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Benjamin Steinbruch

Sabiamente

O governo já adotou medidas para que a economia do país cresça 4% no próximo ano

Tudo converge para confirmar-se o cenário traçado em agosto, quando o Banco Central sabiamente reduziu a taxa de juros básica em 0,5 ponto percentual, em confronto com a opinião largamente dominante no mercado financeiro. A economia desaquece aqui e no exterior, a inflação interna é um pouco menor e a crise financeira europeia se agrava.

Hoje está claro que teria sido um erro manter a taxa elevada naquele momento. As evidências fizeram cessar as críticas à decisão do BC, embora poucos tenham tido a elegância de reconhecer o equívoco.

O conjunto de 27 nações que compõem a União Europeia cresceu 0,2% no terceiro trimestre em relação ao período imediatamente anterior. Tudo indica que essa tendência continuará, e que o velho continente entrará em recessão no início de 2012. Ameaça que levou os grandes bancos centrais, em ação coordenada na semana passada, a ampliar sua capacidade de injetar liquidez no sistema financeiro global.

As crises localizadas na Espanha, Grécia e Itália, a despeito das mudanças políticas, com troca de comando no governo dos três países, estão longe de terminar, porque elas exigem socorros da ordem de trilhões de euros, algo difícil de ser viabilizado. Em busca desses recursos, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, esteve em Brasília na semana passada. Numa cena inimaginável para quem viveu a crise brasileira dos anos 80 e 90, o FMI pediu dinheiro ao Brasil.

Pelo que já se viu em três trimestres, mesmo as mais otimistas previsões oficiais já colocam a taxa de expansão da economia brasileira em torno de 3,5% em 2011.

O IBC-BR, índice calculado pelo Banco Central para antecipar a tendência da economia, mostrou que o PIB do terceiro trimestre caiu 0,32% na comparação com o do segundo. O índice oficial do IBGE deve ser divulgado hoje.

Na indústria, o nível de emprego calculado pela Fiesp mostrou péssimo desempenho em outubro, com queda de 0,68%. A produção manufatureira está em queda no país e o comércio, em contração. Considerados os vários setores, o nível de emprego continua em alta, mas num ritmo muito menor do que o do ano passado.

Se 2011 está praticamente definido e teremos de aceitar crescimento ao redor de 3%, ainda há margem de manobra para mudar a tendência em 2012 e conseguir uma taxa de 4% de expansão do PIB. Este é o momento de agir nesse sentido, e o governo já tomou algumas medidas que merecem apoio.

Além de fazer três cortes nos juros, Brasília atuou no sentido de estimular o crédito, para provocar reação na demanda interna; afrouxou exigências de capital dos bancos para dar impulso às linhas de financiamento de veículos e voltou atrás em decisão que obrigaria, a partir de janeiro, o consumidor a pagar pelo menos 20% do total da fatura do cartão de crédito (o pagamento mínimo continuará em 15%). Na semana passada, um pacote de medidas reduziu o IOF sobre o crédito, o IPI sobre eletrodomésticos da linha branca e o PIS/Cofins sobre massas e pães.

Para estimular investimentos públicos, o governo autorizou 17 Estados a tomar créditos que estavam obstruídos por conta de programas de ajustes fiscais. Essa autorização poderá colocar na economia um valor nada desprezível de R$ 37 bilhões em investimentos estaduais, principalmente em infraestrutura.

Varias medidas, portanto, já vieram. O salário mínimo terá aumento de 14% a partir de janeiro e colocará mais de R$ 60 bilhões na economia em 2012. Outras desonerações e outros estímulos ao crédito terão de vir caso não haja reação na demanda. E os governos terão de conter despesas correntes para ampliar investimentos.

Não devemos olhar para a crise europeia e ficar embasbacados, como se ela tivesse de atingir o Brasil inexoravelmente e na mesma proporção. O Brasil tem um enorme mercado interno que pode sustentá-lo nesta crise. Isso não é discurso teórico. Ocorreu em 2008/9, apesar do impacto enorme que veio dos EUA, e pode ocorrer novamente agora. Basta ter coragem e fugir de posições radicais conservadoras em matéria de política econômica.

BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças, a cada 14 dias, nesta coluna.

bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Alexandre Schwartsman

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