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Entrevista Dante Sica

Brasil deveria emprestar reservas para a Argentina

EX-MINISTRO SUGERE TROCAR DÓLARES POR FIM DE TRAVAS AO COMÉRCIO

RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO

Para ajudar a Argentina a sair da crise cambial, o Banco Central do Brasil deveria emprestar ao vizinho reservas equivalentes ao superavit brasileiro com o país.

O montante, de cerca de US$ 3 bilhões, é menos de 1% das reservas brasileiras, mas significa 10% das reservas argentinas. A sugestão é de Dante Sica, ex-secretário da Indústria da Argentina.

"A Argentina fortaleceria suas reservas em troca de retirar as travas para a importação de produtos brasileiros", disse Sica à Folha.

Ele, que dirige a maior consultoria argentina, a Abeceb.com, não acredita que vá se repetir no país a quebradeira de 2011, mas prevê estagnação e inflação alta.

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Folha - Qual é o impacto da desvalorização do peso para as empresas brasileiras?

Dante Sica - A relação bilateral já estava prejudicada pelas restrições argentinas à importação, que vão continuar. O ciclo econômico do Brasil se descolou da Argentina, logo não haverá impacto na atividade no Brasil.

O que o Brasil poderia fazer para ajudar a Argentina?

O BC brasileiro poderia emprestar ao BC argentino um montante de reservas equivalente ao deficit comercial, para fortalecer as reservas da Argentina em troca de retirar as travas ao comércio.

Em 2009, a Argentina teve um empréstimo do BC da França. São empréstimos de curto prazo no marco do acordo de Basileia e que se devolvem em dois anos.

A Argentina está atravessando uma crise cambial?

Temos uma crise cambial desde 2011, quando o governo instalou o controle de capitais. O que estamos vendo agora é mais um passo.

A crise argentina foi agravada pelas incertezas sobre as moedas dos países emergentes?

O mundo está voltando a crescer. Os preços das commodities pararam de subir, mas continuam altos.

A situação argentina não está sendo agravada pela crise internacional. São problemas de exclusiva responsabilidade da política econômica interna.

Qual é a sua previsão para a economia argentina em 2014?

O que veremos é uma economia estagnada com inflação alta, pelo menos repetindo os 27% do ano passado, e perda de reservas. Nos últimos dois anos, já estamos vivendo uma fuga de capitais. Em 2013, perdemos US$ 12 bilhões.

Mas não há um risco de a situação sair de controle?

Não vejo risco de "crash", como em 2001. Há questões estruturais que melhoraram. O endividamento em dólar das famílias e das empresas é baixo. O setor financeiro não está em crise.

Como a Argentina chegou a esse ponto?

Há um fator principal que desequilibrou toda a economia: a política energética. Os erros nesse setor reverteram dois pilares fundamentais da recuperação argentina, que eram os superavit gêmeos na conta-corrente e na fiscal. Hoje temos conta-corrente negativa e deficit fiscal.

Por que a política energética está no centro da questão?

Desde 2001, as tarifas de energia da Argentina para residências e indústrias estão congeladas. São dez anos de preços fixos enquanto a demanda por energia crescia velozmente e a oferta recuava. Hoje temos um deficit de US$ 8 bilhões no setor.

O país subsidia a compra de energia cara para vender barato internamente, gerando gasto fiscal.

Soma-se a isso o fato de que o governo não tomou as medidas necessárias para voltar aos mercados internacionais. Por isso, teve que financiar o deficit fiscal gerado pelo subsídio à energia com emissão de moeda, o que propagou a inflação. Estamos num ciclo vicioso.

Qual é a sua opinião sobre as ações do governo argentino para combater a crise?

As ações do governo são descoordenadas e geram ainda mais incerteza.

Na sexta-feira, o governo Kirchner liberou a compra de dólares pela população. Qual vai ser o efeito?

Essa medida apenas abre uma janelinha. A compra de dólares vai estar sujeita a avaliação mediante a capacidade de contribuição da pessoa e dólares existentes. O impacto não vai ser grande.

Qual é o efeito da crise no cenário político argentino?

É claro que castiga o governo. Os cidadãos desaprovam as ações de política econômica do governo atual, o que gera desconfiança e antecipa a sucessão. Parece que já estamos em campanha, mas as eleições presidenciais são só no ano que vem.


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