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"Ser progressista é combater o monopólio do Google"

Um dos mais famosos sociólogos do mundo, Richard Sennett diz que é preciso limitar poder das grandes corporações de tecnologia

RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTON

Um dos mais famosos sociólogos do mundo, professor da London School of Economics e da Universidade de Nova York, Richard Sennett, 70, comprou uma grande briga recente. Em palestras e em artigos, tem defendido que o governo americano acabe com o monopólio das gigantes empresas da internet.

"Ser progressista hoje é querer o desmembramento do Google", diz, recordando o movimento progressista de Theodore Roosevelt, que há cem anos enfrentou monopólios de empresas petrolíferas, de aço e ferrovias.

Autor do clássico "O Declínio do Homem Público", ele admite que "progressistas estão em falta, especialmente nos EUA", e que a esquerda virou "inofensiva". "Vemos o capitalismo de fora", reclama o ex-músico, que nasceu em um conjunto habitacional popular em Chicago.

Casado com a também socióloga Saskia Sassen e grande amigo do filósofo Michel Foucault, Sennett prepara livro sobre as cidades nos países emergentes e também fala dos protestos no Brasil.

Folha - Por que é progressista ser a favor do desmembramento do Google?

Richard Sennett - Os progressistas do início do século 20 acreditavam que havia um tamanho racional para os negócios, aquele que permite a concorrência. Quando os negócios crescem demais e surgem monopólios, o Estado precisa fazer o papel regulador.

Theodore Roosevelt, presidente progressista americano, defendia o capitalismo e dizia que era necessário reformá-lo. É isso que o sr. advoga?

Se Roosevelt fosse presidente agora, acabaria com os monopólios de Google, Apple, Microsoft, Facebook e Amazon. São grandes demais para permitir concorrência, esmagam os menores e isso é ruim para o capitalismo.

Mas o sr. vê alguma possibilidade de isso acontecer?

Restaram poucos progressistas nos EUA. Eu escrevo na revista "The Nation", a publicação de esquerda do país, mas somos tão pequenos, tão inofensivos. Saímos do jogo. Nos EUA, as pessoas têm medo do governo, não querem nada com o governo.

A esquerda americana protesta contra Wall Street, mas costuma defender os gigantes do Vale do Silício.

Há uma boa contradição por lá. Os empresários da tecnologia são libertários por natureza, querem menos impostos e mais liberdades. Mas têm tendências monopolizantes e falta governo que breque esses anseios de controlar tudo. Porém são muito melhores que o Goldman Sachs, que gosta de usar o Estado para servir aos arranjos financeiros que quebraram a Grécia, por exemplo.

Como o sr. vê o fracasso dos protestos contra a crise econômica, especialmente o Occupy Wall Street, e as manifestações bem mais numerosas no Brasil e na Turquia, com temas locais como gatilhos?

A maioria das pessoas tem uma atitude muito fatalista com o capitalismo. FMI, Banco Mundial, bancos, tudo muito difícil e abstrato para reformar. Já a qualidade de vida nas cidades é algo muito concreto. Não é trivial, você mora lá. Não acredito que seja a alta das expectativas em Istambul ou em São Paulo, mas problemas concretos que as pessoas acham que podem ser resolvidos.

Os emergentes estão copiando os shoppings, os subúrbios e o gosto pelo carro das cidades americanas de 50 anos atrás, justamente quando o modelo está em crise aqui.

Por razões econômicas, as cidades emergentes estão sendo padronizadas. Até "características locais" estão sendo produzidas em série. Ainda vivemos sob a influência do planejamento mecânico de Le Corbusier, ele também um progressista que achava que a produção em massa democratizaria a habitação.

E nos EUA, essa mudança dos jovens querendo morar nas áreas centrais, é para valer?

Sim, é um fato. As cidades americanas estão se latino-americanizando. Os ricos estão voltando para as áreas centrais, e a periferia vai pertencer aos pobres. No mundo, [a urbanista] Jane Jacobs, que defendia cidades mais compactas e de usos mistos, pode ter perdido para o Le Corbusier, mas nos EUA ela está sendo redescoberta.

Copa e Olimpíada no Brasil também têm sido alvo de protestos, pela ausência de um legado. Virou um mau negócio abrigar esses eventos?

Em democracias, talvez. Prefiro sempre o menor ao maior. Cinco escolas pequenas a uma gigante. Vinte clínicas em vez de um gigante hospital. O oposto de políticos e de muitos urbanistas. E o oposto do gigantismo desses eventos.


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