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Entrevista Fernando Pimentel

Visão do mercado financeiro contaminou os empresários

Para Ministro do Desenvolvimento, margem de lucro de alguns setores, como as montadoras, é muito alta no brasil

VALDO CRUZ DE BRASÍLIA RAQUEL LANDIM ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Próximo de deixar o ministério para disputar o governo de Minas Gerais pelo PT, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) diz que o mercado financeiro influenciou o empresariado a se opor à presidente Dilma Rousseff.

Avalia também que um dos problemas dos preços altos no Brasil são as margens elevadas de lucro de alguns setores. Cita como exemplo as montadoras. "A indústria automobilística tem margens muito altas, a margem das empresas aqui é muito mais alta do que nos EUA."

Amigo da presidente, Pimentel não concorda com as críticas sobre o estilo intervencionista da petista. "A presidente Dilma não tem nenhuma visão preconceituosa em relação a lucro."

Folha - Qual sua análise sobre realidades tão diferentes de preços no Brasil em comparação com outros países? No setor automobilístico, por exemplo, o carro aqui é muito mais caro do que nos EUA.

Fernando Pimentel - Ponto um, o custo Brasil é mais alto. Ponto dois, nossos impostos são, sobre esse tipo de produto, superiores aos americanos. Ponto três, a margem das empresas aqui é muito mais alta. Esse ponto três é importante, não pode ser omitido, eles têm uma margem alta.

Como diminuir isso?

Criar competição, reduzir o custo Brasil, já desoneramos um pouco de tributação. Agora, na questão da margem, é uma característica histórica da economia brasileira.

Mas outros produtos também têm preços muito altos.

O Brasil tem um fenômeno estrutural na economia que mantém nossos índices de preços acima do centro da meta. Não é nenhum desleixo do governo, é uma característica da nossa economia. Tem a ver com a pressão de demanda forte, que é boa, porque sustenta o nosso crescimento, tem sustentado o nível de emprego. Em princípio, essa pressão de preços é um subproduto indesejado de um crescimento muito bom.

Como resolver isso?

Como, eu não sei. Mas eu sei como não trabalhar isso. Com recessão. O sujeito que vier propondo fazer uma recessão para voltar a inflação para zero, por exemplo, vai ser repudiado pela sociedade brasileira. Mantendo a inflação sob controle, e ela está sob controle efetivamente, tem de ir aos poucos combatendo as causas estruturais.

Falando em margens de lucro elevadas, que o sr. apontou como um dos problemas...

Nos automóveis, sem dúvida. Não sei se para tudo.

O governo Dilma foi acusado de ser muito intervencionista, ser contra o lucro, o que tornou ruim a relação entre empresariado e governo. Por que aconteceu isso?

Vamos separar um pouco as coisas. A presidente Dilma não tem uma visão preconceituosa em relação a lucro. Estou dando um exemplo concreto: acho que a indústria automobilística tem margens muito altas, mas isso é um problema do mercado e o governo não vai intervir para reduzir margem de lucro.

Outra coisa é uma concessão: você está tratando de um bem público. Aí, o governo pode arbitrar. Pode induzir a que a concessão não fique extremamente onerosa para o usuário, proporcionando um lucro extraordinário. É uma preocupação justa de qualquer governo.

Mas, reservadamente, os empresários criticam muito o estilo da presidente Dilma.

Mas essa é a parte boa da democracia, eles podem criticar. Há elogios também.

Mas o sr. não reconhece que houve um distanciamento, tanto que, depois, a presidente fez uma reaproximação?

No Brasil você tem um fenômeno, que está sendo superado agora: o nosso empresariado ainda é muito influenciado pelas análises do mercado financeiro. Como o mercado financeiro não proporcionou rendimentos tão vultosos como gostaria, existe mesmo, da parte destes analistas, uma certa má vontade. E isso acaba influenciando os empresários de maneira geral.

A inflação está em 6%. Houve leniência do governo no combate a inflação?

Não. Temos um compromisso muito forte com o regime de metas. A tendência de alta de preços mais forte tem duas causas: os resquícios da indexação do passado e uma pressão de demanda forte, provocada pela entrada de 40 milhões de pessoas no mercado de trabalho. É isso que leva a inflação a ficar acima do centro da meta, embora dentro da banda. Não existe um comportamento do governo que propicia isso. Mas é algo estrutural na economia que precisamos entender e trabalhar para mudar.

"A presidente Dilma não tem uma visão preconceituosa em relação a lucro. Um exemplo concreto: acho que a indústria automobilística tem margens muito altas, mas o governo não vai intervir para reduzir lucro"

Leia a íntegra

folha.com/no1409271


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