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Vinicius Torres Freire

Dólar, Dilma e o duro 2015

Alta recente do dólar não tem a ver com eleição, mas nos lembra dos problemas do ano que vem

A ESPECULAÇÃO com ações baseada em resultados de pesquisas eleitorais induziu "analistas" a chutar que a recente desvalorização do dólar também se deve a idas e vindas da votação de Dilma Rousseff (PT). Se é para chutar, porém, é possível fazê-lo de modo mais informado.

O dólar sobe faz mais de uma semana no Brasil como sobe na média das maiores economias "em desenvolvimento", todas ao que parece sujeitas ao recente zum-zum no mercado financeiro mundial a respeito da alta das taxas de juros nos Estados Unidos.

Parece razoável relacionar a alta do dólar à do rendimento dos títulos da dívida pública americana de dez anos ("juros"), que vem desde o início do mês.

A princípio, essa alta se deve a uma nova onda de especulação a respeito do que o banco central deles, o Fed, vai dizer a respeito de juros ao fim da reunião deste mês, na quarta-feira.

Sim, trata-se da velha história da alta dos juros nos Estados Unidos, que deve acontecer até meados do ano que vem. Em tese, a perspectiva de juros em alta levará mais dinheiro para os EUA, secando um pouco o mar de dólares pelo mundo, o que deve provocar desvalorização da moeda por aqui e nos "emergentes".

Essa história, ou hipótese de história, serve para nos lembrar de problemas reais e imediatos que o próximo presidente do Brasil deverá enfrentar.

Já não vai ser fácil estabilizar a economia a partir de 2015 (estabilizar: criar condições para a baixa da inflação e de juros, arrumar as contas públicas, dar jeito na distorção de vários preços básicos). Pode ser que o próximo presidente tenha de fazê-lo em meio a um ligeiro tumulto na finança mundial (devido à mudança na economia americana). Pode ser. Ninguém sabe.

A tarefa fica um tanto mais difícil, política e economicamente, porque o deficit do governo está em alta. Em 3,84% do PIB, está chegando perto da situação de 2006 (excluída a da crise aguda de 2009).

Mas em 2006 as contas do governo sofriam o efeito da alta cavalar de juros de 2005; o gasto com juros chegaria a 7,6% do PIB em fevereiro de 2006 (agora está em 5% do PIB). Ou seja, o deficit ora é grande mesmo com menos gastos com juros. Além do mais, o país crescia mais rapidamente, assim como a receita de impostos. Havia mais folga para fazer uma poupança que reduzisse deficit e dívida.

O crescimento de 2014 está estimado em 0,3%. O de 2015, decerto muito chutado ainda, em 1%. Seja como for, a alta da receita do governo será pequena. Não é improvável que a taxa de juros aumente (assim como os gastos com juros), dada a inflação resistente e represada.

Dada tal situação, reduzir o deficit já será complicado. Aumentar gasto, social ou não, fica impossível. O aumento da renda do trabalho será pequeno, se algum, dada a lerdeza econômica. Logo, o clima não vai estar muito bom.

Prometer mundos e fundos, nessa situação, pode criar frustração política. Pode, não é certo que vá. Lula, em 2003, deu nó em pingo d'água, fez um "baita ajuste" e ainda assim manteve um clima de esperança paciente. Mas a gente sabe muito pouco do poder de persuasão do próximo presidente e do nível de tolerância do eleitorado de agora.

vinit@uol.com.br


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