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Venda de objetos obtidos no lixo complementa renda na França

GRACILIANO ROCHA DE PARIS

Entre segunda e quinta-feira, a francesa Giselle, 55, percorre os bairros ricos de Paris revirando as lixeiras em busca de calçados, roupas e objetos descartados.

Nos finais de semana, revende tudo o que conseguiu em uma feira clandestina no extremo leste da capital.

A atividade de recuperar coisas jogadas no lixo para revender é chamada de "biffe", na França. Ser apanhado vendendo numa feira ilegal pode render multa de até € 3.700 (R$ 10.700) e um processo que pode levar a seis meses de prisão, em caso de reincidência.

Majoritariamente praticada por imigrantes que fugiram da guerra ou da pobreza em seus países de origem, a "biffe" virou uma alternativa para assalariados franceses que não conseguem mais viver com o que ganham.

Assistente administrativa de uma empresa de comércio, Giselle ganha € 1.500 (R$ 4.350) por mês. O lixo dos outros dá a ela um complemento que varia de € 200 (R$ 580) a € 300 (R$ 870), o suficiente para tirar as contas do vermelho.

"Consegui viver com o meu salário até 2010, mas hoje não dá mais, e o pior de tudo é que não há nenhum sinal de que as coisas vão melhorar", disse Giselle, que pediu que tivesse o sobrenome omitido pela ilegalidade da atividade.

O empobrecimento da classe média-baixa francesa se traduz em números do governo. Segundo o Insee (IBGE da França), em 2012 o poder de compra dos trabalhadores franceses caiu 0,9%, o maior tombo desde 1984.

Economistas dizem que a perda de poder aquisitivo pode ter ultrapassado 2% em 2012 entre pessoas com faixa de renda como a de Giselle, que não fazem parte dos programas de subsídios às famílias mantidas pelo Estado.

Na feira que ocorre na passarela sobre a Périphérique (anel viário), na divisa entre Paris e a cidade metropoli- tana de Montreuil, sapatos usados são vendidos a € 5 (R$ 14,5), e um celular velho, a € 15 (R$ 43,5).

ONGs que defendem a legalização da atividade dizem que mais de 5.000 pessoas precisam catar lixo para sobreviver em Paris. O número de franceses, muitos deles aposentados, cresceu nos últimos tempos.

"A biffe' sempre existiu, mas nunca teve tanta gente como agora", diz Samuel Le Coeur, presidente da Amelior, entidade que reúne os catadores franceses.


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