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Vinicius Torres Freire

Falta de ar na banca europeia

Começam a pingar relatos de que sistema financeiro vai parando, sem fundos, como nos EUA de 2007-08

OS BANCOS EUROPEUS começaram a ter dificuldades para levantar dinheiro já no ano passado. Essa é uma história velha. Neste final de novembro, porém, aparecem histórias de que o sistema financeiro europeu está emperrando.

ªCredit crunchº, um aperto forte no crédito motivado por quebras ou forte crise de confiança no próprio mercado, é uma situação grave. Há pouca gente séria que usa aberta e tranquilamente a expressão. Por ora, a opinião mais comum é a de que falar em ªcrunchº é exagero.

Mas, quando se começou a mencionar ªcredit crunchº nos Estados Unidos, lá por junho de 2007, a reação foi a mesma: ªexageroº.

Os dados ainda são dispersos. ªLocalizadosº, se diz. Mas notícias ruins pipocam em cada relatório de economistas e estrategistas dos maiores bancos do mundo, que não ousam dizer o nome da crise, mas notam indícios do ªcrunchº.

Não é o caso de economistas do Société Générale, por exemplo, que soltaram um breve relatório ontem com o título ªDados de empréstimos mostram primeiro indício de `credit crunch'º. Um dado impressionante é a redução dos empréstimos imobiliários em outubro, a maior queda desde dezembro de 2008.

Como se recorda, o final de 2008 ainda era um momento de pânico agudo na finança mundial.

Nesta semana, o jornal britânico de economia ªFinancial Timesº (ªFTº) publicou o resultado de levantamento que seus jornalistas pediram a uma consultoria a respeito do financiamento bancário.

Título: ªBancos europeus sentem o aperto no financiamento [`crunch funding']º. Isto é, os bancos sentem grande dificuldade de captar dinheiro (para ªreemprestá-loº, para fazer negócios).

Segundo os dados compilados para o ªFTº, neste ano os bancos europeus levantaram o equivalente a US$ 413 bilhões com a emissão de títulos, apenas dois terços do que eles devem pagar a credores (no caso, quem investiu em seus títulos).

ªO buraco de financiamento dos bancos europeus está se aprofundando devido a uma queda forte na emissão de títulos neste ano, enquanto o tumulto no mercado conduz a região a um amplo `credit crunch'º, diz a linha de abertura do relato do ªFinancial Timesº.

Há outros dados, picados, de que continua a fuga de depósitos de bancos dos países mais afetados pela crise na Europa. De empresas que não conseguem refinanciamento. As agências de classificação de risco, que sempre chegam após as batalhas para matar os feridos, ameaçam rebaixar a nota dos bancos.

Mesmo o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, deu a entender que, até a semana que vem, ele e seus diretores devem anunciar alguma medida contra uma asfixia terminal na região.

O BCE já empresta dinheiro a bancos frágeis; exige garantias menos sólidas para emprestar. O BCE compra ainda títulos da dívida de governos semiquebrados a fim de levantar seu valor (baixar os juros).

Os papéis da dívida dos governos são as garantias usadas pelos bancos para fazer operações na praça (ora raras) e para tomar empréstimos do Banco Central Europeu. Se valem menos, garantem menos empréstimos, claro. Menos empréstimos, mais recessão. Etc.

A situação europeia está ficando crítica. Como a dos EUA de 2007.

vinit@uol.com.br

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