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Perfil - Thomas Griesa

Calote na balança

Decisão sobre 'default' da Argentina está nas mãos de juiz octogenário que cuida do caso há 13 anos e perdeu paciência com país e credores

RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Visivelmente impaciente, o juiz Thomas Griesa reclamou, em audiência no fim de junho, que os advogados da Argentina e de seus credores, com seus reiterados pedidos, não o deixavam tirar seu recesso de verão. "Eu deveria estar em férias, mas vim para o tribunal", resmungou.

Griesa, 83, é o responsável por colocar a presidente Cristina Kirchner na berlinda.

Graças a uma decisão do juiz, que impediu a Argentina de pagar aos credores que aceitaram receber só 30% do devido antes de pagar aqueles que rechaçaram a renegociação e abriram um litígio, o país tem até o próximo dia 30 para fechar um acordo.

Caso contrário, dará outro calote em toda sua dívida.

Nesta terça (22), Griesa volta à Corte para conduzir audiência sobre seis pedidos de esclarecimentos feitos pelas partes envolvidas.

A Argentina também deixa em suas mãos seu próximo passo: diz que só negocia um acordo com o que chama de "fundos abutres" (por recomprarem títulos de dívidas à beira do calote) se a execução da sentença for suspensa.

Advogados e lobistas que acompanham o caso disseram à Folha que o juiz "perdeu a paciência" com o país.

Nomeado pelo presidente Richard Nixon há 42 anos, Griesa está há 13 envolvido com o calote argentino --desde que, em 2001, um pequeno grupo de credores (8%) não aceitou a reestruturação e entrou na Justiça.

A impressão dos advogados é confirmada pela atitude de Griesa no tribunal.

Na audiência mais recente, em 27 de junho, ele mal deixou o advogado da Argentina, Carmine Boccuzzi, falar. Criticou publicamente suas cartas à Corte pedindo a suspensão da da sentença.

"Isso não é jeito de enviar um pedido a um tribunal, não se pode simplesmente jogar uma frase numa carta", disse o juiz antes de dizer "não".

Cerca de dez dias antes, em outra sessão, Griesa afirmara não ter sido convencido pela "boa-fé" de Cristina Kirchner. "Ela não me passou confiança sobre sua boa-fé em pagar todas as suas obrigações. (...) Ajudaria se ela não tivesse falado em extorsão' [pelos credores]."

Em novembro de 2012, Griesa já dizia "não saber quais eram as intenções do governo argentino".

A Casa Rosada reclama que a Justiça americana está interferindo em assuntos internos, deixando o país perto de uma convulsão social, e acusa o magistrado de favorecer os "fundos abutres".

Em 2010, o então ministro de Economia e hoje vice-presidente, Amado Boudou, chamou Griesa de "embargador serial". O representante do país no tribunal, Jonathan Blackman, já chegou a gritar na corte com o juiz, que respondeu à altura.

Algumas decisões de Griesa sobre o caso, no entanto, favoreceram a Argentina.

Ele recusou um pleito dos credores, que queriam cobrar a dívida do Banco de La Nación, em 2009. Tampouco aceitou o confisco das reservas internacionais do país.

Nos EUA, os juízes recebem mandatos vitalícios para que não fiquem sujeitos a pressões externas. Nascido em Kansas City, no Missouri, em 1930, Griesa não dá mostras de se intimidar. Já atuou em casos polêmicos contra sindicatos, a indústria do tabaco, a Prefeitura de Nova York e até o FBI (polícia federal).

Ele devotou boa parte da vida à magistratura. Depois de se formar em Harvard e se pós-graduar em Direito em Stanford, deixou uma banca renomada para se tornar juiz.

Griesa também não parece se importar com o bombardeio dos dois lados no caso.

Paul Singer, dono do NML, um dos credores da Argentina, custeou uma campanha de lobby para expor nos EUA os desmandos de Cristina.

Pessoas que acompanham o processo dizem que a Argentina errou na condução do caso, preferindo o conflito. O país tinha bons argumentos, mas deixou a situação chegar ao limite.

A Suprema Corte refutou duas apelações feitas pelo país. É um sinal de força para Griesa, que não tem dado sinais de recuar. Se os argentinos não cederem, o juiz octogenário parece não hesitar em levá-los de novo ao calote.


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