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Benjamin Steinbruch

Balela

Indústria é doente quase terminal que precisa, além das reformas conhecidas, da redução da taxa de juros

A indústria cresceu 0,7% de junho para julho. O avanço interrompeu uma sequência de taxas negativas de cinco meses. Nos primeiros sete meses do ano ainda há uma queda de 2,8% na produção.

O crescimento da indústria em julho foi uma boa notícia, mas infelizmente não é possível ser muito otimista com o ritmo da atividade econômica. O país entrou em recessão técnica porque nos últimos dois trimestres o PIB (Produto Interno Bruto) teve variação negativa.

Várias razões explicam o atual momento de desolação econômica no país. Há fatores adversos externos e até políticos influenciando o ambiente, mas existe um que é fundamental: o crédito.

Convido o leitor a observar o que vem acontecendo com o custo do crédito no país. De junho para julho, os juros médios para as famílias, em empréstimos com recursos livres das instituições financeiras, aumentaram de 43% ao ano para 43,2% ao ano. Foi o sétimo aumento mensal consecutivo e a taxa atingiu o maior nível desde março de 2011. Doze meses atrás, essa taxa média era de 36%, mais de sete pontos percentuais inferior à atual.

Infelizmente, já nos acostumamos com os juros cobrados no Brasil. Consideramos normal uma taxa básica de 11% ao ano com o país em recessão, assim como também consideramos normal que um empréstimo na linha de crédito pessoal (não consignado) custe 101,4% ao ano, cerca de 6% ao mês, segundo dados do Banco Central. E essa é a taxa média, o que significa que muitas instituições financeiras cobram juros bem maiores do que esse.

Consideramos normal, ainda, que os juros do cheque especial da pessoa física sejam, em média, de 172,4% ao ano (8,6% ao mês). Qualquer pessoa sã tem de admitir que esses números são escandalosos.

Citei acima os exemplos mais absurdos. Poderia, se quisesse aborrecer ainda mais o leitor com números, citar muitas outras linhas de financiamento que envergonham o país muito mais que a derrota por 7 a 1 contra a Alemanha. Não digo isso por moralismo. Digo porque o crédito é um forte impulsionador da economia e, se ele é caríssimo, como é o caso do Brasil, não tem como crescer, por desinteresse dos tomadores.

É uma balela a história de que o estímulo ao consumo se esgotou como fórmula de ativar a economia e que, agora, a atividade só pode crescer estimulada por investimentos. Os investimentos públicos, principalmente em infraestrutura, dependem só da vontade e da capacidade financeira dos governos e podem criar demanda ampla nas cadeias produtivas, embora sejam a menor parcela dos investimentos no país.

O empresário comum, porém, vive da venda de seus produtos e serviços. Se ele está vendo crescer os estoques e constata excesso de capacidade de produção, por que razão iria investir? Para aumentar sua capacidade ociosa ou para perder ainda mais dinheiro com o carregamento de estoques? A única razão que o levaria a investir seria a crença de que no futuro próximo haverá retomada do ritmo de crescimento econômico. Aí, então, estamos falando de confiança, cujo índice anda naturalmente muito baixo.

Pouco se pode esperar em matéria de alteração desse cenário antes das eleições presidenciais e da posse do novo governo. Seja quem for o eleito, porém, terá de aproveitar o primeiro ano de mandato e a credibilidade adquirida no pleito para fazer as reformas que o país precisa. São as reformas de sempre, que todos sabem de cor: política, fiscal, trabalhista.

Além das reformas, porém, será necessário tomar medidas imediatas e corajosas para baixar os juros, desvalorizar o real e começar a injetar, desde logo, competitividade na economia. A indústria em especial espera ansiosamente por isso. Está abandonada e é doente quase terminal, atacada há longos anos pelos males da desindustrialização. Nos últimos 25 anos, a participação do setor industrial no PIB do país caiu de 25% para 12,5%.

Felizmente, apesar da estagnação e agora da recessão técnica, o Brasil não tem convulsões sociais, até porque ainda vive uma situação boa do emprego --muitos países, especialmente na Europa, enfrentam seguidos períodos de recessão e altos índices de desemprego. Nosso problema é a perspectiva, que precisa melhorar com urgência, antes que comece o processo de desemprego, que desagrega famílias e provoca perigosas perturbações na sociedade como um todo.

bvictoria@psi.com.br


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