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Crédito externo recua 63% desde agosto

Número de captações tem queda drástica, de 39 no segundo semestre de 2010 para 10 em igual período de 2011

Empresas de mais risco, sem a nota 'grau de investimento', e bancos médios são os mais afetados

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

O crédito externo para o Brasil teve uma queda de 63% desde agosto por causa da crise europeia, que fechou o mercado.

O número de captações externas de empresas no segundo semestre caiu de forma drástica -foram 10 em 2011, diante de 39 em 2010 e 22 em 2009, ano após a eclosão da crise financeira. Ao menos 20 empresas que iam fazer emissões de títulos lá fora estão com as operações em banho-maria, apurou a Folha.

Emissões de títulos soberanos do Brasil no exterior e de empresas com classificação "grau de investimento", consideradas de menor risco, continuam ocorrendo, como demonstram as captações recentes da Petrobras, da Eletrobras e do Banco do Brasil.

Mas empresas que têm perfil de maior risco, mais endividadas ou bem abaixo da classificação "grau de investimento" estão excluídas do mercado de captação externa desde maio, quando Marfrig, Cimento Tupi e TAM fizeram emissões em dólar.

A taxa de rolagem (renovação de financiamentos) de todos os tipos de crédito externo do Brasil de médio e longo prazo passou de 193% em agosto, mês em que o mercado começou a se fechar, para 72% em outubro, segundo levantamento do economista Darwin Dib, do Itaú BBA, queda de 63%. Taxa acima de 100% significa que está aumentando o endividamento.

Dib projeta que a taxa vai continuar caindo até o fim do ano. "Há sinais de que o crédito comercial está sendo afetado, o que é preocupante."

As captações de empresas foram as mais afetadas.

"O Brasil está em posição especial e continua com baixos custos, mas o mercado todo foi afetado pela crise europeia", diz André Silva, diretor-executivo de mercado de capitais do Deutsche Bank.

Ele calcula que, na média, o custo das captações externas tenha triplicado desde agosto.

MERCADO INTERNO

De acordo com Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI, parte das empresas que não conseguem crédito lá fora está se voltando para o mercado doméstico. "Mas aqui também está seleto, empresas com maior risco não conseguem captar mais de R$ 150 milhões", diz.

Os bancos médios sentem mais a retração no crédito externo. Mas, segundo Angela Martins, diretora internacional do Banco Pine, não há uma situação semelhante a 2009, quando as linhas de crédito para comércio exterior secaram.

"Agora, as linhas estão aí, só estão mais caras, cerca de 0.5 ponto porcentual", diz.

Ela afirma que o aumento de custo está sendo repassado para os clientes. Segundo Angela, como o banco não consegue mais linhas de bancos italianos, espanhóis, portugueses e irlandeses, reduziu a dependência do crédito dos europeus, de 60% para cerca de 40%.

O Banco do Brasil não sentiu retração nas linhas externas de financiamento, diz Admilson Monteiro Garcia, diretor de negócios internacionais do BB.

Segundo ele, houve alta de 20% nas linhas de janeiro até outubro, grande parte repassada para exportadores. "Acho que estão centralizando o repasse de linhas no BB, em detrimento de bancos vistos como de maior risco."

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