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Benjamin Steinbruch

Recessão

Não é necessário esperar o resultado das urnas para combater as doenças da economia, como a recessão

A morte dramática do candidato às eleições presidenciais Eduardo Campos deixou o país perplexo. Foi uma comoção enorme para os brasileiros. A substituição de Campos pela sua vice, Marina Silva, representou um fato novo na corrida eleitoral cujas consequências são objeto de abundantes análises diárias na mídia do país.

Deixo, porém, para os especialistas a tarefa de interpretar os impactos desse fato novo na eleição. Gostaria de abordar um aspecto da economia que me incomoda profundamente neste momento de reta final na corrida sucessória: a produção, principalmente na indústria, está caindo e o país caminha como um cordeiro para a recessão.

Por mais traumáticos que sejam os fatos na área eleitoral, tenho a convicção de que o país não pode ficar parado, perplexo, à espera do resultado das urnas.

Vejamos o que está ocorrendo na indústria de São Paulo. Dados da Fiesp mostram que foram demitidos no Estado 15,5 mil empregados no setor no mês de julho. Em 2012 e 2013, os dados acumulados indicam o fechamento de 88 mil vagas de trabalho. Considerada a estimativa de 100 mil perdas para 2014, teremos um volume impressionante de 188 mil empregos perdidos em três anos. Em termos de oferta de trabalho, é como se duas empresas do tamanho da Petrobras tivessem fechado as portas.

Apesar desses resultados desastrosos da indústria paulista, o Brasil continua com nível confortável de empregos. Até nos surpreendemos com notícias da chegada de milhares de imigrantes, que são absorvidos sem maiores traumas pelo mercado de trabalho nacional. Considerados todos os setores, até julho foram criados 632 mil postos neste ano em todo o país. Mas o número de julho (12 mil vagas) foi o mais baixo para esse mês nos últimos 15 anos.

A tendência, portanto, é de piora na oferta de empregos, mas ainda há tempo para corrigi-la antes que o país como um todo comece a perder postos de trabalho. Várias ações emergenciais podem ser tomadas independentemente de eleições. A primeira seria a redução imediata dos juros, que permanecem em 11% ao ano e representam forte desestímulo aos investimentos produtivos.

Se é possível deixar os recursos aplicados com segurança em títulos públicos que rendem 11% ao ano, por que uma pessoa, em sã consciência, faria um investimento produtivo que nem de longe consegue um retorno dessa magnitude?

Outra seria a desvalorização do real, como consequência da primeira, beneficiando a exportação e dificultando importações.

Medidas para estimular o crédito também não precisam esperar as eleições --na semana passada, algumas já anunciadas pelo Banco Central e Ministério da Fazenda foram muito bem-vindas.

É um equívoco achar que apoios setoriais, como desonerações de folha de pagamentos ou reduções de impostos, sejam inoperantes. Em razão do péssimo desempenho da indústria, algumas análises concluem que desonerações setoriais não servem para nada. Essas análises deveriam considerar o que teria acontecido caso não tivesse havido nenhuma redução de encargos.

O raciocínio óbvio leva à constatação de que esses estímulos foram insuficientes e precisam ser aprofundados para reduzir ainda mais o custo Brasil e dar competitividade ao produto industrial brasileiro. A anunciada manutenção da isenção de PIS/Cofins para computadores, por exemplo, vai nessa direção.

Medidas de estímulo ao setor de veículos podem ser tomadas sem que se incentive o aumento do uso do automóvel nas já engarrafadas vias das metrópoles. Uma delas seria o incentivo à renovação da frota, com ações que levem os proprietários de carros com mais de 10 ou 15 anos a entregar seus veículos em troca de isenção fiscal ou financiamento barato para a compra de um novo.

Essa medida poderia ao mesmo tempo incentivar a indústria automobilística, propiciar a criação de uma robusta indústria de reciclagem de veículos e tirar das ruas automóveis que atentam contra a segurança e a legislação ambiental.

Que venham as eleições, que elas representem uma festa para a democracia e que o eleitor decida livremente seu voto. Mas não é necessário esperar o resultado das urnas para combater as doenças da economia, sendo a principal delas, sem nenhuma dúvida, a recessão.

bvictoria@psi.com.br


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