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Benjamin Steinbruch

O crucial em 2012

A presidente Dilma, como prometeu seguidas vezes, terá de praticar a austeridade fiscal

Dilma Rousseff completou domingo seu primeiro ano na presidência da República. Logo após sua posse, dissemos neste espaço que o grande desafio dela na área da economia seria levar o Brasil para o mundo dos juros civilizados, sem perder, entretanto, as conquistas das duas administrações anteriores.

Ao chegar à presidência, em 1995, Fernando Henrique Cardoso enfrentou seu desafio de colocar o país no caminho da estabilidade. Foi bem-sucedido em seus oito anos nesse aspecto, mas a economia brasileira, livre da inflação galopante, apresentou baixos e frustrantes níveis de crescimento da produção -média de 2,5% ao ano- e do emprego.

Lula enfrentou o desafio de acelerar o crescimento econômico sem perder a conquista do controle da inflação. Teve sucesso também e conseguiu aumentar a taxa de crescimento: o Produto Interno Bruto médio expandiu-se 4%. Foi um ritmo ainda aquém do verificado nos demais países emergentes com os quais o Brasil se compara internacionalmente, mas suficiente para ampliar de forma significativa a oferta interna de empregos.

Teria Dilma vencido seu grande desafio no primeiro ano de mandato? Como os dois presidentes anteriores, ela alcançou sucesso, mas parcial. Nosso juro básico está ainda em 11% ao ano, uma das taxas nominais e reais mais altas do mundo, embora o Banco Central, numa atitude corajosa que contrariou o mercado, tenha feito três reduções da Selic a partir de agosto. Apesar disso, o alto nível dos juros levou o país a gastar no ano passado quase R$ 240 bilhões com o pagamento do serviço da dívida.

O sucesso parcial se explica por duas razões. Primeiro, porque não se poderia mesmo fazer um corte brusco na taxa de juros, uma vez que isso traria certamente um grande trauma ao mercado financeiro, acostumado durante longos anos com taxas suculentas -seria como tirar a droga abruptamente de um viciado. Segundo, porque a situação internacional apresenta grande turbulência, que interfere na situação interna.

Um balanço desse primeiro ano do governo Dilma, na economia, portanto, mostra que a administração caminhou na direção certa. Talvez a elevação dos juros do primeiro semestre tenha sido um pouco precipitada. Esperava-se um aquecimento econômico muito forte, o que não se deu na prática. A bomba monetária trouxe o PIB para zero no terceiro trimestre. Muito antes do mercado financeiro, porém, a autoridade monetária enxergou o desaquecimento e começou a cortar juros, em agosto.

Como se viu nos últimos meses, a crise da Europa é grave. Infelizmente, todas as previsões indicam uma recessão nos países da União Europeia e fraco crescimento nos Estados Unidos. Dilma termina seu primeiro ano, então, com o mesmo desafio enfrentado por Lula em seu último exercício. Ela precisa apostar no mercado interno, estimular o consumo e manter o nível de emprego, que ainda é bastante satisfatório

-o desemprego era de 5,2% em novembro, o menor desde que o IBGE iniciou a atual série estatística, em 2002.

Mas a continuidade da redução dos juros agora virou crucial para o sucesso do segundo ano da administração Dilma. Ela terminou 2011 com o PIB crescendo apenas 3%, se muito, e tem como meta elevar essa taxa para 5%. Os juros são o principal combustível financeiro da economia em qualquer lugar. Ainda que muitas empresas consigam taxas favorecidas em créditos oficiais para investimento, o nível da taxa básica espalha pela economia um "jurismo" que não estimula aplicações em projetos produtivos.

Dilma, como prometeu seguidas vezes, terá de praticar a austeridade fiscal, com cortes de gastos correntes e preservação de investimentos públicos, principalmente em obras de infraestrutura.

De positivo, temos uma mudança cultural na administração da política monetária, que passou a olhar agora não apenas para a o risco inflacionário, mas também para o risco recessivo.

As inúmeras incertezas que vêm do exterior não podem amedrontar o país. É preciso manter a ousadia em busca de um índice elevado de expansão da produção e do emprego, independentemente do que vai ocorrer na Europa e nos Estados Unidos neste novo ano.

BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna.

bvictoria@psi.com.br

AMANHÃ EM MERCADO:
Alexandre Schwartsman

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