesmo tempo.

Citando um estudo da Associação Americana de Psicologia, o consultor diz que com a mudança constante de foco as pessoas levam 25% mais tempo para terminar uma tarefa.

Ainda entra na conta o apelo do e-mail -visto por cada vez mais consultores como ralo de energia e tempo.

Na mesma "Harvard Business Review", Anthony Tjan, da consultoria Pathernon, recomenda o telefone para resolver problemas em lugar de longas trocas de e-mail, menos produtivas e mais abertas a mal-entendidos.

Para Schwartz, os funcionários deveriam ficar ao menos uma hora por dia sem o e-mail e usá-la para concluir tarefas que exijam atenção.

Ele também critica a cultura americana do "mais, maior e mais rápido", que se perpetua fora do país.

"A tecnologia nos levou para um nível [de trabalho] inédito, com o qual as pessoas não podem mais lidar", diz.

"Em todos os lugares, ouvimos a mesma coisa: as pessoas estão jogando a toalha, sem saber o que fazer. Precisamos de novos paradigmas", afirma.

Ele cita uma pesquisa feita pela consultoria Towers Perrin há três anos com 90 mil funcionários de empresas em 18 países para alegar que só 31% das pessoas se veem envolvida com seu trabalho. "Na China os números são ainda piores, só 17%."

Os mais motivados, diz o levantamento, são os indianos. "Não temos dados do Brasil, mas há características similares que levam à motivação, sobretudo a ascensão de uma nova classe média."

Nos EUA, um levantamento do Gallup aponta que 70% dos americanos se dizem desmotivados. Quem estudou mais, tem uma renda média e mais de 30 anos está especialmente insatisfeito.

Schwartz atribui isso, em parte, à angústia dos funcionários de não conseguir cumprir o que parece ser hoje esperado de todo mundo: disponibilidade 24 horas, aptidões variadas e a capacidade de empilhar tarefas. A isso se soma uma chefia que não elogia nem motiva.

"As pessoas se sentem culpadas de não conseguir cumprir a demanda."

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