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Cifras & Letras - Crítica Miséria

Obra defende nova abordagem para a pobreza

Eleito o melhor livro de economia de 2011 pelo "FT", "Poor Economics" foca a lógica das escolhas dos pobres

Feisal Omar - 20.jul.11/Reuters
Mulheres em campo de refugiados em Mogadício, Somália
Mulheres em campo de refugiados em Mogadício, Somália

NATÁLIA PAIVA
EM MADRI

A imagem clichê de um homem esquálido em uma zona rural no interior da África expressa um senso comum: pobreza é sinônimo de fome.

Esse senso comum tem uma solução: envio de caixas gigantescas de grãos baratos para os quase 900 milhões de pessoas que vivem com menos de US$ 0,99 por dia.

No entanto, mesmo com subsídio ou aumento de renda, pobres não costumam comprar mais comida, afirmam os autores de "Poor Economics", com base em pesquisa feita em 18 países e citando dados de outros 300 estudos. Os pobres preferem gastar dinheiro com TV ou chá açucarado. Por quê?

Mais: por que, tendo a oportunidade, não vacinam os filhos? Não põem cloro na água? Não optam por tratamentos simples, como soro, para evitar que seus filhos morram de diarreia? Não poupam? Não aceitam os planos de negócios formulados por ONGs para seus negócios?

Eleito o melhor livro de economia do ano pelo "Financial Times", o livro defende uma abordagem diferente para a pobreza.

Rechaça generalizações ("auxílio internacional ajuda ou não"), se baseia em dados quantitativos e qualitativos (estatísticas, entrevistas e experimentos) e foca na lógica de escolhas dos pobres.

Como espécie de gerentes de marketing, os autores, dois professores do laboratório antipobreza do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), tentam entender o processo de decisão desses consumidores.

Para testar programas de incentivos, usam método comum na indústria farmacêutica: formam dois grupos, um que recebe o incentivo e outro que não, comparam os resultados e propõem soluções.

MAIS QUE COMIDA

Para a má nutrição, por exemplo, Abhijit Banerjee e Esther Duflo, ambos entre os principais "pensadores" do mundo, segundo a "Foreign Policy", propõem uma tecnologia de alimentos gostosos enriquecidos com nutrientes.

Em relação ao sistema financeiro, os autores citam o caso de uma mulher, em uma favela na Índia, que tomou um empréstimo equivalente a US$ 600, a juro anual de 24%, e pôs o dinheiro na poupança, rendendo 4% ao ano.

A mulher justifica: sua filha vai se casar e, como juntar dinheiro parece pouco provável, a solução foi a de "pagar para poupar".

O desafio, portanto, é desenhar produtos financeiros adaptados. Os autores também minimizam o oba-oba em relação ao microcrédito: em seu modelo atual, não consegue impulsionar negócios sustentáveis.

E o suposto "espírito empreendedor" dos pobres: a maioria abre um pequeno negócio porque não consegue achar emprego.

Sobre ações como vacinar filhos e purificar água os autores concluem que os pobres, a exemplo dos cidadãos comuns de países desenvolvidos, têm lacunas de informação. Logo, campanhas inovadoras são necessárias.

E que eles são muito mais pressionados que os ricos por responsabilidades e riscos. Quanto mais rico é o cidadão, mais decisões "certas" são feitas por ele (vacina em dia, água tratada na torneira etc.).

DO SOFÁ DE CASA

Ao mesmo tempo em que criticam as políticas globais amarradas em ideologias e fórmulas, os autores incomodam o leitor o tempo todo.

É fácil julgar do sofá; difícil é reconhecer que o pobre, mais que a imagem de um homem esquálido, é uma pessoa que somente conseguiremos ajudar quando nos dispusermos a entender sua lógica de sobrevivência no risco e na adversidade.

POOR ECONOMICS

Abhijit Banerjee e Esther Duflo

EDITORA Public Affairs

AVALIAÇÃO Ótimo

QUANTO US$ 26,99 (336 págs.)

Trecho

"Se resistirmos ao tipo de pensamento [...] que reduz todo problema à mesma série de princípios gerais;

se ouvirmos os próprios pobres e nos esforçarmos a entender a lógica de suas escolhas; se aceitarmos a possibilidade de erro e sujeitarmos toda ideia a um rigoroso teste empírico, então poderemos não apenas

formar um quadro de políticas eficazes, mas também entender melhor porque os pobres vivem como vivem.

[...] podemos identificar as armadilhas de pobreza onde elas realmente estão"

LANÇAMENTOS

EMPRESÁRIO

O Filho da Crise

Rogério Godinho

EDITORA Matrix

QUANTO R$ 36 (200 págs.)

O livro conta a história de Marco Stefanini, que, sem formação na área, fundou a Stefanini IT Solutions, hoje uma das empresas mais globalizadas do país, que fatura R$ 1,2 bilhão. Crise, empreendedorismo, dificuldades e oportunidades são temas abordados no livro de estreia do autor.

NEOLIBERALISMO

O Universo Neoliberal em Desencanto

José Carlos de Assis e Francisco Antonio Doria

EDITORA Civilização Brasileira

QUANTO R$ 34,90 (224 págs.)

Explica as bases do neoliberalismo, mostrando que sua manutenção após o desastre econômico que causou não se explica pela razão. Para os autores, a doutrina está morta para a organização do espaço social e econômico.

ECONOMIA

O Estado da Arte em Economia

Pedro G. Duarte, Simão D. Silber e Joaquim J. M. Guilhoto (orgs.); Antonio Delfim Netto (Coord.)

EDITORA Saraiva

QUANTO R$ 68 (304 págs.)

Segundo volume de uma coletânea de artigos, trata de desdobramentos recentes da economia e aborda temas como flutuações econômicas e desenvolvimento sustentável.

DIREITO SOCIETÁRIO

Incorporação de Ações

Daniel Kalansky

EDITORA Saraiva

QUANTO R$ 74 (288 págs.)

A obra é um estudo sobre incorporação de ações com casos recentes de conflitos entre controladores e acionistas minoritários, dentro de um paralelo entre a legislação brasileira e a americana. Cita também discussões em que a CVM impôs restrições ou impediu as operações.

FUTEBOL

Goal: The Ball Doesn't Go In By Chance

Ferran Soriano

EDITORA Palgrave Macmillan

QUANTO US$ 40 (224 págs.)

Ex-vice-presidente do Barcelona, Soriano dá uma aula de gestão e estratégia mostrando como levantou o clube, que estava endividado, e como os gestores perdiam milhões com decisões erradas tanto em termos de futebol quanto de negócios.

GESTÃO

The Intelligent Entrepreneur

Bill Murphy Jr.

EDITORA St. Martin's Griffin

QUANTO US$ 27,50 (352 págs.)

Traz a história de três jovens que abriram mão de altos salários e começaram seus negócios, além de "regras de ouro" para ser um empreendedor de sucesso.

por MARIA PAULA AUTRAN

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