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Análise Energia

Debate sobre usina de Belo Monte deve analisar prós e contras

WALTER DE VITTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu (PA), tem gerado questionamentos por parte de segmentos da sociedade, que enxergam no projeto um fator de risco socioambiental.

A primeira questão que emerge diz respeito à premência de Belo Monte, ou seja, a usina é indispensável para o desenvolvimento econômico do país?

Do ponto de vista do balanço energético do país, a resposta é não, dado que a energia que será gerada por ela poderia ser suprida por outras novas usinas. Porém, outra questão mais intricada e de difícil remate que se coloca é se a hidrelétrica do rio Xingu seria desejável.

Do ponto de vista estritamente econômico, Belo Monte é interessante, pois produzirá um volume expressivo de energia a baixo custo, devendo contribuir para reduzir o preço da energia no país.

Além disso, traria benefícios à região, como a ampliação do dinamismo dos municípios na área de influência do projeto e aumento da arrecadação de impostos, que poderia ser revertido em prol da população.

É bem verdade que uma série de medidas socioambientais será implementada, com vistas a atenuar os impactos da construção da usina, e que seu projeto não prevê o alagamento de grandes áreas.

A superfície alagada por Itaipu (PR), por exemplo, é de 1.560 km²; a de Sobradinho (BA), de 4.214 km². A comparação com o desmate na Amazônia é mais dramática -foram 6.238 km² entre agosto de 2010 e julho de 2011.

Contudo, é inegável que, na ótica ambiental, a usina trará impactos negativos: alagará uma área de 516 km², reduzirá o volume de água em trechos do rio Xingu e interferirá na migração e na reprodução de peixes.

Deve-se levar em conta ainda que, no aspecto social, a construção envolverá a migração de grande contingente de pessoas para a região, além do fato de que a usina será construída nas proximidades de áreas indígenas.

Porém, quando se analisam as alternativas, Belo Monte pode se mostrar mais atraente. Para gerar o mesmo volume de energia, a alternativa eólica, assim como a solar, implicaria maiores custos, além de descaracterizar a paisagem e interferir na migração de pássaros.

A geração térmica a gás natural, por sua vez, além dos custos mais elevados, traria a emissão de cerca de 19 milhões de toneladas de CO2 anualmente -bem menos do que as térmicas a óleo.

Já a energia nuclear embute o risco de acidentes e o problema de descarte dos resíduos radioativos.

Como se vê, não há alternativa claramente preferível a Belo Monte -existem prós e contras à sua construção.

Contudo, não se deve perder de vista que, subjacente ao debate em torno de Belo Monte, há o processo de desenvolvimento do Brasil, marcado pela elevação da renda e pela incorporação de parcela crescente da população ao mercado consumidor.

Seria ingenuidade creditar a Belo Monte o custo ambiental desse processo.

WALTER DE VITTO é mestre em economia pela FEA-USP e analista da Tendências Consultoria.

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