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CHOQUE NO BOLSO
Alimento dispara e inflação sobe para 6,15% em 12 meses
Comida, casa, saúde, educação e diversão já subiram mais que o teto da meta do governo (6,5%) no período
Tomate, batata, leite, carnes, feijão, frutas e hortaliças responderam por um terço da alta do IPCA no mês de março
Com a disparada dos preços dos alimentos, a inflação do mês passado superou as previsões, que já eram pessimistas, e elevou o risco de estouro do teto fixado pelo governo neste ano eleitoral.
O IPCA, referência para as metas do Banco Central, ficou em 0,92%, maior taxa para março desde 2003, quando a economia ainda se recuperava do terremoto financeiro do ano anterior.
Com isso, o índice mostrou uma variação de 6,15% em 12 meses, muito mais próxima do limite máximo de 6,5% ao ano tolerado pela legislação do que da meta de 4,5% teoricamente perseguida pelo Banco Central.
Os dados mostram que o teto já foi superado com boa folga em produtos e serviços que respondem pela maior parte do orçamento das famílias: comida, casa, saúde, educação e diversão.
Apenas vestuário, comunicações e transportes mantêm a inflação dentro dos limites -neste último caso, graças ao controle de preços pelo governo, como o da gasolina.
Dos itens do IPCA, 71% subiram em março, nível de dispersão maior do que os 69% registrados em fevereiro.
"O risco de a meta estourar existe. Não há espaço para mais nenhum choque de preços", afirma Adriana Molinari, economista da Tendências Consultoria. Boa parte dos analistas revisou para cima a projeção do IPCA.
Pesquisa semanal do BC mostra que a expectativa central do mercado é um índice de 6,35% neste ano. Entre os cinco bancos e consultorias com maior taxa de acerto, a aposta sobe para 6,57%.
MARÇO PIOR
A taxa de março ficou acima do 0,85% esperado, em média, pelos analistas e investidores.
No caso dos alimentos, que responderam por mais da metade da alta do IPCA em março, o aumento de 1,92% (também acima do previsto) foi o maior desde janeiro de 2013 e impulsionou a taxa em 12 meses para 7,14%.
Secas prolongadas em algumas regiões e chuvas em excesso em outras encarecem os preços de alimentos básicos da cesta de consumo das famílias.
Somadas, as fortes altas de tomate, batata, leite, carnes, feijão, frutas e hortaliças representaram um terço da alta do IPCA em março.
A expectativa de analistas é que os alimentos sigam sob pressão neste mês, embora num ritmo um pouco menor. Uma desaceleração mais firme só deve ocorrer em maio.
Além do clima desfavorável, jogam contra a redução dos preços dos alimentos o consumo global aquecido (o que estimula exportações brasileiras e reduz a oferta interna) e o aumento das cotações internacionais de produtos como trigo e soja. Pelos dados do IPCA, pão e outros derivados de trigo já subiram.
O tomate, porém, surge novamente como o grande vilão, com alta de 32,85% em março. Só pesou menos na inflação do que o reajuste de 26,49% das passagens aéreas, que puxaram para cima o grupo transporte (1,38%).
As passagens alavancaram o custo dos serviços, outro importante foco de pressão da inflação neste ano, segundo Priscilla Burity, economista do banco Brasil Plural.