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RS quer ser sócio de caminhões chineses

Governo negocia a compra de uma participação acionária na maior montadora de caminhões do país asiático

Estado pode investir até R$ 48 milhões em ações da Foton; seria a primeira operação do tipo desde os anos 1970

DAVID FRIEDLANDER DE SÃO PAULO

Quinze anos depois de perder uma fábrica da Ford para a Bahia por causa de uma briga ideológica em torno de incentivos fiscais, o governo petista do Rio Grande do Sul virou casaca e agora pode se tornar sócio da filial brasileira da Foton, a maior montadora de caminhões da China.

O governador Tarso Genro está negociando a compra de uma participação acionária na montadora, que vai se instalar em Guaíba, perto de Porto Alegre. Segundo especialistas, seria a primeira vez que um governo estadual entra como sócio de uma montadora desde que Rondon Pacheco levou a Fiat para Minas Gerais, na década de 1970.

"Nosso negócio é trazer a empresa para cá. Podemos entrar no capital e mais tarde, quando o projeto estiver consolidado, saímos. Um grupo desse porte nos interessa muito", afirma Mauro Knijnik, secretário de Desenvolvimento do Estado.

Para permitir a operação, na virada do ano o governo aprovou uma lei com incentivos fiscais para a produção de caminhões. Pela nova lei, o Estado pode investir até R$ 48 milhões na compra de ações da Foton. Isso daria uma fatia de quase 20% do empreendimento, orçado em R$ 250 milhões.

O pacote completo é maior e inclui ainda a doação do terreno para a fábrica, financiamento oficial e abatimento de impostos estaduais.

Com uma dívida mais de duas vezes superior a sua receita, o Rio Grande do Sul é o único Estado brasileiro acima do limite de endividamento imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Mesmo assim, segundo a Secretaria de Desenvolvimento, a intenção é levantar os recursos com o Tesouro estadual ou com o Bandepe, o banco de desenvolvimento do Estado. O governo gaúcho aposta que a chegada da Foton possa puxar uma fila de novos investimentos chineses, o que alavancaria seu parque industrial.

"Até bem pouco tempo, nós combatíamos a guerra fiscal, que prejudica todo mundo. Mas, enquanto a gente ficava discursando contra, as empresas iam procurar outros Estados que davam incentivos", afirma Knijnik.

A filial da Foton foi disputada até o último minuto com o Rio, que chegou a anunciar a conquista da fábrica. Assim como os gaúchos, o governo do Rio se ofereceu para ser sócio da montadora.

"Os governos dão subsídios, mas ficar sócio havia décadas eu não via. Correr o risco de um projeto de montadora é papel de empresário, não de governo", diz Luiz Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos e ex-presidente da Ford.

"Não faz parte da função do Estado investir numa fábrica de caminhões", afirma Marcelo Cioffi, sócio da consultoria PwC.

POLÊMICA

A fábrica será construída no mesmo terreno doado no final dos anos 1990 para a Ford. Na época, a montadora americana abandonou o projeto depois que o governador Olívio Dutra, do mesmo PT de Tarso Genro, quis rediscutir os incentivos, que considerava descabidos, concedidos por seu antecessor.

Numa polêmica que persiste até hoje, os petistas gaúchos dizem que na verdade a Ford foi aliciada por um conjunto maior de vantagens oferecido pela Bahia, com apoio do então presidente Fernando Henrique Cardoso.

A conversa, agora, é com o empresário Luiz Carlos Mendonça de Barros, colunista da Folha. Ex-ministro e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) de FHC, Mendonça de Barros trouxe a Foton, cuida de sua instalação e é o presidente da empresa no Brasil.

De acordo com Orlando Merluzzi, vice-presidente da Foton, a empresa aguarda o licenciamento ambiental para começar a construção da fábrica, ainda neste mês. A unidade terá capacidade para produzir 21 mil caminhões por mês, com foco no segmento de 3,5 e 24 toneladas.

A meta é atingir 5% do mercado em sete anos e transformar a unidade brasileira numa plataforma de exportação. "O governo vai entrar conosco porque esse é um excelente negócio para o Estado", afirma Merluzzi. "É só o começo de um grande volume de investimentos chineses que o Rio Grande do Sul está se habilitando para atrair."


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