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Análise

Impacto será mais modesto do que no Natal de 2009 e 2010

BRÁULIO BORGES
ESPECIAL PARA A FOLHA

No final da semana passada, o governo anunciou um conjunto de medidas de desoneração tributária para tentar estimular o consumo.

Essas medidas vieram

se somar às reduções da taxa de juros determinadas pelo BC desde o final de agosto, à reversão parcial de algumas das medidas macroprudenciais anunciadas em dezembro de 2010 e à autorização, concedida pelo Tesouro Nacional, para que alguns Estados elevem seu endividamento (ou seja, suas despesas de investimento) em R$ 37 bilhões em 2012-13.

Sem dúvida, tais medidas são bastante oportunas, uma vez que a economia brasileira praticamente não cresceu no 3º trimestre e ensaia uma expansão bastante modesta neste último trimestre de 2011, devendo fechar o ano com crescimento um pouco abaixo de 3%.

Ademais, vários setores da economia operam hoje com estoques bastante acima dos níveis desejados.

E o mês do Natal, no qual as vendas do comércio costumam ser quase 30% superiores à média dos demais meses do ano (diferença que se eleva a quase 70% no caso das vendas de duráveis), é um bom momento para acelerar esse ajuste de inventários, buscando reduzir a possibilidade de uma "herança maldita" muito significativa para a atividade industrial no começo de 2012.

Mas a pergunta natural que emerge é se essas medidas surtirão algum efeito e se ele será tempestivo.

Há uma série de fatores que levam a avaliar que os efeitos deverão ser positivos, mas bem menos significativos do que os das medidas adotadas na virada de 2008 para 2009.

Em primeiro lugar, hoje o nível de comprometimento de renda do consumidor com o pagamento de dívidas junto aos bancos é bem mais elevado do que há dois anos.

Em segundo lugar, os bancos -em um ambiente de contínua elevação da inadimplência desde o final de 2010 e de aumento da incerteza macroeconômica global de julho para cá- estão ficando mais seletivos na concessão de crédito.

Isso é percebido pelo recente movimento de alta dos "spreads" bancários, além de ter sido captado pela pesquisa qualitativa de crédito que o BC realiza trimestralmente.

Em terceiro lugar, muitas pessoas que adquiriram bens da linha branca desde 2009 provavelmente não vão trocá-los novamente nos próximos meses.

Nesse quadro, o Natal de 2011, apesar desse presente dado pelo governo, ainda deverá ser caracterizado por uma cautela acima do normal por parte dos consumidores (bastante endividados) e dos bancos.

Isso não quer dizer que o desempenho do varejo será ruim, mas apenas que as taxas de crescimento certamente ficarão distantes dos números observados em 2009 e em 2010.

BRÁULIO BORGES é economista-chefe da LCA Consultores.

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