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2º banqueiro mais rico do mundo, Safra troca iate por discrição, cautela e banana

SAMANTHA PEARSON DO "FINANCIAL TIMES"

Alguns bilionários brasileiros são conhecidos por seus elegantes iates, outros por suas jovens mulheres com silicone e pelo seu estilo de vida extravagante. A marca registrada de Joseph Safra, no entanto, sempre foi o silêncio.

Joseph, 75, judeu sefardita que chegou ao Brasil do Líbano como imigrante quando tinha pouco mais de 20 anos, é o segundo banqueiro mais rico do mundo, com fortuna de US$ 16 bilhões, mas seu nome é muito pouco mencionado em seu país adotivo.

A família Safra vem fazendo história discretamente no ramo bancário há mais de um século. Por isso, a decisão dele de bancar uma tentativa de tomada de controle acionário de US$ 1,25 bilhão, na semana passada, apanhou de surpresa o mundo dos negócios.

Quando a Chiquita, dos EUA, e a Fyffes, da Irlanda, estavam a ponto de concluir uma fusão avaliada em US$ 1 bilhão, Joseph e a família Cutrale, os maiores produtores de laranja brasileiros, fizeram uma oferta de aquisição da empresa americana por US$ 610,5 milhões mais o valor das dívidas da companhia, que eles assumiriam.

A Chiquita rejeitou a proposta, mas o soberano do império Safra não deve se deixar dissuadir com facilidade.

A oferta capturou a imaginação do mundo dos negócios, para o qual as bananas há muito são fonte de fascínio. Como a família Safra, a fruta foi afetada por guerras, disputas de comércio internacional e escândalos.

MORTE EM MÔNACO

De fato, Joseph nem sempre conseguiu se manter distanciado das intrigas do mundo do poder e dinheiro. Ficou incomodado quando o nome Safra foi vinculado ao investimento de dinheiro de clientes no esquema de pirâmide de US$ 65 bilhões comandado por Bernard Madoff, que desabou em 2009.

Uma década antes, Joseph teve de encarar a morte do irmão Edmond em misterioso incêndio criminoso em sua cobertura em Mônaco.

O império bancário dos Safra foi criado na Síria pelo tio-avô de Joseph, Ezra, que financiava o comércio entre o Ocidente e o Oriente.

Nos anos 1920, o pai de Joseph, Jacob, abriu um banco no Líbano, instilando uma filosofia de cautela que vem tipificando as operações dos Safra desde então.

Mesmo a oferta pela Chiquita, aparentemente uma jogada audaciosa, foi lançada de forma calculada. Os Cutrale, amigos dos Safra, estavam havia muito interessados em uma aquisição, mas só decidiram agir quando um tribunal dos EUA pôs fim a um processo relacionado a transações entre a Chiquita e uma milícia de direita na Colômbia, segundo pessoas próximas da transação.

A cautela que caracteriza os Safra não foi exibida pela família nos anos imediatamente posteriores à Segunda Guerra. Com o surgimento do Estado de Israel e a perseguição aos judeus de Beirute, Jacob buscou refúgio no Brasil.

O irmão dele, Edmond, sete anos mais velho, rapidamente avançou, estabelecendo bancos em Genebra e em Nova York. Os Safra pareciam dotados do toque de Midas. Como apontavam, seu sobrenome em árabe quer dizer "amarelo" e, em uma interpretação otimista, "ouro".

JOIAS

Joseph prefere não gastar seu dinheiro em diversão. Segundo a revista "Época", se o casamento de um executivo seu enfrenta problemas, ele compra joias para a mulher do subordinado para se desculpar por manter o marido no escritório por tantas horas.

O banqueiro bancou a construção de uma luxuosa sinagoga em São Paulo e doou esculturas de Rodin à Pinacoteca. O presente mais extravagante, porém, talvez tenha sido o manuscrito original da Teoria da Relatividade de Albert Einstein, doado ao Museu de Israel em Jerusalém.

Ele nunca demonstrou o interesse de seus colegas bilionários por iates. Para ele, o império bancário Safra é a única embarcação que interessa e deve ser conduzida com cuidado, e não por prazer.

O conselho do pai virou o lema do grupo: "Se você escolhe navegar os mares das finanças, construa um banco como um barco, com força para navegar em segurança em meio às maiores tormentas".


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