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Analise conjuntura

Crise do euro pode afetar combate à inflação

Para 2012, há indicações de desvalorização do real e aumento de salários, o que manteria os preços em alta no Brasil

As fragilidades da zona do euro são a pouca capacidade de atuação do BC, política fiscal descoordenada e incapacidade de ajustes cambiais

GERALDO BARROS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A crise internacional de 2008, que ainda não se arrefeceu, desnudou a governança deficiente não somente na zona do euro, um conglomerado de países de culturas, línguas e níveis de desenvolvimento diferentes, mas também nos Estados Unidos, uma república democrática desenvolvida e consolidada.

Em meio à imensa turbulência, os emergentes procuram minimizar os estragos que podem agravar a inflação e afetar o crescimento.

Nos EUA, a expansão exagerada da liquidez sem as necessárias regulações levou, primeiro, a um forte crescimento mundial, mas, depois, à crise do "subprime", deixando desemprego muito elevado e o governo e a população atolados em dívidas.

O Banco Central Europeu tenta, quase que inutilmente, reavivar a economia provendo mais liquidez, gerando desajustes cambiais, que perturbam os demais países.

Prossegue uma batalha deplorável entre partidos políticos que, em vez de conceberem um plano fiscal sustentável, mantêm a administração pública de mãos atadas.

A zona do euro, contagiada pela crise nos EUA, mostra grande fragilidades: um BC com limitada capacidade de atuação, política fiscal descoordenada e impossibilidade de ajustes cambiais.

Uma cúpula improvisada vai impondo soluções extemporâneas: corretas se aplicadas em tempos de bonança ou normalidade, mas que, na crise, levam ao caos social e à queda em cascata de governos de países-membros.

A China foi a grande beneficiária das imprudências dos países desenvolvidos, aproveitando-se do consumo desenfreado nos Estados Unidos que antecedeu a crise.

Foi hábil ao usar o privilégio de mesclar doses certas de autoritarismo político e econômico com a vitalidade do capitalismo para investir maciçamente, aumentar a produtividade, conter custos e manipular (atrelar ao dólar) sua taxa de câmbio. Mas agora sente a perda de mercados, inflação em alta e necessidade de conter parcialmente seu crescimento, voltando-se mais para o mercado interno.

O Brasil também tirou proveito da expansão mundial pré-crise, com forte crescimento das exportações puxadas pela China. Expandiu o consumo interno alimentado pelo crédito abundante, prolongado e caro. Emprego e salários cresceram, mesmo com baixo investimento e falta de competitividade industrial. Usou agilmente medidas contracíclicas, mas demorou para retirá-las e para entender o impacto que a recuperação de preços das commodities teria sobre a inflação.

Quando as medidas de estímulo foram suspensas e os juros elevados, à desejada queda da atividade no Brasil veio se somar a desesperança em relação à solução das crises na Europa e nos EUA.

Uma manobra de alto risco foi realizada, invertendo-se a curva dos juros em meio a inflação elevada, contando-se fundamentalmente com a ajuda do esfriamento provocado pelo agravamento da crise e por um prometido aperto fiscal.

Para 2012, não há sinais importantes de queda das commodities (exceto devido à insistente valorização do dólar americano). Há indicações relativamente seguras de desvalorização do real e certeza de substancial aumento dos salários.

Será que, além de crescer pouco, o país vai ter inflação alta? Será sustentável a queda dos juros?

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