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Entrevista - Thomas Piketty

Desigualdade é ameaça verdadeira à democracia

Economista mais comentado do ano sugere taxar os mais ricos e critica falta de transparência em dados do Brasil

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Na semana passada, o secretário de Justiça e procurador-geral dos EUA, Eric Holder, afirmou que não há bancos que devam estar acima da lei. "Nenhuma instituição é grande demais para ser investigada", declarou.

Megabancos como o Credit Suisse e o BNP Paribas são investigados por evasão fiscal, lavagem de dinheiro e proteção a clientes que tentam burlar o fisco. Para o economista Thomas Piketty, é um sinal positivo de mudança.

Autor de "Capital in the Twenty-First Century" [capital no século 21, que sairá em português até o final do ano pela Intrínseca], ele virou celebridade ao esmiuçar o avanço na desigualdade provocada por um modelo capitalista que reduz crescimento, beneficia herdeiros de fortunas e prejudica a ascensão social.

Aos 43 anos (completados na semana passada), esse francês professor da Escola de Economia de Paris coloca o dedo na ferida: a desigualdade aguda mina as ideias de meritocracia que sustentam princípios democráticos. Existe uma "ameaça verdadeira" à democracia, diz Piketty em entrevista à Folha, por telefone, de Paris.

No extenso trabalho que fez analisando a evolução da distribuição de riqueza pelo mundo desde a Revolução Francesa, Piketty lamenta não ter conseguido observar o Brasil: faltam dados e transparência, afirma.

Folha - Seu livro conta como o capitalismo nos países centrais concentra renda, promove desigualdade e está enredado no baixo crescimento --que beneficia os mais ricos, os herdeiros. O capitalismo está cavando sua própria cova? Sobreviverá?
Thomas Piketty - Pode sobreviver certamente, mas precisa responder a seus desafios sobre desigualdade. Há instituições democráticas para isso. O debate sobre a taxação mais progressiva da riqueza é parte disso. Sou otimista. Há poucos dias, se viu que bancos suíços estão tendo que enfrentar sanções nos EUA. As coisas podem mudar.

O sr. escreve que a desigualdade é uma ameaça à democracia...
É uma ameaça verdadeira. O capitalismo do século 21 traz extrema desigualdade. A certo ponto, isso pode trazer riscos para as instituições democráticas. Outra ameaça é a resposta nacionalista: quando não conseguimos resolver os problemas sociais é tentador achar culpados: trabalhadores estrangeiros, outros países, a Alemanha, a China.
É preciso discutir uma taxação adequada para assegurar benefícios gerais. Senão, correremos sérios riscos. A batalha política é muito complicada. As pessoas precisam entender as opções e é importante discuti-las.

O sr. defende a ideia de uma taxa progressiva global para o capital. No passado, como mostra o seu livro, guerras e revolução foram cruciais para que governos decidissem taxar os ricos e melhorar a distribuição de riqueza. Somente guerras e revoluções podem mudar a situação atual?
Sou muito mais otimista. Penso que as instituições democráticas podem responder ao avanço da desigualdade e fazer instituições educacionais e fiscais mais inclusivas e progressivas. Mas para isso acontecer precisamos de mais transparência sobre renda e riqueza. São questões que dizem respeito a todos, não apenas a economistas.

O Brasil é tido como um dos países mais desiguais do mundo, mas não é objeto de seu trabalho. Por quê?
Não tivemos condições de apurar dados precisos sobre o Brasil. Tentamos muitas vezes, mas não conseguimos dados apropriados para a nossa pesquisa. O problema é a falta de transparência em dados referentes a Imposto de Renda, por exemplo.

O que é melhor para um país: taxar os ricos ou fazer dívida?
Taxar é sempre melhor, é mais eficiente, mas é decisão política definir quem vai ser taxado ou não. Governos preferem escapar disso.

O sr. defende que a intervenção estatal não prejudicou as sociedades. Precisamos de mais intervenção?
Depende do tipo de intervenção, do país. Nos países europeus e nos EUA, na educação, na saúde, na construção o papel da intervenção estatal foi essencial.

Qual é o futuro da classe média no mundo?
A ascensão da classe média patrimonial foi muito importante no século 20. A redução do crescimento econômico e o aumento da desigualdade trouxeram o risco de seu encolhimento gradual. Isso é ruim para a economia e para a democracia.

Leia a íntegra
folha.com/no1453820


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