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Vinicius Torres Freire

O Brasil e os boatos da comida

Preços mundiais não subiam tanto desde 2012, mas nova carestia de alimentos ainda é especulação

O PREÇO DA COMIDA não subia tanto pelo mundo desde a metade de 2012, quando as fazendas americanas sofriam os efeitos da pior seca em um quarto de século, pelo menos segundo a conta para fevereiro da FAO, o braço da ONU para alimentação e agricultura.

Qualquer que seja o índice de medida global, fevereiro foi o mês de maior alta de preços de commodities agrícolas em dois ou até três anos; 2013 havia sido um ano de baixa.

A seca americana transtornou ainda mais o controle da inflação no Brasil. A seca russa de 2010, uma das piores em um século, levou Vladimir Putin a proibir as exportações de trigo, em agosto. O preço da comida subiu pelo mundo, o que ajudou a entornar o caldo em países árabes pobres, importadores de comida (trigo), nações que começariam a entrar em convulsão em dezembro daquele ano.

O preço da comida em alta pode, pois, fazer com que mais pedras rolem no caminho do Banco Central do Brasil e até jogar lenha no fogo de uma revolução regional. Onde estaríamos agora? Antes de mais nada, há um repique da inflação mundial da comida? Isso vai durar?

Segundo os entendidos, os motivos do aumento dos preços deste ano têm três nomes: Brasil, Estados Unidos e Ucrânia. Pelo menos esses são os motivos da especulação que está chutando para cima os preços no atacado e nos mercados de futuros do mundo.

O inverno americano ruim prejudicou a produção de grãos (trigo em particular) e de carne, além de afetar os preços do suco de laranja.

A seca brasileira, mas não apenas, pode prejudicar as safras de soja, milho, café e cana de açúcar.

A crise na Ucrânia, motivo ainda mais especulativo, pode afetar o comércio de trigo e milho (devido a possíveis sanções à Rússia; à dificuldade de escoar a safra da Ucrânia e de produtores que passam seus produtos pelo país).

O Brasil exporta mais de metade do açúcar mundial. Brasil e EUA são os dois maiores exportadores de soja e milho. Rússia e Ucrânia também são grandes exportadores. Há problemas em outras terras. Este foi provavelmente o inverno mais seco em um século no Oriente Médio, o que pode aumentar ainda mais a dependência de grãos da região.

Milho, soja e açúcar estão na base da cadeia de produção de alimentos, de rações a insumos de alimentos produzidos em fábricas. Se encarecem de fato, tudo mais fica mais caro também.

Alguns observadores do mercado de produtos agrícolas acreditam que, embora os problemas e os riscos sejam evidentes, por enquanto há especulação demais para desgraça de menos.

Parte dessa turma de analistas afirma mesmo que ainda há dinheiro barato demais no mundo, o suficiente para bancar apostas especulativas de curto prazo com preços de commodities agrícolas. O pessoal da ONU e alguns analistas americanos relevantes dizem que os estoques de comida estão em níveis razoáveis, mais altos que nas crises dos últimos quatro anos.

No Brasil, os preços no atacado de alimentos "in natura" deram uma disparada no início de março: soja, café, milho, ovos, bovinos. No começo de fevereiro, regrediam. Colheitas brasileiras importantes estão em curso. Mas, no momento, há um sinal amarelo aceso.


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