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Nizan guanaes

O soft power brasileiro

Pense em um país parecido com o Brasil, e note como, apesar das semelhanças, somos muito diferentes

O Brasil exerce cada vez mais sua excepcionalidade entre as nações. Chegou o momento de nossa afirmação. Não somos mais emergentes. Emergimos. E as consequências de nossa emergência estão apenas começando a aparecer.

Este é um momento gênese. O novo Brasil que estamos parindo após longa gestação é tão novo aos olhos dos brasileiros quanto aos olhos dos estrangeiros.

Nos próximos 20 anos, a cultura brasileira, inclusive o que se apresenta hoje como defeito, será apreciada pelo mundo. O depreciado jeitinho brasileiro vai virar o "brazilian way". E o "Made in Brazil" terá tantos significados quanto o "Made in USA" ou o "Made in China".

Somos um país único, por nossas raízes, por nossa mistura, por nosso tamanho, por nossa cultura, por nossa economia, por nossa política, por nossa geografia. Compare o Brasil com nossos vizinhos sul-americanos ou com nossos pares no Bric e veja quanta diferença.

Pense em um país parecido com o Brasil por algum ângulo, como a exportadora de commodities Austrália ou o primo latino México, e note como somos, apesar das semelhanças, muito diferentes. Diferentes inclusive no que nos assemelha.

Mas o que é afinal a essência do que nos diferencia? Os EUA têm valores e missões, para usar jargão gasto das corporações, conhecidos. E nós? Não sei se sabemos. Estamos em formação.

Nossa excepcionalidade ainda está condensando sob a dupla bênção da democracia e da economia de mercado. Novas distribuições de riqueza causam enormes transformações. Você já foi ao Recife recentemente? É um novo país!

E, se somos terra em transe, o que diremos ao mundo que nos quer ouvir agora? Qual o script, a narrativa nacional que preencherá de sentido os cenários de concreto armados para a Copa e os Jogos Olímpicos?

Podemos começar cultivando um dos pilares já identificados de nossa excepcionalidade: nosso pacifismo internacional, o trato cordial com as nações. Podemos ter índices internos elevados de criminalidade, mas nas relações externas somos filhos de Gandhi. Não vamos à guerra, e é difícil ver cenário de conflito internacional para o país.

Já nossos colegas de Bric têm problemas com os vizinhos, com a democracia, com a economia de mercado. E os três têm armas atômicas. O que fortalece meu ponto: somos um país poderoso e influente mesmo sem ter a bomba nem arsenal de potência. Mas ninguém mexe com o Brasil. Isso é que é poder.

Não temos armas de destruição em massa. Nosso negócio são as armas de construção em massa. Somos potência alimentar num mundo de insegurança alimentar. Lideramos a produção de carnes e de grãos. Seremos cada vez mais o celeiro do mundo, e o valor que isso agrega à nossa reputação. Temos ainda esse enorme potencial energético e mineral, as maiores reservas de água, o próximo petróleo.

Mas não é só paz, energia e comida que fornecemos ao mundo, mas alegria e arte com nosso futebol, o esporte mais popular do planeta, e nossa música, a arte mais popular.

E tem mais. Os bancos brasileiros estão entre os mais sólidos no meio do terremoto financeiro global. A Embraer está entre as maiores produtoras de aviões. Nosso mercado automotivo superou os da Europa.

E aqui chegamos ao principal ativo do país: o mercado interno. Em outras palavras, nós, os brasileiros. Afinal, riqueza só pode ser traduzida em gente.

A grande transformação no Brasil e no mundo é a ascensão ao mercado consumidor de milhões e milhões de ex-miseráveis emancipados pelo desenvolvimento nas economias antes periféricas que agora são chamadas a socorrer as economias antes centrais.

Aqui vivemos esse processo de inclusão em massa de forma democrática, aberta, alegre. Desse caldeirão de novidades surge um novo país. Não sabemos direito como ele é, é novo demais para entendermos, precisamos do distanciamento histórico. Mas já dá para saber que a civilização brasileira finalmente veio a ser com a inclusão socioeconômica. E que terá papel importante no novo mundo.

O Brasil é um super power que é um soft power. Um país que se projetará sobre o mundo com suas riquezas naturais e seus poderes sobrenaturais.

NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Mario Mesquita

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