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Bolsa do Irã dispara, sob governo moderado

Aposta em acordo nuclear com potências ocidentais faz mercado local subir 73% desde junho, após eleição presidencial

Investimento em ação é apoiado pelas autoridades, e cursos gratuitos sobre mercados são feitos em todo o país

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

Mahdyar Arashi, 44, vendeu o carro e gastou as economias para investir na Bolsa de Valores de Teerã.

"Estou apostando tudo na disparada do mercado de ações", disse Arashi, ao sair do prédio da Bolsa, no centro da capital iraniana, após um pregão na semana passada.

"Os bons tempos voltaram graças ao novo governo", sorriu o investidor, que há nove anos vive de negociar ações.

O Tepix (índice principal da Bolsa de Teerã) subiu 73% desde junho, quando o pragmático Hasan Rowhani foi eleito à Presidência com a promessa de convencer o Ocidente a levantar sanções que sufocam o país.

Destoando do cenário de recessão e desemprego, o Tepix já vinha em alta nos últimos anos devido a dois fatores: o isolamento, que transformou a Bolsa numa das raras opções de investimento no Irã, e a inflação, que jogou para cima receitas e cotações.

Mas as ações explodiram com a possibilidade de Rowhani arrancar das potências um acordo nuclear que permita reinserir o país nos circuitos comerciais e financeiros internacionais.

Em 2005, a eleição do populista Mahmoud Ahmadinejad havia causado efeito inverso, derrubando cotações.

"Estamos quebrando um novo recorde a cada dia", disse Hamid Rouhbakhsh, diretor da Bolsa iraniana.

Segundo ele, a confiança se traduz nos 120 mil novos investidores individuais recém-registrados. O contingente de pessoas físicas inscritas no sistema de transações beira os 6 milhões.

Na BM&FBovespa, o total desses investidores era de cerca de 600 mil neste ano.

INVESTIMENTO APOIADO

Responsável por 60% do mercado, o investimento individual é estimulado pelas autoridades, que oferecem cursos gratuitos sobre mercado de capitais em todo o país.

O incentivo à participação gera um perfil de investidor oposto ao padrão de classe média e alta comum em mercados no resto do mundo.

O pregão de Teerã é acompanhado ao vivo, das 9h às 12h, por dezenas de homens de meia-idade com aparência humilde, alguns com roupa surrada, que lotam o mezanino sobre a sala de mercados.

"Esse mundo exige conhecimentos que eu e muitos outros não temos", disse o operário Reza Karimi, 45, olhar perdido diante das cotações.

Entre os investidores mais experientes, estava o desempregado Mostafa Bashardust, 32, no ramo há nove anos.

"Costumo ir nas petroquímicas, mas agora quero ações da Dr. Abidi [material médico]", afirmou, guiando operações a partir do laptop.

Investidores podem coordenar as próprias operações, na maioria dos casos pela internet, sem precisar ir até a sede da Bolsa, ou passar por corretoras, que respondem por 40% das aplicações.

O investimento estrangeiro é ínfimo, menos de 1%, por causa das sanções, que travam fluxos financeiros e submetem à retaliação americana bancos ou corretoras com laços no Irã.

"Se o impasse nuclear se resolver, investidores estrangeiros voltarão à Bolsa", prevê Cyrus Razzaghi, da consultoria Ara Enterprise.

CONTROLE ESTATAL

Operações são reguladas pelo Conselho Supremo do Mercado de Ações, ligado ao Ministério da Economia e à Justiça. Num país governado por uma teocracia xiita, cabe ao conselho fornecer amparo legal a operações de especulação, que, em tese, são vetadas pelo islã.

O controle oficial se estende às próprias empresas cotadas, das quais 80% têm ligação com o governo, segundo o "Financial Times".

Além das estatais, existem grupos que, em tese, foram privatizados desde 2005, mas cujo capital foi adquirido por entidades sob influência do governo, como fundações de caridade e a Guarda Revolucionária, elite militar do país.

O consultor Mehrdad Emadi, da Betamatrix, diz que a Bolsa está sujeita a "cartéis e oligarquias" capazes de ditar cotações.

"Ainda está longe de ser um mercado eficiente em matéria de avaliação de risco e alocação de capital."


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