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Cifras & Letras

Crítica Jornalismo

Relato instiga leitor ao 'dar rosto' a chineses que adotaram a África

Livro de jornalista norte-americano revê relação social e econômica entre China e africanos por ótica imigrante

DOUGLAS GAVRAS DE SÃO PAULO

"Na China, eu não era ninguém. Você acha mesmo que lá eu poderia ter um carro como este?", diz o empresário que vive na Namíbia. Em Moçambique, a chinesa dona de um mercadinho lembra que não sabia o que esperar da África ao deixar seu país, mas "precisava sobreviver".

Histórias assim dão vida a "China's Second Continent" ("O Segundo Continente da China", em tradução livre), livro do americano Howard W. French, 56, lançado nos Estados Unidos em maio.

Por meio de personagens reais, que deixaram a China em busca de trabalho e oportunidades na África, o jornalista conta em seu livro como pessoas de origens e culturas tão distintas convivem.

Ex-chefe da sucursal do jornal "The New York Times" em Xangai, French atualmente é professor de jornalismo na Universidade Columbia, em Nova York, e também foi correspondente na África.

No continente, dando nomes e histórias às estatísticas, ele percebeu que o número de imigrantes chineses vivendo hoje por lá é muito maior do que as estimativas oficiais, de 1 milhão de pessoas.

French relata seu encontro com algumas delas, como o chinês que se tornou magnata do comércio de cobre na Zâmbia e com o comerciante que fez fortuna no Senegal e lhe lembrou que nem todas as histórias têm finais felizes.

"Os comerciantes me contam histórias de aborrecimentos com a polícia, agentes alfandegários e criminosos. E todos têm na ponta da língua uma anedota sobre amigos que retornaram à China com uma mão na frente e outra atrás", relata o autor.

UMA LONGA MARCHA

Na segunda metade do século 20, o governo comunista enviou dezenas de milhares de operários e camponeses da China à África, em uma tentativa de reforçar laços com os países africanos que emergiam do colonialismo.

Depois da Guerra Fria, na década de 1990, a ideologia deu mais nitidamente lugar aos interesses econômicos.

Dados do relatório de cooperação econômica divulgado em 2013 pelo governo chinês mostram que o comércio com os africanos se expandiu. Em 2012, o volume total atingiu US$ 198,5 bilhões, um aumento de 19,3%, na comparação com o ano anterior.

Aos chineses, a África exporta sobretudo recursos naturais, como petróleo, ferro, cobre e madeira --que servem para alimentar as fábricas do gigante do leste. No caminho inverso, a China vende aos africanos de manufaturados a caminhões e investe em obras de infraestrutura.

Para French, o futuro da relação da China com os países africanos passa pela forma como esse Exército de imigrantes movimenta a economia do continente. E alguns conflitos são inevitáveis.

"Na China, a proteção ambiental e as leis trabalhistas são frouxas. Os recém-chegados têm pouco cuidado com a natureza. Da mesma forma, empregadores chineses seguem práticas abusivas."

SALTO ADIANTE

Espécie de "eldorado" chinês, o continente africano também está na mira de empreiteiras e mineradoras brasileiras, que veem nos asiáticos uma barreira para a conquista de negócios na África.

No livro, o autor comenta que os chineses não estão de olho apenas nos recursos naturais africanos. Eles são os maiores investidores em projetos de infraestrutura, superando o Banco Mundial em recursos disponibilizados.

French lembra que uma geração de chineses vê, hoje, a África como um destino que ultrapassa os interesses do Partido Comunista. Para além dos planos estatais, centenas de imigrantes vão a esses países por conta própria, em busca de uma vida melhor.

Para o autor, o número de chineses na África aumenta à medida que crescem suas raízes locais, cada vez mais profundas. "Eles servirão de intermediários entre seus países de adoção e a China."

"Esses chineses recém-chegados vão se tornar os agentes de novas redes de finanças, do comércio, de investimento e de cultura, tudo isso fluirá para fortalecer a relação entre China e África."

CHINA'S SECOND CONTINENT
AUTOR Howard W. French
EDITORA Knopf (Random House)
QUANTO US$ 17,68 (na Amazon, cerca de R$ 39,15; 304 págs.)
CLASSIFICAÇÃO bom


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