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Análise

Queda dos juros só terá efeito se expectativa de lucro crescer

ANDRÉ PERFEITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ser empresário no Brasil sempre foi uma atividade complicada. Transitar nas florestas do sistema tributário ou mesmo enfrentar aquele leão por dia da concorrência ganham coloridos especiais nestes trópicos que têm nome de árvore, mas era mesmo mercadoria "for export".

Isso não é novidade. Pois, bem, e o que podemos esperar para este 2012 que mesmo antes de nascer já ameaça abortar os sonhos de crescimento oficial?

O Banco Central, ao perceber o agravamento da zona do euro, reverteu sua política contracionista e agiu firmemente no sentido de mitigar os riscos à economia brasileira; começou um processo de corte de juros que não tem nada de moderado. Os canais de contágio são dois ao território econômico nacional.

De um lado, as exportações podem perder espaço relativo ao ímpeto importador. Segundo o FMI, a participação das exportações brasileiras no PIB é de 10%. Na Argentina é 20%, no Chile, 40%.

O canal mais importante é outro, o das expectativas. Segundo a CNI, o humor dos empresários vem retrocedendo rapidamente desde finais de 2009 e isso afeta, e muito, as boas intenções do BC.

A queda do piso dos juros (a Selic) só terá efeito se, e somente se, a Eficiência Marginal do Capital for maior que a primeira.

Para quem não conhece o termo, explico. A Eficiência Marginal do Capital é o cálculo que o empresário faz sobre quanto ele acredita que será o fluxo futuro da sua renda dado um volume de investimento. Dito de outra forma: é quanto ele acredita que será seu lucro.

Se, por acaso, seu lucro esperado for menor que os juros livres de risco, a resposta é simples; ele não investe seu capital, ele aplica na segurança do tesouro BBB do Brasil.

O que o governo não está conseguindo é elevar a Eficiência Marginal do Capital; cortar os juros na atual situação é fácil.

O BC pode até jurar no curto prazo uma taxa menor, mas ninguém acredita na promessa de que o país irá crescer, logo ele não cresce.

Uma solução seria depreciar o real a tal ponto que as importações sejam proibitivas, num processo claro de transferência de renda do trabalhador -que antes importava barato, aumentando sua renda real- para o industrial nacional que poderia vender pelo preço "correto".

Essa transferência de renda é uma decisão política e cabe ao Planalto opinar sobre o tema, não o BC. Entre juros e promessas, espero que não fiquemos iludidos.

O que me conforta é que depois de 2012 vem 2013 e seus investimentos pré-Copa. Bem, pelo menos é isso que prometeram e juraram ao longo dos últimos anos.

ANDRÉ PERFEITO é economista-chefe da Gradual Investimentos.

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