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Pedro Luiz Passos

A indústria que queremos

Sem uma indústria eficiente e inovadora, será difícil superar as barreiras para acelerar o desenvolvimento

Rapidamente vão se esgotando os instrumentos com que o governo tenta promover o desenvolvimento industrial. Desde o início da crise mundial, em 2008, a indústria acumula queda de quase 5% da produção e encolhe a sua presença no cenário internacional.

No valor gerado pela indústria no mundo, a participação do Brasil, que já foi de 2,7% em 1980, não passa hoje de 1,6%. No total das exportações globais, a fatia brasileira murchou para 0,7% em 2012, conforme os dados mais recentes da Organização Mundial do Comércio, num modestíssimo 29º lugar.

Definitivamente, não é essa a indústria que queremos. Nem a que precisamos. Segundo a consultoria McKinsey, para a renda per capita, atualmente de US$ 12 mil, dobrar nas duas próximas décadas, será necessário que o PIB cresça 4,5% ao ano.

Com isso, na escala global, o Brasil evoluiria do 95º lugar para o 79º. A consultoria estima que, mantida a evolução média do PIB dos últimos 20 anos, de 3,2%, o país cairá para a 104ª posição.

Um setor manufatureiro dinâmico tornaria tal objetivo mais viável. Este é o desafio da indústria: aumentar a produtividade e a competitividade para voltar a ser um dos propulsores da economia.

Com base nessas constatações, o Iedi acaba de concluir o documento "A Reorientação do Desenvolvimento Industrial", em que propõe duas avenidas de atuação para a política econômica. É imperativo que ambas sejam adotadas simultaneamente, com prazos longos de implantação e etapas previsíveis, porém sinalizando desde já, e de forma inequívoca, os novos termos da reorientação industrial.

Em primeiro lugar, não será possível superar a crise da indústria sem a redução do "custo Brasil", o que exige aprofundar os investimentos em infraestrutura e agilizar as reformas tributária e trabalhista.

Embora não seja fator crucial da competitividade industrial, o câmbio também merece atenção especial. Valorizações acentuadas e prolongadas da moeda, como as atuais, servindo de coadjuvantes do controle inflacionário, não podem ser repetidas, pois impedem os ganhos de produtividade e a transformação renovadora.

Em segundo lugar, a atual diretriz da política industrial, baseada em incentivos fiscais e proteção de mercado, precisará transitar para um conceito menos defensivo e mais ativo de apoio à inovação e à produtividade. Faz-se imprescindível articulá-la com outra concepção de comércio exterior, embasada nas seguintes orientações:

Potencializar a internacionali- zação das empresas brasileiras e aproximá-las das cadeias globais de produção;

Integrar a empresa estrangeira atuante no país com a política industrial, de modo a elevar a presença brasileira nas cadeias internacionais de valor;

Promover a reforma tarifária para remover distorções, tal como a taxação excessiva de bens intermediários, e adequar o imposto de importação no médio e longo prazo. A abertura comercial é absolutamente necessária, mas não pode ser abrupta. Seu objetivo é baratear o custo da produção, ampliar a concorrência e aumentar as exportações;

Formular acordos comerciais com os principais blocos comerciais, EUA, Europa e Ásia;

Ampliar a integração produtiva e comercial com a América do Sul em geral, e não apenas com o Mercosul.

Bem-sucedida, a reinserção externa contribuirá para a eficácia do sistema de financiamento e incentivo à inovação, que evoluiu, embora ainda haja muito a fazer.

Só a concorrência vai tirar as empresas da zona de conforto, transformando-as em corporações inovadoras e preparadas para outro salto no Brasil e lá fora.

Outras três ações aprofundariam a reorientação da política industrial:

1) revisão de todos os programas que demandam incentivo fiscal, proteção e requisito de "conteúdo nacional", o que tende a elevar custos e reduzir a produtividade da economia; 2) transparência das informações, com avaliação sistemática dos incentivos concedidos; 3) reforço das políticas horizontais e definição de critérios para a execução de estratégias setoriais, priorizando o desenvolvimento tecnológico.

Trata-se de um processo que requer grande esforço de adaptação, mas só assim teremos a indústria de que o Brasil quer e necessita.


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