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Cifras&Letras

Entrevista Jane Maas

Havia sexo no ar, na hora do almoço e no escritório

Jane Maas, 81, citada como inspiração para personagem de 'Mad MEn', narra vida nas agências publicitárias de 1960

RODOLFO LUCENA DE SÃO PAULO

Alto, magro, elegante, criativo e um pouco bêbado, o chefe da então jovem redatora publicitária Jane Maas sentava ao lado dela em uma cama de hotel, onde os dois estavam hospedados em razão de um evento profissional. A mão do homem descansava sobre a coxa da garota, que não podia pedir ajuda nem reagir sob pena de colocar em risco seu emprego.

"Vamos para a cama, então?", convidou ela. "Parece que eu fico mais cansada ainda quando estou menstruada..." O interesse do conquistador desapareceu como por encanto.

O episódio faz parte de situações enfrentadas por mulheres que se aventuraram no mundo eminentemente masculino da publicidade nos anos 1960 e 1970, período retratado no seriado televisivo "Mad Men".

O caso é contado por uma das pioneiras no livro "Mad Women", que traz a visão feminina daquele universo.

Apontada como a inspiradora da personagem Peggy Olson no seriado, Jane Maas foi diretora criativa da Ogylvi & Mather, presidente de agência e vencedora de 47 prêmios, entre outras conquistas ao longo de sua carreira.

Hoje com 81 anos, continua atuante. Trabalha como consultora, faz palestras e escreve. Seu primeiro livro de ficção está previsto para novembro. Viúva, mora em Nova York e tem um "beau" que lhe telefona todas as manhãs e declama poesia.

Nesta entrevista, realizada por e-mail, a autora fala dos desafios profissionais das mulheres naquele tempo e atualmente.

Folha - A senhora nota semelhanças entre sua carreira e a de Peggy?

Jane Maas - Ela e eu começamos como secretárias e subimos na carreira. Quando fui contratada como redatora na Ogilvy & Mather, já tinha trabalhado por anos como secretária e atuado por dois anos como produtora associada em um show televisivo.

Talvez por essa experiência achassem que eu sabia tudo sobre televisão (na época, ainda um meio misterioso para muitos) e que saberia escrever comerciais para TV.

Quais são os principais erros de "Mad Men" em relação ao papel das mulheres na época?

No início dos anos 1960, nós não éramos nem um pouco militantes. Nem ao menos nos preocupávamos por ganhar apenas a metade do que os homens ganhavam. Éramos apenas agradecidas por termos sido incluídas naquele mundo totalmente masculino. Simplesmente estar lá parecia maravilhoso.

E o que há de correto?

Havia muito sexo rolando nas agências. Se você fosse uma mulher trabalhando em uma agência, não importa se jovem ou mais madura, casada ou solteira, desde que razoavelmente atraente, os homens tentavam cantadas. E, se seu chefe estivesse a fim de um caso, você tinha de avaliar o que era mais importante para você, sua honra ou sua carreira.

Como a senhora compara aquela época com a de hoje?

Havia sexo no ar e sexo nos escritórios e sexo na hora do almoço, em hotéis próximos às agências. Nos almoços de então, os caras bebiam três martinis (as mulheres iam talvez uma vez por semana, mas não diariamente).

Havia muita maconha e as pessoas fumavam 24 horas por dia. Hoje quase ninguém fuma, exceto a rara agência que tenha a conta de uma fabricante de cigarros. Não há almoços com três martinis, as pessoas mal têm tempo para almoçar, devoram um sanduíche enquanto trabalham.

E não há tempo para sexo. Além do mais, basta um homem sorrir para uma mulher colega de trabalho que poderá ser processado por assédio sexual.

As agências são locais cruéis hoje em dia. Os clientes são menos fiéis do que nos anos 1960/1970, e o pessoal das agências vive apavorado com medo de perder seus empregos. Gente apavorada raramente consegue ser criativa e produzir boas peças.

Seu livro destaca a condição de exploração das mulheres. A senhora é uma feminista?

Há quem considere meu livro sexista porque eu digo que, nos anos 1960 e 1970, antes que o movimento feminista fosse mais atuante, nós, mulheres, aceitamos nosso estado de segun- da classe no mundo da publicidade. Eu não sou feminista, nunca fui.

O movimento feminista fez muito para ajudar as mulheres a encontrar sua voz e começar a lutar por seus direitos. Mas acabou muito cedo. E levou as mulheres a acreditar que eram supermulheres e que podiam fazer qualquer coisa. E claro que isso não é verdade.

Qual a situação das mulheres no mundo da publicidade?

As mulheres estão tomando conta. Cerca de 75% a 80% dos empregos de nível sênior são ocupados por mulheres, mas não os postos de comando. Nas milhares de agências de publicidade dos Estados Unidos, apenas 3% dos diretores de criação são mulheres e muito poucas chegam a presidente.

Já pensei bastante sobre isso e cheguei à conclusão de que as mulheres, especialmente as com filhos, não querem esses empregos. Não queremos ser obrigadas a ficar até a meia-noite ou trabalhar num final de semana quando uma crise acontece.

Quais são os principais desafios que a mulher que trabalha fora enfrenta hoje?

São os mesmos desafios de sempre: como equilibrar marido, filhos e a carreira. O problema é que não há equilíbrio possível, não dá para você ter tudo. Simplesmente não é possível fazer tudo ao mesmo tempo.


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