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Na China, 20% podem voltar a ser rurais

Cerca de 270 milhões de trabalhadores migrantes ainda não conseguiram status fixo de classe média nas cidades

Governo faz plano para garantir direitos a 100 milhões em dez anos e assentar igual número em pequenas cidades

DO "FINANCIAL TIMES"

Xu Bo trabalhou durante quatro anos como parte de uma equipe de construção em Pequim, ajudando a construir na cidade os arranha-céus que simbolizam a transformação urbana da China.

Mas não planeja se mudar em definitivo para a capital chinesa: "Seria uma fantasia insana. A cidade é cara demais". "Não importa quanto dinheiro eu ganhe, no fim voltarei para casa", diz.

Com salários equivalentes a US$ 500, Xu pode não se enquadrar à ideia ocidental de "classe média", mas no contexto chinês ele e outros 269 milhões de migrantes são uma nova categoria de consumidores em ascensão.

Ocupam o espaço intermediário entre os prósperos moradores das cidades costeiras e a massa de lavradores no interior. Mas a maré da urbanização que tirou muita gente da pobreza rural não flui sempre na mesma direção. Muitos migrantes encaram sua vida nas grandes cidades como temporária.

Menos de 54% do 1,36 bilhão de habitantes da China vive em cidades, ante uma média de 80% nos países desenvolvidos e 60% nos países em desenvolvimento com renda per capita semelhante.

No entanto, esses números são distorcidos pelo "hukou", sistema pelo qual apenas 35,7% da população pode ter benefícios como educação e serviços de saúde nas cidades. Isso significa que quase 20% dos chineses podem estar a apenas um mês de perder o status de aspirantes à classe média urbana.

Foi isso que aconteceu durante a crise financeira de 2008/2009, quando cerca de 25 milhões de migrantes rurais voltaram ao campo.

Outro fator que os dissuade de uma mudança definitiva é que os migrantes não podem vender as terras em suas aldeias de origem, porque a propriedade é do Estado.

Isso oferece uma rede de segurança final: se tudo mais der errado, o trabalhador pode sempre voltar para sua terra natal e cultivar comida suficiente para não passar fome. Mas é algo que os vincula às suas fazendas e aldeias.

No mês passado, Pequim delineou um plano decenal para conferir hukou urbano a 100 milhões de migrantes, reconstruir os cortiços das cidades e "orientar a urbanização" de 100 milhões de lavradores em cidades menores.

O objetivo em parte é estimular a economia, por meio de investimentos pesados em habitação, infraestrutura e transporte.

Mas também demonstra o reconhecimento da crescente importância da classe migrante chinesa. Guo Hayan, analista do banco de investimento CICC, aponta: "Há apenas cinco anos os trabalhadores migrantes estavam mais preocupados com o essencial. Agora suas prioridades de gasto são as mesmas da classe média mais ampla --casas, carros e turismo".

Os líderes da china estimam que precisam criar pelo menos 10 milhões de novos empregos urbanos a cada ano para preservar a estabilidade social e evitar novas e perigosas demandas de mudança política. Mas isso só servirá para reforçar a pressão sobre cidades já sobrecarregadas como Pequim, para onde 430 mil pessoas vêm se mudando em média anualmente, já há 12 anos.

Liu Lingfei, que nasceu na província de Hebei, viveu em Pequim por três anos. Seus pais eram lavradores, e ela se formou na universidade e trabalha em contabilidade.

"Não há como eu voltar e ser de novo camponesa em minha cidade natal", diz Li, 27. "Estudei contabilidade e finanças --se voltar, não farei nem ideia de que safra plantar em cada temporada."

Mas, sem uma reforma mais drástica, muitos imigrantes não terão escolha se a economia chinesa vacilar. Podem se ver não só desempregados mas longe do padrão de vida de classe média.


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