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Mantega afirma que disparada do dólar é 'minicrise'
Para ministro, impacto na economia brasileira será menor do que o provocado pela recessão europeia
Titular da Fazenda diz que não há saída de capitais e que não há limite para a ação do BC contra a alta da moeda
O ministro Guido Mantega (Fazenda) classificou a atual turbulência cambial, que levou o dólar ao patamar de R$ 2,40, como uma "minicrise", deflagrada pela expectativa de que, com a recuperação da economia americana, haja migração de investimentos de emergentes para os EUA.
A avaliação do ministro é que a mexida global é passageira e que o seu impacto sobre o Brasil será menor do que o provocado pela crise europeia, em 2011 e em 2012.
"O impacto será menor porque, ao contrário daquela época, quando os países estavam entrando em recessão, agora a economia mundial está saindo do buraco, o que faz diferença", disse ele, durante almoço com empresários do Lide, em São Paulo.
O ministro afirmou que a recuperação da economia americana é "uma faca de dois gumes". Por um lado, irradia crescimento para outros países. Por outro, a redução na política de estímulos monetários causa turbulência, "que atrapalha, em vez de ajudar", no curto prazo.
A perspectiva mais promissora nos EUA está provocando uma migração de capitais dos países emergentes para o mercado americano, o que fortalece o dólar e desvaloriza as demais moedas.
Apesar da reversão, Mantega argumentou que o Brasil está numa situação relativamente segura, com reservas de US$ 370 bilhões.
Segundo o ministro, o fluxo de investimentos estrangeiros na produção e em aplicações financeiras no Brasil, como a Bolsa e títulos do governo (US$ 58 bilhões), supera a marca do ano passado.
"Nossa situação é mais favorável do que a de outros países, onde está havendo saída de capitais e as reservas estão diminuindo."
Na soma dos emergentes, disse ele, já foram gastos US$ 150 bilhões em reservas.
"No Brasil não caiu um tostão [do valor das reservas]. Aqui, não falta dólar, no mercado à vista sobram dólares. A desvalorização do real é no mercado futuro, onde os fundos ficam comprados [apostam na alta do dólar]."
O real, contudo, tem se enfraquecido com mais intensidade do que a moeda de muitos emergentes. Em um grupo de 24 países, só fica à frente de África do Sul e Índia. Nas palavras do ministro, isso se deve a "uma virtude".
"O Brasil é um mercado aberto, mais líquido e mais seguro", afirmou Mantega, enfatizando que o Banco Central pode usar mais recursos (além dos US$ 60 bilhões até o fim do ano) em operações no mercado futuro para conter a alta do dólar. "Não temos limite para isso", disse.
Para o ministro, os efeitos da elevação do dólar sobre a inflação no Brasil dependerão do tempo em que a cotação mais alta persistir.
"Se durar um tempo mais longo, veremos o que tem que ser feito, como reduzir a tarifa de importação", disse.
Outra forma aventada pelo ministro da Fazenda é diminuir o custo de produção no país via desonerações, para neutralizar aumentos de preços.