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O Brasil que trabalha

Máquinas e crise cortam vagas no campo

Setor agropecuário foi o único no país com saldo negativo de contratações com carteira assinada entre 2007 e 2013

Maior complexidade dos equipamentos agrícolas exige mais capacitação dos funcionários e faz subir a sua remuneração

ÉRICA FRAGA INGRID FAGUNDEZ DE SÃO PAULO

O setor agropecuário foi o único que demitiu mais do que contratou funcionários com carteira assinada entre 2007 e 2013.

O saldo de vagas geradas na agricultura, na pecuária e na pesca ficou negativo em 15,7 mil no período, mostram números levantados pela Folha nas bases de dados do Ministério do Trabalho.

A mecanização agrícola e a crise vivida pelo setor de açúcar e etanol são as principais causas dessa tendência de eliminação de vagas.

Só o setor sucroalcooleiro eliminou mais de 50 mil vagas no período. A agropecuária e culturas como as do café e de árvores frutíferas também demitiram mais do que contrataram.

Essa tendência foi apenas em parte compensada pela maior quantidade de trabalhadores em áreas como a da mecanização agrícola (como operadores de colheitadeiras) e a avicultura.

NOVO PERFIL

A mudança do perfil do trabalhador do setor ocorre há décadas. No país, a produção de máquinas agrícolas começaram nos anos 1960 --e eram usadas na cultura de grãos.

Mas, nos últimos dez anos, elas intensificaram sua presença nos plantios de café, cana e laranja, que resistiam à colheita mecanizada porque os equipamentos para esses cultivos eram lentos e caros.

Com o avanço da tecnologia, a troca de trabalhadores por máquinas já atinge todos os segmentos agrícolas.

A mecanização é impulsionada pela busca por maior eficiência. "Na hora de investir, o produtor vai pensar no máximo de mecanização para aumentar a produtividade", diz José Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro.

Mas a falta de mão de obra especializada e o aumento do custo do trabalho também impulsionam a mecanização.

Segundo empresários do setor, a migração do campo para a cidade e a perda de trabalhadores para setores como construção civil acentuaram a dificuldade de encontrar mão de obra para operar máquinas avançadas.

"No Centro-Oeste e em outros Estados próximos, a escassez é grande. Disputa-se um operador com o setor de serviços", diz o diretor de marketing para América Latina da fabricante de equipamentos Case IH, Rafael Miotto.

A capacitação requisitada dos trabalhadores tem acompanhado a evolução dos equipamentos. Isso vem elevando as remunerações. Um operador de trator pode chegar a ganhar R$ 10 mil por mês.

O preço de tratores e colheitadeiras também contribui para a preocupação com a formação.

"Uma máquina de R$ 1 milhão substitui de 400 a 500 pessoas. Você não vai colocar qualquer um para operá-la", diz Daniel Carrara, secretário-executivo do Senar (Serviço de Aprendizagem Rural).

Com obstáculos para encontrar empregados qualificados, as empresas realizam seus próprios cursos. Entidades agrícolas também têm projetos, como o RenovAção, parceria entre a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), organizações e companhias da cadeia produtiva.

A modernização do agronegócio contribui para a demanda por serviços como pesquisa e desenvolvimento.

Segundo o economista Jorge Arbache, da Universidade de Brasília (UnB) e do BNDES, a tendência é positiva, pois incentiva o aumento do emprego qualificado.

Se, por um lado, o cenário beneficia o trabalhador com mais conhecimento, por outro, prejudica os empregados de posto mais baixo, principalmente os que forem demitidos a partir de agora.

Diferentemente dos que foram substituídos por máquinas nos últimos anos e migraram para outros setores, quem sair neste momento terá que lidar com a desaceleração do mercado de trabalho. Para Hausknecht, da MB Agro, será possível ver impacto até então menos evidente da mecanização. "É uma oferta que vai fazer falta."


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