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Finanças Pessoais

MARCIA DESSEN - marcia.dessen@bmibrasil.com.br

Remuneração variável exige atenção no controle do orçamento

João é agente comercial muito bem-sucedido na sua profissão. Ele tem o dom de vender. Tem qualidades natas que aperfeiçoou ao longo do tempo e é um dos mais competentes profissionais do ramo.

Perseverante, entusiasmado e permanentemente motivado, sabe como lidar com rejeições e apresentar argumentos consistentes aos clientes.

É muito observador e consegue captar os primeiros sinais de aprovação do cliente de forma a construir uma forte relação de confiança e conseguir o "de acordo" do cliente para fechar a operação.

Como disciplina e organização -também requeridas pela profissão- não são seus pontos fortes, João tem trabalhado bastante para aprimorar essas qualidades.

Está convencido de que poderá aumentar seu índice de conversão de vendas se aprender a organizar melhor sua agenda e acompanhar, de forma mais eficiente, a evolução de seus contatos comerciais.

A remuneração mensal média de João é de aproximadamente R$ 9.000, suficiente para bancar as despesas do orçamento familiar. Mas tem um problema: o fluxo dessa renda não é estável como ocorre com muitas pessoas que têm um contrato de trabalho com remuneração fixa.

Há meses em que o volume de comissões é bem generoso e João acaba se empolgando com os gastos. Outubro, por exemplo, foi polpudo, gerando renda de R$ 15 mil.

A família bem que precisava de um carro novo e achou a entrada de caixa muito oportuna. Era a quantia de que precisava para completar o valor e trocar o carro por um mais novo.

Dois meses depois, a família se complicou porque a entrada de caixa foi praticamente nula. Algumas vendas foram canceladas e outras foram adiadas.

João não estava preparado para essa situação de escassez. E como boa parte da reserva financeira havia sido destinada à compra do carro, a família recorreu ao limite do cheque especial.

RENDA MÉDIA

João, assim como outros profissionais que têm remuneração variável, deve redobrar sua atenção em relação ao controle do orçamento doméstico.

Vamos supor que a remuneração anual de João apresente, aproximadamente, este fluxo: R$ 5.000 em janeiro, R$ 2.000 em fevereiro,

R$ 14 mil em março, R$ 9.000 em abril, R$ 15 mil em maio, R$ 9.000 em junho, R$ 6.000 em julho, R$ 13 mil em agosto, R$ 8.000 em setembro,

R$ 15 mil em outubro, R$ 7.000 em novembro e R$ 5.000 em dezembro.

No total anual, são R$ 108 mil, ou R$ 9.000 de média mensal. Assim, João considera seguro assumir essa média mensal.

RENDA "MÓVEL"

Profissionais com esse perfil de renda precisam criar uma conta reserva que irá prover o saldo necessário para completar a renda dos meses com entrada de caixa inferior a R$ 9.000.

Essa mesma conta receberá o saldo excedente dos meses cuja entrada de caixa for superior à média. Dessa forma, João terá um "colchão" de liquidez para assegurar que o orçamento familiar poderá ser custeado sem a necessidade de recorrer a linhas de crédito que implicam pagamento de juros elevados.

Em janeiro, de acordo com o fluxo acima, João teve remuneração de R$ 5.000 e vai sacar R$ 4.000 da conta "renda móvel" para completar o orçamento.

Em março, a conta receberá depósito de R$ 5.000. Seguindo esse raciocínio, a conta "renda móvel" proverá saldo para complementar a renda de João nos meses de janeiro, fevereiro, julho, setembro, novembro e dezembro. A mesma conta receberá depósitos dos saldos excedentes dos meses de março, maio, agosto e outubro.

O saldo dessa conta "renda móvel" é intocável e não deve ser considerado como disponível para aproveitar ofertas imperdíveis, impulsos de consumo e despesas não planejadas.

Ele é essencial para complementar a renda familiar. Mas essa não é a única conta reserva que João deve criar e gerenciar com cuidado.

RESERVA FINANCEIRA

João deve se esforçar para criar uma segunda conta reserva. Ela terá uma missão diferente da primeira.

Será criada para suprir necessidades inesperadas de caixa provocadas por doença em família ou desemprego, por exemplo. Ou, ainda, para permitir a travessia de períodos inesperadamente "magros" em termos de comissão de venda, contrariando a previsão conservadora estabelecida por João.

É recomendável que essa segunda conta reserva tenha saldo equivalente a, no mínimo, três meses de orçamento. No caso de João, R$ 27 mil.

Certamente, ele terá mais tranquilidade para enfrentar períodos de adversidades se puder contar com uma boa reserva financeira para manter o padrão de vida da família. O saldo dessa conta deve ser recomposto assim que o fluxo de entrada de caixa for normalizado.

MARCIA DESSEN, certified financial planner, é sócia e diretora-executiva do BMI Brazilian Management Institute, professora convidada da Fundação Dom Cabral e cofundadora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

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